Arena Arcadia – Tribuna Real
O sol começava a se pôr, projetando sombras longas sobre a Arena. O combate entre Sakura e Hikari ainda ecoava na mente de todos.
Hayato observava a arena em silêncio, os olhos fixos nas manchas de sangue que ainda não haviam sido limpas. Ao seu lado, Ayame segurava a mão de Mio, cuja expressão era de puro choque.
— Papai... por que elas lutaram assim? Elas iam se matar.
Hayato demorou para responder. Ayame foi quem falou primeiro, com a voz baixa:
— Porque, às vezes, as pessoas carregam dores que ninguém consegue ver. E acham que só podem se entender… através da luta.
Mio abaixou a cabeça, encostando-se ao peito da mãe.
— Mas a Yumi-san chorou... ela chorou muito...
Ayame acariciou os cabelos da filha, com um sorriso triste.
— Ela sente tudo, meu amor. Todas as dores. Porque ela escolheu carregar o que mais ninguém consegue.
Hayato, enfim, suspirou.
— Ela é a mais forte de todas.
Tribuna dos pilares
Ryuji Minazuki estava sentado, impassível. Seus olhos ainda acompanhavam os fragmentos de pedra no centro da arena — marcas da destruição deixada pela luta de sua filha.
Lucius von Richter, por sua vez, sorria com gosto, apoiado com elegância no encosto da cadeira. O olhar fixo no painel mágico.
— A Sombra quase matou a Minazuki… interessante… mas ainda incompleto.
Ryuji desviou o olhar com desprezo.
— Você transformou sua sobrinha numa fera. Ela não luta — ela morde.
Lucius riu baixo.
— E ainda assim, sua filha caiu.
Ryuji o encarou. Os olhos, frios como lâmina.
— Mas se levantou com mais dignidade do que sua assassina jamais terá.
A pressão mágica que emanou de ambos fez os nobres ao redor prenderem a respiração, e o clima mudar por alguns segundos.
Mas logo cessou.
Praça Central – Portões da Arena
Alunos de todas as classes conversavam com vozes abafadas. Alguns ainda atordoados, outros claramente exaltados.
— Você viu quando a Minazuki caiu?
— E a Richter rindo… como uma psicopata?!
— A Santa correu pra enfermaria! Dizem que ela sente TODA a dor que cura. Como ela aguenta isso?!
Rumores se multiplicavam. Mitos se formavam.
— Dizem que a von Richter usou veneno proibido.
— E mesmo assim, a Minazuki quase venceu!
— Yumi Kazehara… ela é mesmo uma Santa…
Entre os sussurros, os nomes ganhavam peso. Não mais só “alunos”. Mas ícones.
Na enfermaria, o silêncio imperava.
Sakura Minazuki estava sentada. As ataduras leves cobriam parte do torso. A dor havia recuado… mas não o cansaço. Ao seu lado, Yumi Kazehara ajeitava uma toalha úmida em sua testa.
Sakura inspirou fundo, ainda sem olhar.
— Você… me curou de novo.
Yumi sorriu com doçura.
— Eu faria de novo. Mesmo que doesse mil vezes mais.
Sakura fechou os olhos.
— Eu não entendo como você consegue...
— Porque alguém tem que sentir a dor, certo? — respondeu Yumi, tentando manter a voz firme. — Prefiro que seja eu.
Sakura virou lentamente o rosto, encarando-a.
— Por que você curou ela? A Hikari?
Yumi hesitou, olhando para o próprio colo.
— Porque… ela também estava morrendo.
— Ela te despreza.
— Eu sei.
— Ela quase me matou.
— …Eu sei — sussurrou Yumi, mordendo o lábio. — Mas mesmo assim… eu não consigo deixar ninguém morrer. Não importa quem seja.
Sakura ficou em silêncio por alguns segundos. Depois abaixou a cabeça.
— …Eu agora te devo outra.
Yumi sorriu, tímida.
— Eu não mantenho conta…
Foi então que uma risada baixa quebrou o silêncio.
— Tão nobre… tão idiota.
As duas se viraram ao mesmo tempo.
Hikari von Richter estava acordada.
Pálida. Olheiras fundas. O nariz ainda sangrando sob a bandagem. Mas o sorriso sádico? Intacto.
— Minazuki… que droga foi aquela cabeçada? Tô com zumbido até agora.
Sakura cerrou os punhos.
— Cala a boca, sua lunática desgraçada!
— Se eu tivesse acertado meio centímetro mais fundo, você estaria morta!
— E se eu tivesse girado mais rápido, sua cabeça tinha saído voando!
As duas se encararam por dois segundos.
O monitor de mana apitou com um bipe agudo.
Mari, num banco perto da porta, se encolheu atrás de um vaso.
— Socorro. Nem aqui dentro a gente tá a salvo?
Yumi se levantou, ainda trêmula.
— P-parem… se vocês se mexerem de novo eu vou ter que… curar… e eu ainda tô tonta…
As duas lutadoras se calaram.
Pela primeira vez… por dó e respeito por ela.
— Só dessa vez. disse Hikari, virando o rosto.
— Só dessa vez... respondeu Sakura.
Mas ambas pensaram a mesma coisa:
"Ainda não acabou."
Painel de Combate – Arena Arcadia
As luzes de mana projetavam os nomes dos próximos competidores.
Saori Kurosawa – Classe Elite, 1º Ano
vs
Zane Rottwell – Classe Alta, 3º Ano
A plateia murmurava.
— Zane é um dos veteranos mais brutais…
— A Kurosawa? Aquela que venceu com fusão quádrupla?
Na beira da arena, Saori surgia em silêncio.
O coração acelerado. As mãos suadas. Mas o olhar… calmo.
Ela apertou o grimório contra o peito e sussurrou:
— Não vou… perder.
Dessa vez, não tremia.
“Se não confia em si mesma… confie em mim.”
Ela sorriu de canto.
— Idiota…
Na arquibancada, Hiro Tanaka a observava em silêncio. Os olhos firmes. Sem orgulho exagerado — apenas certeza.
Mari, carregando Yumi nos ombros, sussurrou:
— Ela não tá tremendo...
— É porque agora... ela acredita nela,"respondeu Yumi, com um sorriso discreto.
Zane já estava posicionado no centro do campo. Alto. Braços cruzados. Um tanque de mana.
— A prodígio da Magia dos Kurosawa… será uma honra.
Saori levantou os olhos. O encaro foi direto.
— A honra… será toda minha.
O juiz ergueu a mão.
— Próximo combate… começa em 3… 2… 1…