Capítulo 117 – Ecos de uma Luta

Arena Arcadia – Tribuna Real

O sol começava a se pôr, projetando sombras longas sobre a Arena. O combate entre Sakura e Hikari ainda ecoava na mente de todos.

Hayato observava a arena em silêncio, os olhos fixos nas manchas de sangue que ainda não haviam sido limpas. Ao seu lado, Ayame segurava a mão de Mio, cuja expressão era de puro choque.

— Papai... por que elas lutaram assim? Elas iam se matar.

Hayato demorou para responder. Ayame foi quem falou primeiro, com a voz baixa:

— Porque, às vezes, as pessoas carregam dores que ninguém consegue ver. E acham que só podem se entender… através da luta.

Mio abaixou a cabeça, encostando-se ao peito da mãe.

— Mas a Yumi-san chorou... ela chorou muito...

Ayame acariciou os cabelos da filha, com um sorriso triste.

— Ela sente tudo, meu amor. Todas as dores. Porque ela escolheu carregar o que mais ninguém consegue.

Hayato, enfim, suspirou.

— Ela é a mais forte de todas.

Tribuna dos pilares

Ryuji Minazuki estava sentado, impassível. Seus olhos ainda acompanhavam os fragmentos de pedra no centro da arena — marcas da destruição deixada pela luta de sua filha.

Lucius von Richter, por sua vez, sorria com gosto, apoiado com elegância no encosto da cadeira. O olhar fixo no painel mágico.

— A Sombra quase matou a Minazuki… interessante… mas ainda incompleto.

Ryuji desviou o olhar com desprezo.

— Você transformou sua sobrinha numa fera. Ela não luta — ela morde.

Lucius riu baixo.

— E ainda assim, sua filha caiu.

Ryuji o encarou. Os olhos, frios como lâmina.

— Mas se levantou com mais dignidade do que sua assassina jamais terá.

A pressão mágica que emanou de ambos fez os nobres ao redor prenderem a respiração, e o clima mudar por alguns segundos.

Mas logo cessou.

Praça Central – Portões da Arena

Alunos de todas as classes conversavam com vozes abafadas. Alguns ainda atordoados, outros claramente exaltados.

— Você viu quando a Minazuki caiu?

— E a Richter rindo… como uma psicopata?!

— A Santa correu pra enfermaria! Dizem que ela sente TODA a dor que cura. Como ela aguenta isso?!

Rumores se multiplicavam. Mitos se formavam.

— Dizem que a von Richter usou veneno proibido.

— E mesmo assim, a Minazuki quase venceu!

— Yumi Kazehara… ela é mesmo uma Santa…

Entre os sussurros, os nomes ganhavam peso. Não mais só “alunos”. Mas ícones.

Na enfermaria, o silêncio imperava.

Sakura Minazuki estava sentada. As ataduras leves cobriam parte do torso. A dor havia recuado… mas não o cansaço. Ao seu lado, Yumi Kazehara ajeitava uma toalha úmida em sua testa.

Sakura inspirou fundo, ainda sem olhar.

— Você… me curou de novo.

Yumi sorriu com doçura.

— Eu faria de novo. Mesmo que doesse mil vezes mais.

Sakura fechou os olhos.

— Eu não entendo como você consegue...

— Porque alguém tem que sentir a dor, certo? — respondeu Yumi, tentando manter a voz firme. — Prefiro que seja eu.

Sakura virou lentamente o rosto, encarando-a.

— Por que você curou ela? A Hikari?

Yumi hesitou, olhando para o próprio colo.

— Porque… ela também estava morrendo.

— Ela te despreza.

— Eu sei.

— Ela quase me matou.

— …Eu sei — sussurrou Yumi, mordendo o lábio. — Mas mesmo assim… eu não consigo deixar ninguém morrer. Não importa quem seja.

Sakura ficou em silêncio por alguns segundos. Depois abaixou a cabeça.

— …Eu agora te devo outra.

Yumi sorriu, tímida.

— Eu não mantenho conta…

Foi então que uma risada baixa quebrou o silêncio.

— Tão nobre… tão idiota.

As duas se viraram ao mesmo tempo.

Hikari von Richter estava acordada.

Pálida. Olheiras fundas. O nariz ainda sangrando sob a bandagem. Mas o sorriso sádico? Intacto.

— Minazuki… que droga foi aquela cabeçada? Tô com zumbido até agora.

Sakura cerrou os punhos.

— Cala a boca, sua lunática desgraçada!

— Se eu tivesse acertado meio centímetro mais fundo, você estaria morta!

— E se eu tivesse girado mais rápido, sua cabeça tinha saído voando!

As duas se encararam por dois segundos.

O monitor de mana apitou com um bipe agudo.

Mari, num banco perto da porta, se encolheu atrás de um vaso.

— Socorro. Nem aqui dentro a gente tá a salvo?

Yumi se levantou, ainda trêmula.

— P-parem… se vocês se mexerem de novo eu vou ter que… curar… e eu ainda tô tonta…

As duas lutadoras se calaram.

Pela primeira vez… por dó e respeito por ela.

— Só dessa vez. disse Hikari, virando o rosto.

— Só dessa vez... respondeu Sakura.

Mas ambas pensaram a mesma coisa:

"Ainda não acabou."

Painel de Combate – Arena Arcadia

As luzes de mana projetavam os nomes dos próximos competidores.

Saori Kurosawa – Classe Elite, 1º Ano

vs

Zane Rottwell – Classe Alta, 3º Ano

A plateia murmurava.

— Zane é um dos veteranos mais brutais…

— A Kurosawa? Aquela que venceu com fusão quádrupla?

Na beira da arena, Saori surgia em silêncio.

O coração acelerado. As mãos suadas. Mas o olhar… calmo.

Ela apertou o grimório contra o peito e sussurrou:

— Não vou… perder.

Dessa vez, não tremia.

“Se não confia em si mesma… confie em mim.”

Ela sorriu de canto.

— Idiota…

Na arquibancada, Hiro Tanaka a observava em silêncio. Os olhos firmes. Sem orgulho exagerado — apenas certeza.

Mari, carregando Yumi nos ombros, sussurrou:

— Ela não tá tremendo...

— É porque agora... ela acredita nela,"respondeu Yumi, com um sorriso discreto.

Zane já estava posicionado no centro do campo. Alto. Braços cruzados. Um tanque de mana.

— A prodígio da Magia dos Kurosawa… será uma honra.

Saori levantou os olhos. O encaro foi direto.

— A honra… será toda minha.

O juiz ergueu a mão.

— Próximo combate… começa em 3… 2… 1…