??? – Fortaleza Sombria no Vazio
A sala pulsava em tons púrpura e negro. Um grande trono feito de ossos distorcidos e carne cristalizada dominava o centro do salão. Sentado ali, com seis olhos abertos e uma coroa feita de espinhos arcanos, um dos sete generais Voidborns, General Zyr'goth observava as chamas etéreas dançarem em seus espelhos de vigilância.
Um deles... escureceu.
De novo.
— Nhyx'thar… — murmurou com um tom de tédio cruel.
Estava atrasado. Quarenta e três ciclos de lua sem relatório. O último sinal enviado havia sido de dentro de Arcadia.
Zyr’goth tocou o espelho. Um breve impulso de mana corrompida tentou conectar com o selo marcado no doppelganger.
Nada.
— Mortus est…
Ele se levantou, o corpo de duas cabeças se contorcendo para assumir uma forma mais humana.
— Quem matou você, Nhyx'thar? — sussurrou. — E… como?
A muralha escura atrás do trono se abriu. Um exército de sombras, em formação, se ergueu como uma respiração viva. Entre eles, um novo agente se ajoelhou.
— Mestre? — sua voz era feita de ecos rachados.
— …alguém matou meu servo. — disse ele, com a calma de um terremoto contido.
— Quer que despachemos outro infiltrador?
Zyr’goth permaneceu parado.
— Não. Ainda não.
— Mestre?
— Antes de agir com ignorância, devemos entender.
Ele se virou para um altar no fundo da sala — onde sete pilares flutuavam, cada um feito de matéria primordial e runas esquecidas.
Cada pilar representava um general.
Zyr’goth tocou o segundo. Sua própria marca. E falou como quem invocava deuses.
— Se um inimigo em Arcadia é capaz de destruir um agente de Estágio Quatro de Aura…
Sua voz ficou mais baixa.
Mais grave.
Mais lenta.
— ..então talvez algo tenha despertado.
As mãos de Zyr’goth formaram um selo, e no ar surgiu o símbolo da Lua Invertida — o sinal dos Voidborns.
— Enviem um observador.
— Alguém que ouve… e lembra.
O servo inclinou a cabeça.
— Quem?
— Dhal’keth.
A sombra congelou.
— O Cobrador de Memórias?
Zyr’goth sorriu. Um gesto que rachou parte do próprio rosto.
— Que ele vá como um espectro. Um nome. Uma voz.
— Que encontre o responsável pela queda de Nhyx’thar.
— E quando descobrir quem ousou resistir ao Vazio…
Seus olhos arderam em roxo e vermelho.
— ...traga o nome até mim. Com o sangue dele junto.
Academia Arcadia – Portão Norte – Manhã seguinte
O sol havia nascido há pouco quando a família Tanaka se preparava para partir. A carruagem mágica esperava, discreta.
Ayame abraçou o filho com força, lágrimas nos olhos.
— Você… nos salvou com aquele sorriso, Hiro. Agora… tente sorrir por você também.
Hayato apenas assentiu, encostando a testa na de Hiro. Era um gesto silencioso, mas cheio de orgulho.
Mio segurou a mão do irmão e disse:
— Na próxima vez, vem nos visitar, tá?
Hiro sorriu levemente.
— Espero que até lá eu já tenha parado de cair de escada.
Ela riu. Ele bagunçou o cabelo dela.
— Até logo, Mio.
Mais tarde – Jardim Leste – Após as despedidas
Sakura, Saori e Yumi sentaram sob uma das cerejeiras mágicas da academia. A árvore brilhava levemente, como se lembrasse do torneio.
— Ele sumiu por duas horas, disse Saori. — Depois apareceu… todo destruído.
Sakura cruzou os braços.
— Feridas cauterizadas. Hematomas internos. Um dente a menos, Braço quebrado. Isso… não veio de nenhuma luta que vimos.
— Eu curei os efeitos externos, sussurrou Yumi, mas por dentro… ele parecia um campo de batalha. Tinha… resquícios de mana estranha no corpo dele.
As três silenciaram.
Sakura murmurou:
— Ele nunca ficou assim nem contra mim…
— Nem comigo, completou Saori.
