— Kali, você se coloca como culpado por nos derrotar no exame anterior? — pergunta Ícaro olha seriamente para o acusado.
Essa era uma prova realmente estranha, que exigia rápida adaptação caso não quiséssemos ser expulsos. A tensão começou a aparecer nos olhos de Kali, que olhava para Rita com a clara certeza de que não podia prever o resultado deste debate, mas tomou coragem para responder.
— Sim, pelas regras do exame… derrotei vocês em uma luta.
— Então se declara culpado de me bater na última prova? Logo, você é culpado, estou certo, professora? — diz Ícaro sorridente percebendo que o plano inicial deu certo.
— Isso mesmo, Kali foi culpado por admitir que bateu na dupla Ícaro e Lucy. O resultado deste debate é um ponto para a dupla de Ícaro. Próximo debate…
— Calma aí, professora! Isso pode ser chamado de debate? Isso só aconteceu devido à prova, não foi uma agressão fora das regras.
— Acho que você não entendeu o ponto, senhor Kali. Nunca disse que precisava ser ou não contra as regras, disse que o acusador precisava provar a acusação. Ao aceitar que derrotou a dupla de Ícaro, você se colocou como culpado, perdendo assim um ponto. Próxima dupla.
Depois destas palavras duras, um frio na espinha bateu em todas as duplas com mais pontos. O esforço nas duas últimas provas foi retribuído com um prêmio realmente injusto: ser acusado e não ter como se defender.
— Professora nós vamos!
Diz Flávia como se essa prova fosse uma dádiva dos deuses.
— Então a dupla Flávia e Gerard vão acusar qual dupla?
A pergunta tinha resposta óbvia: claro que usariam a mesma narrativa que a dupla de Ícaro contra mim e Rivia.
— Rivia e Gles.
Olho para Rivia e vejo que nem mesmo ela sabia com certeza o que fazer. Então, combinamos de apenas não responder às perguntas, mas no começo do debate:
— Rivia, é verdade que vocês nos derrotaram na prova passada? — pergunta a garota com um leve sorriso.
Apenas mantenho meu silêncio, enquanto Rivia diz:
— Não tenho nada a dizer sobre isso.
Depois o silêncio brotou na sala, mas foi interrompido pela professora.
— Espero que tenham entendido que é um debate, então precisamos que as duas duplas falem. Não responder não é opção; se não responderem, serão considerados culpados.
“Que prova injusta!”, penso observando tal situação. Mesmo em todos os livros que li, nada parecido jamais aconteceu em minha memória, mostrando que cada momento aqui será realmente cansativo.
— Não! Não derrotamos! — responde Rivia com um olhar malicioso, enquanto cruza os braços.
— Se não ganhou de nós… por que tem mais pontos que nossa dupla?
— Mesmo que tenhamos mais pontos que sua dupla, isso não prova que derrotamos vocês.
— Isso é justo, professora? Eles realmente nos derrotaram na prova anterior.
A garota pareceu entrar em pânico com a resposta mentirosa e sem escrúpulos.
— Bem, você diz que ela fez isso, e ela negou. É a palavra dela contra a sua. Isso não prova que ela derrotou vocês. Continuem o debate.
Ao ver a reação, todos se maravilharam com a mentira de Rivia.
Em um teste tão injusto, usar justiça seria um pecado.
— Se você diz que não, mas eu tenho testemunhas que viram acontecer isso. — apontando diretamente para as outras duplas. — Estou certa?
Todas as duplas com menos pontos responderam que sim, sabendo que poderiam usar o mesmo recurso no futuro. Por questões de negócios, as duplas com menos pontos se juntaram como uma só.
Vendo isso, Rivia faz o mesmo com os alunos com mais pontos. Era óbvio que todos entraram no jogo; o importante era sobreviver.
— É, parece que temos um impasse. O número de testemunhas é igual, e mesmo que digam que sim ou que não, isso ainda não prova que a dupla de Rivia derrotou a dupla de Flávia. Última chance para a dupla acusadora tentar provar. — diz Yara.
