A luz da tarde entrava filtrada pelas janelas da enfermaria.
Yumi estava deitada, a respiração leve, o corpo ainda trêmulo. Suor colava fios prateados à sua testa, e mesmo após o esforço, ela sorria.
Porque, ao seu lado, em silêncio, estava Hiro Tanaka.
Ele não dizia nada. Mas não precisava.
Sentado em uma cadeira improvisada, as mãos entrelaçadas às dela, Hiro apenas permanecia ali. O calor do toque bastava.
Mari, em pé mais atrás, observava a cena com um sorriso cansado, mas genuíno. Até mesmo Saori, encostada na parede, suspirava — e por mais que cruzasse os braços e olhasse para o outro lado, não saía da sala.
“Idiota... não percebe o que isso significa pra ela?” — pensou Mari, sorrindo de leve.
Yumi abriu os olhos devagar.
— H-Hiro…
Ele a olhou, calmo.
— Ainda com febre?
— U-um pouco…
Ela tentou sentar, mas Hiro a impediu com delicadeza.
— Você desmaiou depois de curar duas pessoas quase morrendo. Fica deitada.
Ela baixou o olhar, envergonhada. Mas…
— Obrigada… por ficar…
Hiro olhou para a janela. Depois, devolveu com simplicidade:
— Eu disse que estaria por perto.
E aquele simples gesto…
Fez o coração da Santa bater rápido.
Yumi sorriu. Um sorriso doce. Leve. Honesto.
"Ele ficou… comigo…"
No leito ao lado…
Sakura Minazuki abriu os olhos lentamente.
A dor que deveria estar lá… não estava.
Mas o cansaço, a exaustão… esses eram imensos. Seu corpo parecia de chumbo.
Ela olhou para o teto, confusa por um instante. Então, o cheiro suave de flores e a brisa da janela a lembraram: estava viva.
Viva… porque alguém a salvou.
Ela virou o rosto, com esforço. E então viu.
Yumi.
Deitada, pálida, exausta… mas com um sorriso no rosto.
E Hiro ao lado dela, segurando sua mão.
Sakura fechou os olhos por um instante.
"…de novo…"
"Ela me salvou… de novo."
A lembrança da dor desaparecendo, da respiração voltando, dos músculos voltando a obedecer… tudo isso sem que a Santa fizesse uma única pergunta.
Sem exigir nada.
Sakura apertou os punhos contra o lençol.
"Eu perdi a luta… e fui salva por ela. Mais uma vez."
Mas não havia raiva em seu coração. Só… respeito.
E um nó difícil de engolir.
"Eu odeio isso… me sentir tão… fraca diante dela. Mas… ela é… linda assim. Forte assim."
Ela olhou para Hiro, ainda sentado ao lado de Yumi.
E pela primeira vez… não sentiu ciúmes.
Sentiu dívida.
Gratidão.
E admiração.
— Yumi Kazehara… — murmurou, com a voz rouca. — Obrigada.
Mari notou Sakura acordando e se aproximou, com um sorrisinho.
— Olha só quem voltou do mundo dos mortos.
Sakura respirou fundo.
— A Hikari…?
— Estável. Ainda inconsciente. Mas viva.
Sakura assentiu lentamente. A imagem da assassina cravando a adaga em suas costelas ainda ardia na memória.
— Aquela desgraçada ainda tá viva? — Sakura murmurou.
Mari riu.
— Yumi não deixaria ela morrer. Mesmo que seja a própria encarnação do caos.
Sakura olhou novamente para a Santa.
E por um segundo… desejou poder ser como ela.
Na sala dos instrutores, o diretor Drayven observava relatórios enquanto dois hologramas da luta passavam simultaneamente em espelhos flutuantes.
Ao seu redor, os instrutores conversavam em vozes tensas:
— Elas foram longe demais.
— Uma luta em um torneio.. virou um massacre!
— E o uso de veneno? Isso deveria resultar em expulsão!
Drayven ergueu uma das mãos, exigindo silêncio.
— Não.
Todos o olharam.
— Isso foi mais do que uma luta. Foi uma revelação.
Ele se virou para o espelho que mostrava Hikari desacordada, com o sorriso ainda congelado em seu rosto mesmo inconsciente.
— Aquela garota... não é normal. precisamos entender quem e porque estamos a abrigando.
Um dos professores pigarreou.
— E a Santa?
Drayven olhou para outro espelho, onde Yumi jazia sob os cuidados de Hiro.
— Ela é o coração desta academia. Mas corações também quebram.
O silêncio voltou.
Drayven fechou os espelhos com um gesto seco.
— Façam os relatórios. Discretos. E não informem a imprensa do reino. Ainda não.
E em sua mente, uma única certeza crescia:
"O caos está se aproximando. E essas crianças... estão no centro dele."