Capítulo 115 – A Divina que Sente Dor (Parte 1)

A enfermaria da Academia Arcadia jamais esteve tão silenciosa.

Dois leitos.

Duas figuras inconscientes.

E sangue... muito sangue.

Sakura Minazuki — corpo coberto de hematomas, lacerações e o veneno ainda ativo circulando lentamente por suas veias.

Hikari von Richter — desacordada, com costelas fraturadas, o rosto inchado pela cabeçada, e hemorragia interna.

Na porta, Yumi respirava fundo.

Ao seu lado, Mari observava em silêncio, apreensiva.

— Yumi-chan... você tem certeza...?

Yumi não respondeu. Apertou as mãos trêmulas contra o peito.

“Eu sou a Santa... Eu não posso deixar ninguém morrer.”

Ela caminhou até o leito de Sakura primeiro.

— Minazuki-san…

A espadachim estava pálida. O veneno já alcançava os pulmões.

Yumi estendeu as mãos.

Mana verde e pura surgiu em espirais lentas.

A cura começou.

Mas junto dela…

A dor.

Yumi arqueou as costas. Um espasmo.

O veneno que deixava os pulmões de Sakura entrava em seu próprio corpo por um instante — apenas o suficiente para sentir como se estivesse sendo queimada viva por dentro.

Mari correu para segurá-la, mas Yumi permaneceu firme.

Ela chorava. Gritava. Mas não parava.

— Você sempre… salvou tantas pessoas, Minazuki-san… agora… me deixa salvar você.

Com um último jorro de mana, Sakura arfou — puxando o ar de volta aos pulmões. Estava viva.

Yumi caiu de joelhos por um instante, ofegando, suada e trêmula.

Mas ainda não havia terminado.

Ela virou-se para o segundo leito.

Hikari von Richter.

Mesmo inconsciente, o semblante da garota ainda carregava o eco de um sorriso sádico.

Yumi hesitou.

Ela a temia.

Mas… não podia distinguir ninguém.

— Ela também… precisa ser salva...

Ela se aproximou.

— Por favor… só não acorde enquanto eu estiver curando…

Mana verde, outra vez.

A dor veio diferente.

As costelas fraturadas, o nariz quebrado, o sangue preso nos pulmões… tudo aquilo explodiu dentro de Yumi em uma onda quase insuportável.

Ela gritou. Um som abafado. E ainda assim… continuou.

Mari segurava o braço da amiga, em lágrimas.

— Yumi! Já chega! Você já fez demais!

— Mais um pouco… só mais um pouco…

Lá fora, Hiro Tanaka e Saori Kurosawa corriam pelo corredor.

Eles haviam deixado a arena após Yumi ser chamada. Nenhum dos dois conseguia ignorar o que estava por vir.

Hiro abriu a porta no instante em que Yumi caiu de lado, os olhos entreabertos, ofegando como se tivesse corrido uma maratona.

Mari gritou:

— HIRO!

Ele correu, segurando Yumi nos braços.

— Ela está com febre. Está tremendo.

Mari, com os olhos cheios, disse:

— Ela curou as duas… mesmo a Hikari!

Saori entrou atrás, ofegante.

— Ela o quê?!

Ela olhou para as duas inconscientes nos leitos. E então, para Yumi.

— Essa garota… é doida.

Mas, mesmo resmungando, Saori pegou um pano com água gelada e começou a ajudar a resfriar Yumi.

— Santa idiota…

Enquanto isso, do lado de fora…

Ayame e Hayato assistiam em silêncio à movimentação dos instrutores e enfermeiros.

Mio, com os olhos arregalados, puxou o braço do pai:

— Papai… por que a Yumi-san chora quando cura alguém?

Hayato apertou os lábios, sem saber responder. Ayame o fez por ele.

— Porque… ela sente tudo o que os outros sentem. Todas as dores. Todas as feridas.

— Mas… por que ela faz isso então?

Ayame sorriu, mas com os olhos úmidos:

— Porque ela é a Santa.

De volta à enfermaria…

Yumi abriu os olhos devagar.

Viu Hiro ao lado, segurando sua mão. Mari e Saori discutiam baixinho perto da porta.

— H-Hiro…?

Ele a encarou, sereno.

— Você é a garota mais teimosa que eu conheço.

Ela tentou sorrir, mas a voz falhou.

— Elas iam morrer…

Hiro assentiu.

— E você salvou as duas.

Mari falou do fundo da sala:

— Salvou com dor. Como sempre.

Yumi fechou os olhos.

— Está tudo bem… se for por elas… está tudo bem…

E então, adormeceu.

Pela primeira vez naquele dia… em paz.