2-O corpo que se refaz

Naruto se isolou pelos três dias seguintes.

Trancado em seu pequeno apartamento, recusava-se a sair, mesmo quando Iruka bateu à sua porta com preocupação. A cada hora, mais sinais apareciam. O sangramento havia cessado, mas a dor e a sensibilidade no ventre ainda estavam lá. Seus seios cresceram um pouco mais. Seus quadris se alargaram discretamente. Até sua respiração parecia diferente: mais leve, mais silenciosa.

E então, no silêncio da noite, Kurama falou.

Finalmente notou...

A voz ecoou em sua mente como uma brisa morna. Naruto congelou, olhos arregalados.

— K-Kurama? Isso é culpa sua?! O que tá acontecendo comigo?!

A risada da raposa ecoou baixa, quase maternal.

Você é lento demais, kit.

Se acha que tudo isso é só o "Jutsu Sexy", está enganado.

Naruto rangeu os dentes, tentando conter o pânico.

— Você tá me transformando! Por quê?! Eu sou um garoto, eu...

Você nunca foi só um garoto.

Kurama ficou em silêncio por um tempo. E então, como se retirasse um véu que sempre esteve ali, ela revelou a verdade.

Eu sou a metade yin. A essência feminina da raposa de nove caudas.

E você, Naruto... você não é apenas meu jinchuuriki.

Você foi moldado por mim, desde antes de nascer. Mais da metade do chakra com o qual você foi concebido veio de mim. O resto, de sua mãe e de seu pai. Mas eu... fui a base.

Você não é só humano. É parte minha. E sua alma está apenas... voltando ao estado natural.

Naruto sentou-se no chão, sem forças. Era como se mil peças de um quebra-cabeça estivessem se encaixando ao mesmo tempo. Os sonhos. A atração pela forma feminina. A facilidade com o jutsu. A mudança lenta, gradual, mas constante.

Kurama não parecia zangada. Pelo contrário. Sua voz estava... protetora. Quase carinhosa.

Seu corpo está se adaptando ao chakra que sempre foi seu por direito. Um chakra animal, gracioso, selvagem, feminino. Por isso seus sentidos estão mais aguçados.

Você já percebeu, não? O olfato, a audição, sua sensibilidade à vibração do chão.

Você caminha como uma raposa agora. Silencioso, elegante. Sua energia se tornou uma extensão da minha... e por isso está aprendendo a moldá-la com perfeição.

Naruto passou as mãos pelo rosto. Estava mais liso. Sem pelos. Os traços estavam mudando. Sua voz... mais suave a cada dia.

— Então... eu estou virando uma mulher? Porque sou filho de uma raposa fêmea?

Você está se tornando o que deveria ter sido desde o início. A humanidade só viu um lado seu. Eu, como sua outra mãe, estou despertando o outro.

Naruto levou um bom tempo para aceitar aquelas palavras. Mas ao observar-se no espelho, viu algo novo: graciosidade. Não só beleza, mas fluidez. Um tipo de movimento que parecia natural. Instintivo.

Mais tarde, naquele mesmo dia, ele se agachou no telhado para observar alguns ninjas correndo pelas ruas. E sem nem pensar, farejou o ar.

Cheiros distintos. Suor, perfume, medo, ansiedade. Ele podia sentir cada um.

— Isso é... demais...

Ele saltou do telhado sem fazer ruído. Suas pernas reagiram com precisão e leveza. Ele aterrissou com a ponta dos pés, como uma raposa. Sem nem pensar.

Você vai se tornar a primeira verdadeira raposa-humana de Konoha, murmurou Kurama com orgulho.

E quando estiver pronta, ninguém poderá te tocar. Nem mesmo os que zombam de você hoje.

Mas a maior surpresa ainda estava por vir. Ao treinar seu controle de chakra no bosque, Naruto percebeu que conseguia manipular chakra com uma delicadeza absurda. Moldava formas no ar. Criava mini clones com 5% de sua energia. Sentia o chakra de cada inseto ao redor.

Era como se a natureza estivesse viva em sua pele.

— Isso... isso sou eu? Ou é você, Kurama?

É você, kit. Apenas... com meus dons.

Naquela noite, Naruto chorou. Pela primeira vez, não por medo. Mas por entender. Ele não estava sendo punido. Não estava sendo deformado.

Estava se revelando.

Continua...