Flávia parou por 1 minuto, tentando achar algo que provasse a acusação, até que finalmente começou a falar:
— Professora, a senhorita foi juíza da última prova, então pode dizer qual foi o resultado da última prova entre as duplas Flávia e Gerard contra Rivia e Gles?
Se isso fosse possível, todos os que ganharam os embates da prova passada estariam ferrados.
— Como professora, tenho o dever de revelar todos os resultados das provas aos alunos. E, segundo os papéis em minhas mãos, ao fim da prova anterior entre as duas duplas que teve como testemunha o diretor de lutas, Sergei Riov, como testemunha deste documento escrito por mim, a vitória foi de Rivia e Gles sobre Flávia e Gerard.
— Isso prova que eles nos derrotaram na prova anterior, não é?
— Sim, isso prova que vocês foram derrotados por eles na prova anterior, o que faz com que, nesta prova, a acusação de derrota seja provada. Então, Flávia e Gerard ganham 1 ponto, e a dupla Rivia e Gles perde um ponto. Próxima dupla.
Rivia suspirou e olhou para baixo com raiva, enquanto saíamos da cadeira e voltávamos para o local das duplas com mais pontos.
Isso foi apelação! Chamar a professora é quase um hack não escrito. Nesse ritmo, todos os acusados vão se ferrar nessa prova. Realmente não fui de muita ajuda desta vez, mas não é como se tivesse algo que eu conseguisse fazer.
O decorrer da primeira rodada de acusações terminou com todas as duplas com mais pontos sendo derrotadas pela mesma narrativa. Se isso continuasse, estaríamos condenados.
— Ok! Parece que a primeira rodada foi totalmente vencida por quem tinha menos pontos. A segunda rodada será feita de uma forma diferente. Notei que é perda de tempo ficar repetindo a mesma acusação; isso não mostra o potencial de imaginação de ninguém. Então, será proibido fazer a mesma acusação que outra dupla já fez. Fora que não podem mais usar a narrativa das provas. Podem continuar com o debate. Vou dar 5 minutos para vocês montarem um plano antes de começar as acusações. — diz Yara.
Isso aumenta bastante a ideia de que podemos conseguir passar nessa prova.
— O que você acha que podemos fazer nessa prova, Gles? Qualquer ideia está valendo. Tem que ter um furo, uma forma de ganhar, pois, se continuarmos assim, vamos ser a primeira dupla de descendentes da década a cair no primeiro teste.
"Ela não está errada, mas a prova é muito injusta. Se continuar assim, todas as cinco duplas serão colocadas em uma posição de expulsão. Pergunto-me qual será o critério de desempate caso todos percam. Se for pontos de prova, teremos mais chance, mas não dá para confiar nisso. Preciso de mais informações", penso, tentando raciocinar em uma forma de sair deste problema.
— Bem, eles não podem usar a narrativa envolvendo a prova, então será necessário provas de que as acusações são verdadeiras. Acredito que a próxima rodada será menos intensa. Deixe-me tentar liderar a próxima defesa; tenho algo em mente.
— Hm… se você está dizendo, vou confiar na sua palavra. — O lindo sorriso falso da garota era radiante; parecia aceitar qualquer coisa que ajudasse. Perder para ela foi humilhante, mas o que importava era passar na prova.
“Noto um certo olhar de uma garota loira de outra dupla que também ganhou 3 pontos na prova anterior. Não lembrava seu nome, mas sabia de sua dupla: o famoso bastardo da base 5. Não o tinha notado até a prova passada por estar focado nos meus problemas, mas agora era inegável que o motivo de Yara ser nossa instrutora é por ele: Ryu, o filho de uma mulher da casa de prazeres da base 5 com o líder da base 5, ou seja, ele é o irmão mais novo de Yara. Ele não tem direito como descendente; como será que conseguiu uma vaga? Pergunto-me se essa prova foi criada visando expulsar certas pessoas logo no começo, mas eles não fariam isso por apenas um aluno. Essa prova é exageradamente focada em expulsar pessoas talentosas.” Meus pensamentos são interrompidos pela garota de olhos azuis que antes me olhara.
