Cinco minutos antes do retorno à arena.
O grupo ainda permanecia reunido na praça central. Aquecedores mágicos mantinham o ar morno e aconchegante. Frutas encantadas, doces restauradores e infusões espirituais flutuavam em bandejas, cercando a mesa improvisada de banquete.
Saori Kurosawa, de braços cruzados, fingia desdém com a expressão emburrada.
— Só deixei os criados prepararem isso porque é uma obrigação da minha família. Imagem pública. Tradição. E… e não confundam com gentileza!
Mari, mascando um biscoito encantado, virou-se de lado e cochichou com Shinji e Akane, os fiéis criados de Saori, que assistiam a cena como veteranos de guerra emocional.
— A senhorita Saori tá tão vermelha que parece que tomou chá de pimenta.
— Ela finge que não se importa, mas tá contando quantas fatias de bolo o Hiro pegou. — completou Akane, abanando discretamente o rosto.
Sakura, com os braços também cruzados, observava o exagero da mesa.
— Isso parece um jantar real. Só falta aparecer um bardo narrando nossos pratos.
Yumi sorria com leveza, tomando seu chá calmamente.
— Mesmo que tenha sido por aparência, foi um gesto gentil, Saori-chan.
Saori, ruborizada:
— N-não fiz por ele! Só... não quero que digam que a filha dos Kurosawa deixou um colega desmaiar de fome antes da final. Só isso.
Mari, já do lado da Yumi, sussurrou:
— Tradução: ‘estou apaixonada, mas vou negar até o fim dos tempos’.
— EU OUVI! — explodiu Saori, esbarrando no copo.
Hiro, que até então permanecia calado, finalmente ergueu os olhos do prato.
— Obrigado, Saori.
Ela congelou. Desviou o rosto com violência.
— C-cala a boca… idiota...
Sakura olhou de canto.
— Hmph.
Yumi sorriu. Uma leveza no olhar, como quem apreciava ver os outros felizes ao redor. Ela já estava acostumada com ser bajulada e reverenciada. O que não era comum… era conviver com pessoas que a tratavam como uma igual.
“É bom viver isso. Um pouco de normalidade…”
Hayato e Ayame Tanaka estavam sentados na frente de Hiro, observando as interações com atenção paternal.
Ayame, com um sorriso comedido, comentou:
— Esse grupo é... peculiar. Mas é bom ver o Hiro rindo, mesmo que de leve.
Hayato cruzou os braços, analisando todos.
— Prodígios. Todos. Mas é fácil esquecer isso quando agem como jovens normais.
Mio, sentada entre o pai e a mãe, mastigava um doce de mana colorido. Ela olhou para o irmão e depois para as três garotas ao redor dele — Saori, Sakura, Yumi.
— Onii-chan... você vai mesmo lutar contra a Saori-nee?
— Vou. — respondeu Hiro, com a calma de sempre.
— Vai perder de propósito, pra ela ficar feliz?
Mari engasgou de tanto rir. Saori bateu a mão na mesa.
— O QUÊ?! QUEM DISSE ISSO?!
Hiro apenas respondeu, sem mudar o tom:
— Não vou perder.
Sakura, ao lado, olhou de canto.
— Boa resposta.
Yumi, um pouco mais afastada, mas ainda no grupo, sorria com ternura.
— Obrigada pela comida, Saori-chan. Estava delicioso.
Saori olhou para o lado, desconfortável com o elogio.
— N-não é como se eu tivesse feito, foi a equipe dos meus criados...
— Ainda assim... foi gentil.
Foi então que a vibração mágica se espalhou pelo chão como uma batida distante.
A voz grave e precisa de Caelan Drayven ecoou por toda a praça:
— A pausa está encerrada. Finalistas, dirijam-se à arena. A Final do Torneio Interno da Academia Arcadia terá início em cinco minutos.
O riso cessou.
O clima mudou.
Sakura ficou de pé, ajeitando a postura.
Yumi ficou de pé com ajuda de Mari, que estalava os dedos discretamente como se fosse aquecer pro show.
Akane, com um olhar mais sério, disse:
— Senhorita Saori… boa sorte.
Saori cruzou os braços:
— Não preciso de sorte.
Mas sua perna balançava discretamente sob a mesa.
Ela finalmente ergueu o olhar e encarou Hiro.
E então, encarou Hiro.
— Não se segura.
Hiro assentiu, sério.
— Nem pretendo.
Eles se olharam por mais alguns segundos.
Ali não estavam mais apenas colegas de classe.
Eram prodígios. Eram rivais.
E em poucos minutos… seriam inimigos.
Acima da arena, o céu estrelado se abriu para revelar os nomes da final.
Final do Torneio Interno da Academia Arcadia
HIRO TANAKA vs SAORI KUROSAWA
A última batalha… estava prestes a começar.