Os nove meses seguintes passaram silenciosos no apartamento de Emily, onde Sophie vivia à margem do mundo, ajudando nas tarefas e fugindo de qualquer contato externo.
O parto foi discreto, quase clandestino; Lucas nasceu saudável e, no papel, tornou-se filho de Emily e Brian, irmãozinho da pequena Lily, filhinha de 3 anos de sua irmã e do cunhado.
Sophie acompanhava tudo de longe, coração dividido entre a dor e o alívio. Via o menino crescer cercado de segurança e afeto, protegido pela rotina e pelo anonimato.
Foi dessa forma que ela aprendeu a celebrar de longe a vida que ajudara a trazer ao mundo.
Quatro anos escorreram silenciosos, dissolvendo-se entre as rotinas da casa de Emily e a memória do parto secreto.
Agora, naquele consultório de paredes imaculadas, o tempo parecia suspenso, tão frio e branco quanto as luzes que recortavam o ambiente.
Lucas tinha nos olhos vivos a mesma inquietação de Sophie, mas o corpo franzino já denunciava a fragilidade herdada: o diagnóstico de Imunodeficiência Primária, doença rara que fazia de cada gripe uma ameaça e de cada febre um abismo.
Sophie, postura ereta ao lado da irmã, ouvia a médica detalhar exames, tabelas, prazos e custos do tratamento. As palavras atravessando o espaço como facas, repousando sobre a mesa entre cartões de visita e prescrições.
No corredor, quando as “duas mães de Lucas” deixaram o consultório, o murmúrio do hospital servia de trilha discreta, enquanto o pequeno filho delas se distraía com seus bonequinhos de super-herói.
— Vou tentar encaixar o Lucas como voluntário em algum estudo do setor de pesquisa clínica onde eu trabalho — prometeu Emily, em tom racional, quase profissional. — Talvez ele consiga acesso a um tratamento experimental. Mas, até lá, ele vai precisar seguir com a medicação de alto custo, exames, internações...
Sophie, com o olhar fixo em algum ponto que só ela via, apenas assentiu.
— Eu vou conseguir o dinheiro. Não se preocupe, Em — declarou, serena, como quem promete ao destino que não vai recuar.
Mais tarde, Sophie atravessou a cidade até o endereço imponente e sofisticado da agência de modelos de Victor DeLuca, um nome bastante conhecido (e controverso) em Nova York.
O escritório cheirava a perfume caro e possibilidades sombrias.
Sentou-se diante dele, olhos duros, cansada mas inteira.
— Eu aceito o trabalho — disse, sem rodeios. — Mas só como acompanhante mesmo, nada de sexo, como uma personal friend… Posso ser filha, noiva, amiga de fachada. Para festas, eventos, viagens. Você anuncia e me encaixa onde for preciso, Victor, eu estou disponível para atender o quanto antes.
O sorriso do agenciador era calculado, entre o cinismo e o fascínio, mas Sophie sustentou o olhar.
Durante os movimentos seguintes, envolvendo contratos frios e olhares avaliadores, ela deixava para trás qualquer ilusão: agora era só a saúde e sobrevivência de seu filho que importava.