— Am… é… eu queria saber se poderia nos ajudar?
“Ajudar? Já estou precisando de ajuda aqui.” penso vendo a situação.
— Gostaria de saber como… mas também estou precisando de ajuda. — digo mostrando sinceridade.
Neste tipo de situação, confiar em alguém que não seja minha dupla poderia me ferrar.
— Bem, acho que poderíamos nos ajudar, sabe…" — Era notável a timidez da garota. — É… é que notei que eles estão formando um time para saber como seguir na prova. Se nos juntarmos, e pensarmos juntos, as 5 duplas teriam mais lucro do que agirmos individualmente, pois, nesse ritmo, vamos acabar perdendo para as duplas com menos pontos.
Olho para minha parceira, que não diz nada e apenas observa a situação. Logo após, vejo como as duplas com menos pontos realmente se juntaram para seguir uma métrica na prova, buscando ganhar. Então, tomei minha decisão.
— O que tem em mente? — pergunto ainda desconfiando de suas motivações.
— Bem, é… vamos juntar as outras 3 duplas primeiro?
Tomamos a iniciativa e juntamos todas as 5 duplas com mais pontos. Então, a garota loira iniciou a ideia. Tínhamos menos de 4 minutos para formar um plano; se não fosse agora, estaríamos ferrados.
— Bem, como juntei as duplas, quero propor uma ideia. Sabe, a prova é realmente injusta; tenho certeza de que, se soubessem que o debate seria assim, todos teriam perdido nas duas provas anteriores com certeza. Então, pensei que não importa se mentirmos nesta prova, contanto que consigamos contestar as narrativas deles, nós ganhamos.
Ela fez uma breve pausa, e com pouco tempo indaguei:
— Acho que já notamos que precisamos mentir para ganhar. A questão é: como fazer?
— É isso que queria propor. E se eles acusarem e nós criarmos outra narrativa mentirosa para ir contra a proposta deles? Tipo, se eles disserem que sou loira, então basta eu dizer que sou oxigenada falsa e que, na verdade, sou ruiva, por exemplo. Isso já quebraria a primeira narrativa deles.
— Tá, mas e se ele disser que, mesmo assim, no momento você é loira, mesmo que oxigenada? — pergunto, tentando entender a ideia melhor.
— Então digo que é apenas uma ilusão, pois o que importa é minha cor de cabelo natural. — a garota responde, agora com confiança.
— Tá, mas e se ele perguntar para a professora se seu cabelo é loiro ou ruivo no momento, e a professora falar que é loiro?
— Você ainda não entendeu, né? Não importa a palavra nesta prova. Se o acusado não aceitar que a acusação é verdade, contanto que não haja provas… mesmo que a professora dê sua opinião, não importa, pois são necessárias provas.
— Faz sentido, mas se eles conseguirem uma prova, então vamos perder automaticamente.
Analogamente falando, ela estava certa, mas eu já estava ciente disso. Queria saber o que fazer caso eles tivessem uma prova.
— Ele está certo. Bolei um plano: invés de apenas negar, vou dizer que não sei; fugir das perguntas também é uma resposta. — diz Kali de braços cruzados.
Ninguém conseguia engolir como perdemos. Kali não estava totalmente errado, mas fugir da pergunta pode fazer com que percamos ou que a professora intervenha. Vou apenas observar o método dele; com certeza, Ícaro continuará focando neles.
— Certo, os 5 minutos já se passaram. Hora de começar a segunda rodada. Podem ir à frente e começar as acusações. — diz a professora logo após verificar o relógio em seu pulso.
É agora ou nunca. Pergunto-me qual narrativa eles vão escolher.