Enfermaria – Bloco Secundário da Academia Arcadia
Yumi Kazehara caminhava em silêncio pelos corredores frios da ala médica. O fim da tarde lançava sombras longas pelas janelas altas, e a brisa encantada carregava o som distante da multidão nas arquibancadas.
Ela não estava ali por fraqueza.
Estava por precaução.
A luta de Hikari contra Sakura havia sido brutal. Mesmo com todos os ferimentos tratados, o risco de recaída ou hemorragia era real. E, se algo acontecesse, Yumi não poderia ignorar.
Ela entrou na sala sem bater.
Hikari von Richter estava sentada na cama com uma das pernas cruzadas e uma maçã mordida na mão. O nariz ainda ostentava uma faixa fina, mas os olhos... mantinham o mesmo brilho de desprezo habitual.
— Ah... a Santa chegou. Pensei que estivesse ocupada demais recebendo elogios por salvar o mundo.
Yumi manteve a calma.
— "Vim ver se seus ferimentos estavam reagindo."
Hikari soltou uma risada baixa. Cínica.
— Preocupada comigo, Yumi Kazehara? Que emocionante.
Yumi colocou um frasco de tônico ao lado da cama, sem olhar para ela.
— Eu não me importo com quem é. Se está ferido... eu ajudo.
Hikari mordeu a maçã outra vez. Devagar.
— Você não tem cura.
— Não preciso ser curada.
— Precisa. Sabe por quê? Porque você é um erro. Uma aberração que sente dor pelos outros. Isso não é santidade. Isso é fraqueza.
Yumi respirou fundo. Depois, olhou diretamente nos olhos de Hikari.
— Pode pensar o que quiser. Mas eu prefiro sentir... do que causar.
Hikari sorriu. Um sorriso vazio. Cortante.
— Você sente dor por todos. Eu só sinto quando alguém grita o bastante. E adivinha? Eu adoro quando gritam.
Yumi baixou os olhos. Não havia como alcançar aquela alma agora. Mas...
— Mesmo assim... não vou parar de te salvar.
Ela se virou e saiu.
Hikari ficou em silêncio por um instante, encarando a porta.
"Asquerosa. Miserável. Por que me curou?!"
"Idiota completa... e ainda assim, ela não quebra."
Arena Principal – Última Luta das Quartas de Final
Rina Velmont – Classe Elite, 2º Ano
vs
Leon Kurogane – Classe Alta, 2º Ano
A multidão vibrava em expectativa.
Rina Velmont, espadachim de combate bruto, aura densa e fama de esmagar adversários com força bruta.
Leon Kurogane… era outra coisa. Um espadachim puro. Técnica absoluta. Postura firme.
O juiz deu a ordem.
Rina não perdeu tempo. Ativou a Aura e partiu pra cima com sua espada.
Leon não desviou.
Ele apenas girou o quadril e a chutou.
Rina caiu de joelhos, cuspindo sangue.
Leon recuou um passo. Apenas um.
CLANG!
Outro golpe, seco. Rina caiu de novo.
O juiz correu.
— Rina Velmont está incapacitada! Leon Kurogane vence!
A arena explodiu.
Mari arregalou os olhos.
— Esse cara é sinistro.
Sakura cruzou os braços.
— Preciso, Técnica apurada, Aura Forte, quem lutar com ele terá dificuldades.
Logo após essa fala de Sakura, uma voz ecoou na arena:
Atualização das Semifinais:
1. Hiro Tanaka (Classe Elite, 1º Ano) vs Hikari von Richter (Classe Elite, 1º Ano)
2. Leon Kurogane (Classe Alta, 2º Ano) vs Saori Kurosawa (Classe Elite, 1º Ano)
Assim que os nomes se formaram no painel mágico, o silêncio caiu por um instante.
E então… Hikari apareceu na arquibancada.
Ela andou lentamente até o parapeito de pedra. E quando viu seu nome ao lado do de Hiro Tanaka… ela riu.
Gargalhou.
Alto. Louca. Livre.
— HAH…! Finalmente
A multidão a encarou com desconforto. Alguns veteranos desviaram o olhar.
Mari ficou branca.
— Ela tá rindo... como se fosse Natal.
Yumi, que acabara de chegar, levou as mãos à boca.
Sakura apertou o cabo de Nozarashi com força.
Saori cerrou os punhos.
— Ela queria isso... sempre quis lutar contra ele.
Hikari riu mais um pouco, os olhos ardendo como brasas.
"Saori Kurosawa. Sakura Minazuki. E agora... Hiro Tanaka."
"Os três nomes. Os três brinquedos."
"E agora… o principal."
Hiro viu o painel. Não disse nada.
Apenas se levantou.
Apertou a faixa da espada.
E caminhou.
Sem medo.
Sem hesitação.
Na plateia, Ayame Tanaka apertava a mão do marido.
Hayato permanecia calado. O maxilar travado.
Mio fitava o campo, imóvel.
— Onii-chan… vai lutar contra a doida que envenenou a Sakura-san.
— …E que riu enquanto ela caía — completou Ayame, com os olhos úmidos.
Na tribuna de observação, o diretor Drayven sorria, levemente.
— Tanaka contra von Richter. Instinto contra loucura.
O céu começava a escurecer.
E a semifinal… estava prestes a começar.