O campo de combate ainda tremia com os ecos da última luta, mas na plateia da elite, a atenção já havia se voltado para um ponto específico: Saori Kurosawa, que retornava da arena com o orgulho inflado pela vitória.
A multidão a observava com um misto de respeito e temor. Ela havia mostrado por que era chamada de prodígio. Não mais a bastarda esquecida. Agora, um nome que ninguém ousaria ignorar.
Nas arquibancadas dos nobres, o duque Daichi Kurosawa mantinha os olhos fixos na filha. Sua expressão habitual era fria, dura... mas por um breve instante, um microsorriso surgiu no canto de seus lábios.
"Ela é mesmo... a filha da única mulher que eu amei... Muito bom, Saori."
Lucius von Richter, sentado a poucos lugares de distância, soltou uma risada baixa.
— Olha só, até o velho Daichi sorriu. Que cena rara. Quer uma estátua para registrar o momento?
Daichi sequer virou o rosto. Sua resposta foi gélida como sempre:
— E você... continua confundindo crueldade com controle. Um dia, as sombras engolem seus mestres.
Lucius apenas sorriu.
Já Ryuji Minazuki, estava em silêncio, pensativo.
"Sakura... você não é fraca. Você tem talento, filha..."
Seus punhos cerraram sobre os joelhos.
"Eu só faço o que faço porque não quero ter que te enterrar... igual enterrei sua mãe, Hana."
"Por favor, larga essa espada antes que eu tenha que enterrar você também."
Na arquibancada, Hiro Tanaka esperava, braços cruzados, semblante calmo como sempre. Quando os olhos de Saori cruzaram com os dele, por um momento, seu coração acelerou — e ela odiou isso.
Ele a observou por dois segundos em silêncio, depois disse, de forma simples:
— Foi uma boa luta. Controle perfeito da mana. A forma como fundiu os elementos foi precisa.
Saori cruzou os braços imediatamente, desviando o olhar, a face já avermelhada.
— Tsc… Não que eu quisesse te impressionar ou algo assim! Eu... Eu só não queria perder pra aquele inútil!
Hiro arqueou uma sobrancelha.
— Não disse nada sobre impressionar ninguém.
— Tsc!!! — ela bufou, corando ainda mais. — Idiota!!!!
Mari, que chegou ao lado de Yumi Kazehara, ainda exausta, levou a mão à boca e sussurrou:
— Tsundere de manual. Se jogar água quente, aparece um rótulo.
Yumi tentou conter o riso, mas a expressão feliz não lhe escapava. A vitória de Saori, a presença de Hiro… mesmo com o próprio corpo ainda se recuperando do esforço de curar duas pessoas em sequência, ela se sentia… leve.
Logo depois, os passos ritmados de uma figura conhecida ecoaram na escada lateral.
Sakura Minazuki.
Ela ainda estava pálida. Os movimentos mais lentos que o habitual. Mas ela estava de pé — e com sua postura inquebrável, como se negar fraqueza fosse a única forma de respirar.
— Sakura! — Yumi exclamou com um sorriso aliviado. — Você está... melhor?
— Estou viva, respondeu a espadachim, com a voz rouca e calma. — Graças a você.
Ela tocou brevemente o ombro da Santa, em um gesto de gratidão silenciosa.
Hiro então se aproximou. Seu olhar encontrou o dela com calma, e ele disse, direto:
— Você foi incrível. Enfrentar Hikari até o fim... Não é algo que qualquer um conseguiria.
Sakura piscou.
Ela não esperava aquilo.
Sua mente, ainda latejando das dores, não soube reagir rápido o bastante. E o calor subiu pelo pescoço, alcançando as bochechas num segundo.
— I-isso foi… não é como se eu precisasse ouvir isso, mas… — ela desviou os olhos, tensa — …obrigada.
Mari abriu a boca, depois sussurrou para Yumi de novo:
— É oficial. Ele tem um poder especial. Todo mundo perto dele vira fruta madura.
Yumi mordeu o lábio inferior, rindo baixinho.
No alto da arquibancada, Ayame e Hayato Tanaka, os pais de Hiro, assistiam a tudo boquiabertos.
Mio, com os braços cruzados e um sorriso travesso, sussurrou:
— Pai. Mãe. Eu contei.
— Contou o quê? — perguntou Hayato, ainda atônito.
— Que o Onii-chan tá no triângulo amoroso mais improvável da história do reino.
Ayame suspirou, levando a mão ao peito.
— Meu filho... envolvido com a Santa, a herdeira dos Minazuki e a filha do Duque Kurosawa...
Hayato murmurou:
— E eu achando que ele ia terminar a vida como um monge com uma espada.
— O que foi que a gente criou?
— Um desastre diplomático encantador, respondeu a mãe, pasma.
Mio apenas riu.
— Ele sorri pra uma, treina com a outra, e elogia a terceira. E nem percebe a cara que elas fazem.
Enquanto isso, Hiro se afastava, indo beber um pouco d'água, e as três — Sakura, Saori e Yumi — ficaram lado a lado, cada uma com o rosto rubro, evitando olhar uma para a outra.
Mari suspirou, sem perder a chance:
— Se fosse eu, já tinha puxado ele pelo colarinho. Vocês três são lentas demais.
Saori cerrou os olhos:
— Fique fora disso, empregada.
— Só observando o campo de batalha, senhorita tsundere.
Yumi riu baixinho.
Sakura, por outro lado, apertou o punho. Ela já havia perdido para Hikari 3 vezes. Não podia perder de novo — ainda mais nessa guerra invisível.
Todas estavam pensando a mesma coisa.
"Se eu não agir logo… vou perder ele."
O torneio não havia acabado.
Mas as verdadeiras batalhas… tinham acabado de começar.