— E nem contra a Hikari, disse Yumi.
Os olhares se cruzaram. A suspeita já estava plantada.
"Se não fomos nós… então quem foi?"
Torre Sul da Academia Arcadia – Sala de Observação
O sol já atravessava as janelas altas da torre. A cerimônia havia passado, as comemorações esfriado. Agora… os verdadeiros titãs discutiam o que importava.
Ryuji Minazuki permanecia de pé, braços cruzados, encostado em uma coluna, como sempre. Daichi Kurosawa examinava as gravações dos combates em painéis de luz e mana. E Lucius von Richter… sentado na sombra, pernas cruzadas, o olhar fixo em uma única imagem congelada:
Hiro Tanaka, sozinho no centro da arena, recebendo aplausos de toda Arcadia.
Silêncio pairava como uma espada suspensa.
— Hiro Tanaka, murmurou Daichi. Classe Elite. Primeiro ano. Nenhuma linhagem registrada. Nenhum patrono. E ainda assim…
— …derrotou dois dos seus filhos completou Lucius. Renji e Saori.
Ryuji, direto:
— Treina com minha filha como se fosse professor dela.
— Corrige a Saori como um instrutor, completou Daichi
— E humilhou a minha sobrinha, finalizou Lucius, sem mudar o tom.
A imagem de Hiro congelada no painel parecia encará-los de volta. Uma figura calma. Fria. Inexplicável.
Daichi fechou os olhos por um segundo.
— Ignis, Aqua, Terrae, Ventus, Fulmen, Domínio completo. Uso técnico, A mana dele é tão controlada quanto a de um veterano de guerra.
Ryuji completou:
— E mesmo com aura refinada, ele não se exibe. Luta com propósito. Não com ego.
Lucius permaneceu em silêncio por longos segundos.
Então, quando os dois se voltaram para ele, ele apenas riu.
Baixo. Seco. Sem alegria.
— Vocês estão vendo um herói.
Ele se levantou lentamente, caminhando até o painel. Os olhos fixos em Hiro.
— Eu vejo um problema.
Ryuji estreitou os olhos.
Daichi cruzou os braços.
Lucius manteve o tom casual.
— Filha do Duque da Magia. Derrotada.
— Sobrinha de um Pilar. Ridicularizada.
— Filha do Santo da Espada. Tratada como uma aprendiz qualquer.
Lucius então deu um passo à frente, tocando o painel com um dedo.
— E tudo isso… por um garoto que ninguém conhecia até este ano.
Ele virou de costas.
— Isso não é talento. Isso é ameaça disfarçada de prodígio.
Ryuji resmungou:
— Está paranoico, Richter.
Lucius sorriu.
— Paranoia é o nome que damos à percepção dos que veem antes dos outros.
E saiu da sala.
Mas em sua mente, o pensamento era diferente do que deixou escapar:
“Esse maldito garoto… não é natural. Ele é um erro. Um problema que precisa ser eliminado... antes que comece a tocar os fios certos.”
“E se o que eu senti… naquela noite… for verdade…”
“…então talvez nem um general esteja à altura desse maldito plebeu.”
Lucius desapareceu no corredor escuro.
E nas sombras mais profundas,
o vazio começava a se inquietar.
Dormitório Masculino – Quarto de Hiro– ainda ao amanhecer
Hiro Tanaka estava sentado no chão, como sempre.
Ele olhava para o anel em seu dedo… e pensava.
“Um doppelganger… estágio quatro de aura…”
“Tentei selá-lo com rúnas. Usei tudo que sabia. Ganhei. Mas…”
Ele olhou para o próprio reflexo na janela.
“Quase morri.”
“Foi a primeira vez desde que voltei… que achei que não conseguiria.”
“A primeira de muitas.”
Ele fechou os olhos.
E o rosto de Seravhella - a Mãe dos Dragões apareceu na lembrança.
“Você aprendeu rápido, pequeno humano. Mas você não sabe o quanto ainda é fraco.”
“Fraco pra lutar com reis. Fraco pra proteger quem importa. Fraco pra sobreviver... ao próximo.”
Ele abriu os olhos.
O céu de Arcadia o chamava.