Capítulo 133 – Uma Hora de Paz (Parte 2)

A conversa à mesa continuava, com vozes se cruzando em provocações, risos e comentários sobre as lutas passadas.

Mas Hiro Tanaka... estava quieto.

Ele ouvia, respondia com acenos, um ou outro comentário breve. Mas sua mente… estava em outro lugar.

"Aquele cheiro… ainda não sumiu."

"Essa mana pútrida. Corrompida. Viscosa."

"Voidborn."

Sentia como se algo o observasse. Como se olhos que não pertenciam a nenhuma criatura viva o espreitassem. O instinto que ele desenvolveu ao longo de anos de guerra — no outro tempo — berrava.

"Não foi embora. Nunca foi."

"Está aqui. No meio da multidão. Disfarçado. Observando."

"E quando esse torneio acabar… ele vai agir."

Hiro apertou a mão sobre a bainha da espada.

Seus olhos foram brevemente para Yumi. Ainda sorrindo, ainda se recuperando, ainda com o brilho da cura no olhar.

Depois para Sakura, que tentava esconder a timidez atrás da pose séria.

Para Saori, vermelha e brigando com a própria boca por falar demais.

Para Mio, rindo com Mari.

"Eles não sentem. Não conseguem."

"Só eu sinto."

"Essa podridão."

"Essa vontade de possuir um rosto."

Ele sabia que o Doppelgänger precisava de uma identidade. Um rosto humano para roubar. E ali, cercado por prodígios, gênios e lendas em formação, qualquer um deles seria um hospedeiro perfeito.

"Se fosse só poder, ele já teria atacado."

"Mas ele está esperando."

"Talvez a final."

"Talvez… pra pegar o vencedor."

Seus olhos se apertaram. A comida diante dele estava intocada.

"Eu não vou deixar."

"Não de novo."

"Dessa vez, eu vou matar primeiro."

A voz de Yumi o trouxe de volta:

— Hiro? Você não está comendo?

Ele piscou. Depois, fez um leve gesto de cabeça.

— Estou pensando.

Sakura olhou de lado.

— Você sempre pensa demais.

Mari estendeu um doce na direção dele.

— Isso. Come alguma coisa, Tanaka. Tu vai morrer de anemia antes de perder.

Saori resmungou, com as bochechas ainda vermelhas:

— Idiota... se for perder, que não seja de estômago vazio.

Hiro, por fim, pegou o prato. Mas sua mente… não se afastava do perigo.

Ele olhou para a multidão distante, além das grades de contenção da praça central.

Entre tantos rostos…

Um deles era falso.

Um deles era o inimigo.

E Hiro já estava preparado para matá-lo.