O sol recortava a superfície do mar em pequenas moedas douradas, refletidas nos vidros do imenso iate navegando pela costa do Hamptons.
Sophie deslizava entre os convidados, sorriso calculado, vestido claro e a sensação de que pisava sobre um tablado de vidro prestes a trincar.
Ao seu lado, o imponente Alex Grant, anfitrião do evento, sustentava a pose de CEO impecável: moreno grisalho, traços definidos, olhar cinza que parecia atravessar as pessoas sem realmente tocá-las.
Sophie ficou verdadeiramente surpresa quando o viu, ao perceber o quanto ele era atraente e diferente de seus clientes anteriores (normalmente homens mais velhos nem tão bem cuidados assim).
Apesar de toda a beleza e sofisticação, havia algo desmoronado nos gestos e olhares de Alex Grant, como se o próprio corpo resistisse ao papel social.
A música ambiente era discreta, o tilintar dos copos competindo com o barulho das ondas.
Sophie observou Alex encher sua taça mais uma vez, os dedos firmes apenas na aparência, enquanto os dois caminhavam pela proa do barco.
O jazz animado da reunião social, lá dentro, os alcançava ali.
— Sabe, ninguém nunca me perguntou o que eu realmente sinto por aqui… nenhuma dessas pessoas que tanto me bajula, nenhuma delas realmente se importa com o que se passa comigo — disse ele de repente, encarando o horizonte, com o vento balançando seus cabelos preto acinzentados. — Eu deveria estar feliz. Tive tudo: uma empresa de sucesso, família, esse tipo de vida que vendem sobre o self made man.
Ele riu, mas o som morreu no ar.
Continuou:
— Até que eu descobri que tudo isso era tudo mentira. Que meu filho que eu criei por 22 anos não é meu… Que eu sou infértil e fui enganado até hoje pela minha mulher…
Sophie respirou fundo, buscando algo entre o conforto e a distância profissional.
— Sinto muito, senhor Grant.
— Por favor, só Alex. Eu não me sinto mais senhor de nada, não depois de tudo — Ele tomou o resto da taça em um gole só. — Contratei você para fazer ciúmes à minha mulher, Sophie, e não me orgulho disso… É mesmo um gesto patético, não? Eu a amava tanto até descobrir…
O silêncio pairou entre eles, denso, enquanto o barco balançava suavemente entre jazz e vento da tarde.
As ondas se abriam sob a proa, olhando por aquele ângulo, Sophie entendeu o real valor do dinheiro. Ser rico é mesmo bom para caramba!
Ela hesitou, olhando para o rosto devastado de Alex, o esforço dele em manter a compostura.
— Às vezes a gente faz coisas assim quando não vê saída — arriscou, num tom calmo, tentando passar conforto. — Eu mesma já fiz… — procurou a palavra mais cuidadosa. — Coisas impensadas.
Alex sorriu de lado, mas era só cansaço.
Sua taça escorregou da mão, tombando no deck.
— Eu realmente não vejo sentido em mais nada, Sophie.
Ela ia dizer alguma coisa, mas antes disso Alex já se afastava de costas, passos largos e inseguros em direção à amurada.
Por um segundo, tudo ficou suspenso: os risos ao fundo, o barulho do mar, o olhar curioso de meia dúzia de convidados distraídos.