No castelo, Kay foi recebido pelos guardas.
— Está armado? — perguntou um dos guardas, revistando Kay.
— Só com meu traje — respondeu Kay, calmamente.
— Não precisam fazer isso com ele, deixem-no passar! — disse Emilia, aproximando-se para recebê-lo.
— Me desculpe, pode seguir! — disse o guarda, liberando Kay com um gesto.
Kay estava caminhando quando, de repente, Emilia correu em sua direção, seu sorriso iluminando o ambiente. Com um brilho nos olhos, ela lançou-se em seus braços, e Kay rapidamente a ergueu, girando-a suavemente.
Ela riu, encantada com o momento, enquanto o vento bagunçava seus cabelos. Kay, com um sorriso largo no rosto, a segurou firme, apreciando a alegria dela. Assim que ele a colocou de volta no chão, Emilia o olhou nos olhos, sua expressão cheia de animação.
— Você chegou! — exclamou ela, ainda ofegante.
— Cheguei! — respondeu Kay, ainda sorrindo. — Como você está?
— Estou ótima! Mal posso esperar pelo festival! — disse Emilia, saltitando de alegria
— Temos tempo ainda — disse Kay, com um sorriso tranquilo.
— Eu quero te falar sobre meu treino, e você me conta sobre Mineford! — respondeu Emilia, animada, puxando a mão de Kay.
— Claro — respondeu ele, deixando-se ser guiado por ela.
Eles se sentaram no jardim, e a conversa fluiu por horas, entre risos e histórias.
— Como você disse, estou treinando meu corpo para ser mais flexível. Tem uma empregada aqui que consegue até dobrar o corpo para trás e passar entre as próprias pernas! Ela está me ensinando alguns exercícios — contou Emilia, com entusiasmo.
— Isso é ótimo! — comentou Kay, impressionado.
— Quer ver o que eu aprendi? — exclamou Emilia, os olhos brilhando de empolgação.
— Me mostra! — disse Kay, incentivando-a.
Emilia deu alguns passos para trás, preparando-se para demonstrar o que havia aprendido, seu rosto radiante de felicidade enquanto se concentrava.
— Vou abrir espaguete! — disse ela, animada, preparando-se para o movimento.
Kay, percebendo algo que ela não notara, tentou avisá-la rapidamente:
— Emilia, cuidado com a sua calça, ela pode...
Mas antes que ele pudesse terminar, ela já estava descendo, abrindo as pernas em um espacate perfeito. No mesmo instante, ouviu-se um pequeno rasgo, e o rosto de Emilia se congelou, os olhos arregalados de surpresa e constrangimento. Ela ficou imóvel, sem saber o que fazer, claramente envergonhada pela situação.
Kay, tentando manter a calma e não piorar a vergonha dela, se aproximou cuidadosamente, virando o rosto para o lado para lhe dar privacidade.
— Você conseguiu esticar completamente... Impressionante — elogiou ele, com um tom gentil e sincero.
Sem hesitar, Kay tirou a blusa que usava sobre o traje e a entregou a ela, mantendo o olhar desviado para respeitar o momento.
Emilia pegou a blusa, agradecendo baixinho, com as bochechas rosadas de vergonha.
— Obrigada... — murmurou, enquanto enrolava a blusa ao redor da cintura para cobrir o rasgo da calça.
Ela respirou fundo, ainda corando, e disse, tentando recuperar a compostura:
— Eu... Vou me trocar e já volto!
— Sem pressa! — respondeu Kay, sorrindo, compreensivo.
— Já volto! — repetiu Emilia, desviando o olhar e se retirando apressadamente, quase correndo pelo corredor, com o rosto ainda vermelho.
No meio do caminho, a rainha a avistou passando, claramente apressada e com uma expressão corada e distraída.
— O que aconteceu com ela? — perguntou a rainha, intrigada, enquanto observava Emilia desaparecer pelo corredor.
A rainha seguiu até o jardim, onde encontrou Kay sentado em um banco, murmurando algo para si mesmo com um sorriso leve nos lábios.
— Ela é animada! — disse ele para si.
A rainha se aproximou, observando-o com curiosidade.
— A sua divisão não está ocupada trabalhando? Não me diga que fugiu do serviço — exclamou a rainha, com uma sobrancelha arqueada.
Kay deu de ombros, ainda sorrindo.
— Eu fiz minha parte, o capitão me liberou. Mas, se precisasse, eu seria capaz de fugir sim — respondeu ele, em um tom brincalhão.
A rainha o olhou atentamente.
— Por minha filha? — perguntou ela.
— Sim — respondeu Kay, direto.
A rainha ficou em silêncio por um momento, avaliando-o, antes de perguntar:
— Você a conheceu recentemente. No máximo, se viram duas vezes. Por que estão tão próximos assim?
Kay a encarou, respondendo com convicção:
— Porque somos amigos. Ela é minha aprendiz e eu gosto da companhia dela. Não preciso de mais motivos.
A rainha pareceu pensar sobre a resposta dele.
— É?... Então é por sua causa que ela está se exercitando? Achei que fosse por influência dos soldados na base.
— Isso é bom para a saúde dela. E, um dia, ela vai ser capaz de se proteger sozinha, sem depender de guardas — disse Kay, com confiança.
— E por que acha isso? — indagou a rainha, curiosa.
