Capítulo 147 – Mentiras Mal Costuradas

Academia Arcadia – Dormitório Masculino – Final da Noite

A janela entreaberta deixava a brisa fresca da noite tocar o rosto de Hiro Tanaka. Ele estava sentado na beira da cama, torso nu, o corpo coberto por faixas e runas semibrilhantes — algumas feitas às pressas, com o próprio sangue, pela mão firme e relutante de uma assassina.

Ele testou os dedos. Depois os ombros.

Ainda doía. Mas já não era como antes.

“Ainda consigo me mover… não muito, mas o suficiente.”

No pequeno criado-mudo ao lado, uma tigela com frutas secas, pão mágico e chá de recuperação. Hikari havia deixado ali. Mas já tinha ido embora sem dizer uma palavra após aplicá-lo com a runa regenerativa.

“Ela me salvou… do jeito retorcido dela.”

E então, passos.

A porta se abriu com um estrondo leve.

— HIRO?!

Era Sakura.

Logo atrás, Yumi correu. Mari entrou quase tropeçando. Saori veio com passos pesados. E por fim… Ayame, Hayato e Mio.

Os olhos de Sakura se arregalaram ao vê-lo naquele estado: faixas manchadas de sangue, respiração lenta, o olhar cansado — mas vivo.

O quarto ficou pequeno num segundo.

Sakura chegou primeiro, ajoelhando ao lado da cama:

— O que aconteceu com você?! Você sumiu por mais de duas horas! — disse Sakura, se aproximando de imediato.

Yumi correu até ele, pegando sua mão.

— Hiro-san… você está tão ferido…! Eu… vou curar—

— Não precisa, Yumi. Foi só… uma queda.

— Isso não é só uma queda — disse Saori, braços cruzados, voz tensa. — Isso tem cheiro de combate!

Mari observava as faixas e murmurou:

— Isso não tem cara de treino. Isso tem cara de campo de guerra.

Ayame tapou a boca ao vê-lo, e Hayato apenas apertou os punhos.

Mio se aproximou em silêncio. Seus olhos fixos no irmão.

— Onii-chan… você foi lutar de novo, não foi?

Hiro ergueu uma das mãos, tentando acalmar todos.

— Calma… calma. Eu só…

Ele hesitou. Olhou Sakura nos olhos.

— Caí da escada.

Sakura estreitou os olhos, incrédula.

— Da escada.

— Da escada mágica. A lenta. Escorregadia.

— E você caiu dela com um buraco no ombro, três costelas quebradas e queimaduras cauterizadas por dentro?!

— Aparentemente… sim.

Sakura suspirou profundamente, claramente não convencida.

— Você é o pior mentiroso de toda Arcadia.

Yumi, no entanto, suspirou de alívio.

Saori desviou o olhar, os braços apertando contra o peito.

Mari sussurrou ao fundo:

— Pior desculpa do ano, Hiro Tanaka.

Mio se aproximou, segurou o rosto dele entre as mãos pequenas e disse:

— Você é um péssimo mentiroso, onii-chan. Mas tudo bem… só não desapareça de novo.

Ele sorriu de leve, mesmo com dor.

— Prometo.

Ao longe, na torre oeste...

Lucius von Richter cerrava os olhos ao sentir uma oscilação estranha na mana residual próxima da ala leste.

Klaus, ao lado dele, apenas observava em silêncio.

Mas nenhum deles falava.

Não agora.

Não sem certeza.

Varanda Oculta – Ala Norte

Hikari estava sentada na beirada de uma varanda alta, o corpo encostado na parede, uma maçã mordida na mão.

O olhar… distante.

Observava Hiro. Cercado por todos.

Yumi ajoelhada. Sakura de braços cruzados. Saori encostada à parede. Mari sentada no chão. Mio abraçada na perna da cama. A mãe. O pai.

Ele no centro.

Mesmo todo quebrado…

Vivo.

"Idiota."

"Você tem tudo isso em volta… e ainda acha que precisa morrer sozinho?"

Ela mordeu mais um pedaço da maçã, devagar.

E então…

Desapareceu nas sombras.