A enfermaria da Academia Arcadia jamais esteve tão silenciosa.
Dois leitos.
Duas figuras inconscientes.
E sangue... muito sangue.
Sakura Minazuki — corpo coberto de hematomas, lacerações e o veneno ainda ativo circulando lentamente por suas veias.
Hikari von Richter — desacordada, com costelas fraturadas, o rosto inchado pela cabeçada, e hemorragia interna.
Na porta, Yumi respirava fundo.
Ao seu lado, Mari observava em silêncio, apreensiva.
— Yumi-chan... você tem certeza...?
Yumi não respondeu. Apertou as mãos trêmulas contra o peito.
“Eu sou a Santa... Eu não posso deixar ninguém morrer.”
Ela caminhou até o leito de Sakura primeiro.
— Minazuki-san…
A espadachim estava pálida. O veneno já alcançava os pulmões.
Yumi estendeu as mãos.
Mana verde e pura surgiu em espirais lentas.
A cura começou.
Mas junto dela…
A dor.
Yumi arqueou as costas. Um espasmo.
O veneno que deixava os pulmões de Sakura entrava em seu próprio corpo por um instante — apenas o suficiente para sentir como se estivesse sendo queimada viva por dentro.
Mari correu para segurá-la, mas Yumi permaneceu firme.
Ela chorava. Gritava. Mas não parava.
— Você sempre… salvou tantas pessoas, Minazuki-san… agora… me deixa salvar você.
Com um último jorro de mana, Sakura arfou — puxando o ar de volta aos pulmões. Estava viva.
Yumi caiu de joelhos por um instante, ofegando, suada e trêmula.
Mas ainda não havia terminado.
Ela virou-se para o segundo leito.
Hikari von Richter.
Mesmo inconsciente, o semblante da garota ainda carregava o eco de um sorriso sádico.
Yumi hesitou.
Ela a temia.
Mas… não podia distinguir ninguém.
— Ela também… precisa ser salva...
Ela se aproximou.
— Por favor… só não acorde enquanto eu estiver curando…
Mana verde, outra vez.
A dor veio diferente.
As costelas fraturadas, o nariz quebrado, o sangue preso nos pulmões… tudo aquilo explodiu dentro de Yumi em uma onda quase insuportável.
Ela gritou. Um som abafado. E ainda assim… continuou.
Mari segurava o braço da amiga, em lágrimas.
— Yumi! Já chega! Você já fez demais!
— Mais um pouco… só mais um pouco…
Lá fora, Hiro Tanaka e Saori Kurosawa corriam pelo corredor.
Eles haviam deixado a arena após Yumi ser chamada. Nenhum dos dois conseguia ignorar o que estava por vir.
Hiro abriu a porta no instante em que Yumi caiu de lado, os olhos entreabertos, ofegando como se tivesse corrido uma maratona.
Mari gritou:
— HIRO!
Ele correu, segurando Yumi nos braços.
— Ela está com febre. Está tremendo.
Mari, com os olhos cheios, disse:
— Ela curou as duas… mesmo a Hikari!
Saori entrou atrás, ofegante.
— Ela o quê?!
Ela olhou para as duas inconscientes nos leitos. E então, para Yumi.
— Essa garota… é doida.
Mas, mesmo resmungando, Saori pegou um pano com água gelada e começou a ajudar a resfriar Yumi.
— Santa idiota…
Enquanto isso, do lado de fora…
Ayame e Hayato assistiam em silêncio à movimentação dos instrutores e enfermeiros.
Mio, com os olhos arregalados, puxou o braço do pai:
— Papai… por que a Yumi-san chora quando cura alguém?
Hayato apertou os lábios, sem saber responder. Ayame o fez por ele.
— Porque… ela sente tudo o que os outros sentem. Todas as dores. Todas as feridas.
— Mas… por que ela faz isso então?
Ayame sorriu, mas com os olhos úmidos:
— Porque ela é a Santa.
De volta à enfermaria…
Yumi abriu os olhos devagar.
Viu Hiro ao lado, segurando sua mão. Mari e Saori discutiam baixinho perto da porta.
— H-Hiro…?
Ele a encarou, sereno.
— Você é a garota mais teimosa que eu conheço.
Ela tentou sorrir, mas a voz falhou.
— Elas iam morrer…
Hiro assentiu.
— E você salvou as duas.
Mari falou do fundo da sala:
— Salvou com dor. Como sempre.
Yumi fechou os olhos.
— Está tudo bem… se for por elas… está tudo bem…
E então, adormeceu.
Pela primeira vez naquele dia… em paz.