— A visão dela é boa, é uma garota inteligente, esforçada e aprende rápido. Provavelmente terá aptidão para armas de fogo no futuro — explicou ele.
— O treino que ela faz parece mais voltado para espadas. Por que acha que armas de fogo seriam uma boa escolha? — perguntou a rainha.
Kay explicou, com paciência:
— Os exercícios estão fortalecendo o corpo dela. A flexibilidade que ela está adquirindo com a empregada a ajudará, seja com armas de curto alcance ou em posições de tiro mais difíceis se ela for sniper. E mesmo que minha previsão esteja errada, ainda assim ela terá força e flexibilidade para manusear espadas ou qualquer outra arma que precise.
A rainha esboçou um leve sorriso.
— Interessante. Seu jeito de pensar não é o de um soldado comum.
Kay a encarou, com um brilho determinado no olhar.
— Em algum momento, mental e fisicamente, ela precisará estar preparada para se proteger sozinha, quando a hora chegar.
A rainha suspirou, com um ar de preocupação.
— Espero que essa hora nunca chegue — disse ela.
— Ninguém espera. Porque, se chegar, significa que a capital já terá caído — respondeu Kay, sério. — E, aliás, hoje vou levá-la ao festival. Vou protegê-la, então não precisa se preocupar. Ela vai voltar em segurança.
A rainha arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— Eu não sabia disso.
Kay sorriu.
— Deixe-a se divertir um pouco. Vai ser bom para ela. E, se quiser, pode vir também. Eu protejo a senhora — disse ele, brincando.
A rainha riu levemente, um pouco surpresa pela ousadia dele.
— Me proteger? Que encantador. Traga minha filha de volta antes de anoitecer. Vou pedir para liberarem vocês no portão.
— Tem a minha palavra! — disse Kay, com um sorriso confiante.
A rainha o olhou por um momento, ponderando.
— Não posso confiar minha filha a um desconhecido, mas farei com que alguns guardas estejam por perto. Eles não vão interferir, apenas se certifiquem de que ela se divirta.
— Entendido. Iremos disfarçados para não chamar atenção. Peça o mesmo aos guardas — respondeu Kay, firme.
A rainha assentiu e, ao se afastar, disse:
— É bom que cumpra sua palavra.
— Obrigado! — respondeu Kay, grato.
Ela olhou para ele por cima do ombro, antes de continuar seu caminho.
— É pela minha filha.
Assim que a rainha partiu, Kay recostou-se no banco, pensativo.
"Mãe é mãe, não importa o status ou a raça. Agora, faço parte do Exército, sou líder de esquadrão, tenho amigos, uma namorada incrível e até uma amiga princesa. Vocês ficariam orgulhosos de mim, onde quer que estejam?", pensou ele, olhando para o céu
Mais tarde, naquela noite, Kay se encontrou com Emilia e os pais dela, o rei e a rainha, que estavam de pé junto ao portão.
— Cuida bem dela, ou sua cabeça vai rolar! — avisou o rei, em tom sério.
— Pai, não ameaça ele! — reclamou Emilia, envergonhada.
— Voltem antes das oito — disse a rainha, firme.
— Só cinco horas? — protestou Emilia, com um olhar triste.
— Não reclame! — respondeu a rainha, segurando o riso.
— Tá! — disse Emilia, resignada.
— Vamos? — chamou Kay, já entrando no carro.
— Eu volto antes das oito! — garantiu Emilia, enquanto entrava ao lado de Kay.
— Se divirtam! — disse a rainha, sorrindo.
Assim que o carro partiu, outros veículos discretamente começaram a seguir à distância.
"Estão mantendo uma boa distância para não chamar atenção.", pensou Kay, notando os carros atrás.
— O que foi? — perguntou Emilia, notando o olhar atento de Kay para trás.
Antes que ela pudesse se virar para conferir, ele a interrompeu.
— Você está indo se divertir. Olhe para frente e para os lados, mas não para trás! — disse ele, com um sorriso.
— Tá... — respondeu Emilia, virando-se para frente.
— Coloque estes óculos e esse lenço no cabelo. Vai ser seu disfarce — disse Kay, entregando os itens.
Ela os vestiu e depois perguntou, divertida:
— Como estou?
Kay a olhou e sorriu.
— Perfeita. Agora ninguém vai saber que é você!
Ela corou levemente, sorrindo com timidez.
— Não era isso que eu queria ouvir... — pensou Emilia.
Kay colocou um par de óculos também e comentou, brincando:
— Agora estamos combinando.
Emilia riu.
— O seu nem dá para chamar de disfarce!
— É que eu não preciso. Você é a famosa aqui! — ele respondeu.
Ela concordou, sorrindo.
— Você está certo.
— Quando estivermos lá, me chame de irmão. Assim podemos andar juntos sem chamar atenção. E vou te chamar assim também — sugeriu Kay.
— Vai ser estranho... — murmurou Emilia, mas com um sorriso de canto.
— Que tal se eu te chamar de "Emy"? — propôs Kay.
— Emy? — repetiu ela, surpresa e com as bochechas vermelhas.
— Não gostou? Posso chamar de "irmãzinha querida" se preferir — disse ele, provocando-a.
— Emy está ótimo, obrigado... irmão! — respondeu ela, rindo, ainda corada.
Eles chegaram ao festival e desceram um pouco afastados da multidão, para não atrair atenção.