Capítulo 38: Princesa Emilia!

No castelo, Kay foi recebido pelos guardas.

— Está armado? — perguntou um dos guardas, revistando Kay.

— Só com meu traje — respondeu Kay, calmamente.

— Não precisam fazer isso com ele, deixem-no passar! — disse Emilia, aproximando-se para recebê-lo.

— Me desculpe, pode seguir! — disse o guarda, liberando Kay com um gesto.

Kay estava caminhando quando, de repente, Emilia correu em sua direção, seu sorriso iluminando o ambiente. Com um brilho nos olhos, ela lançou-se em seus braços, e Kay rapidamente a ergueu, girando-a suavemente.

Ela riu, encantada com o momento, enquanto o vento bagunçava seus cabelos. Kay, com um sorriso largo no rosto, a segurou firme, apreciando a alegria dela. Assim que ele a colocou de volta no chão, Emilia o olhou nos olhos, sua expressão cheia de animação.

— Você chegou! — exclamou ela, ainda ofegante.

— Cheguei! — respondeu Kay, ainda sorrindo. — Como você está?

— Estou ótima! Mal posso esperar pelo festival! — disse Emilia, saltitando de alegria

— Temos tempo ainda — disse Kay, com um sorriso tranquilo.

— Eu quero te falar sobre meu treino, e você me conta sobre Mineford! — respondeu Emilia, animada, puxando a mão de Kay.

— Claro — respondeu ele, deixando-se ser guiado por ela.

Eles se sentaram no jardim, e a conversa fluiu por horas, entre risos e histórias.

— Como você disse, estou treinando meu corpo para ser mais flexível. Tem uma empregada aqui que consegue até dobrar o corpo para trás e passar entre as próprias pernas! Ela está me ensinando alguns exercícios — contou Emilia, com entusiasmo.

— Isso é ótimo! — comentou Kay, impressionado.

— Quer ver o que eu aprendi? — exclamou Emilia, os olhos brilhando de empolgação.

— Me mostra! — disse Kay, incentivando-a.

Emilia deu alguns passos para trás, preparando-se para demonstrar o que havia aprendido, seu rosto radiante de felicidade enquanto se concentrava.

— Vou abrir espaguete! — disse ela, animada, preparando-se para o movimento.

Kay, percebendo algo que ela não notara, tentou avisá-la rapidamente:

— Emilia, cuidado com a sua calça, ela pode...

Mas antes que ele pudesse terminar, ela já estava descendo, abrindo as pernas em um espacate perfeito. No mesmo instante, ouviu-se um pequeno rasgo, e o rosto de Emilia se congelou, os olhos arregalados de surpresa e constrangimento. Ela ficou imóvel, sem saber o que fazer, claramente envergonhada pela situação.

Kay, tentando manter a calma e não piorar a vergonha dela, se aproximou cuidadosamente, virando o rosto para o lado para lhe dar privacidade.

— Você conseguiu esticar completamente... Impressionante — elogiou ele, com um tom gentil e sincero.

Sem hesitar, Kay tirou a blusa que usava sobre o traje e a entregou a ela, mantendo o olhar desviado para respeitar o momento.

Emilia pegou a blusa, agradecendo baixinho, com as bochechas rosadas de vergonha.

— Obrigada... — murmurou, enquanto enrolava a blusa ao redor da cintura para cobrir o rasgo da calça.

Ela respirou fundo, ainda corando, e disse, tentando recuperar a compostura:

— Eu... Vou me trocar e já volto!

— Sem pressa! — respondeu Kay, sorrindo, compreensivo.

— Já volto! — repetiu Emilia, desviando o olhar e se retirando apressadamente, quase correndo pelo corredor, com o rosto ainda vermelho.

No meio do caminho, a rainha a avistou passando, claramente apressada e com uma expressão corada e distraída.

— O que aconteceu com ela? — perguntou a rainha, intrigada, enquanto observava Emilia desaparecer pelo corredor.

A rainha seguiu até o jardim, onde encontrou Kay sentado em um banco, murmurando algo para si mesmo com um sorriso leve nos lábios.

— Ela é animada! — disse ele para si.

A rainha se aproximou, observando-o com curiosidade.

— A sua divisão não está ocupada trabalhando? Não me diga que fugiu do serviço — exclamou a rainha, com uma sobrancelha arqueada.

Kay deu de ombros, ainda sorrindo.

— Eu fiz minha parte, o capitão me liberou. Mas, se precisasse, eu seria capaz de fugir sim — respondeu ele, em um tom brincalhão.

A rainha o olhou atentamente.

— Por minha filha? — perguntou ela.

— Sim — respondeu Kay, direto.

A rainha ficou em silêncio por um momento, avaliando-o, antes de perguntar:

— Você a conheceu recentemente. No máximo, se viram duas vezes. Por que estão tão próximos assim?

Kay a encarou, respondendo com convicção:

— Porque somos amigos. Ela é minha aprendiz e eu gosto da companhia dela. Não preciso de mais motivos.

A rainha pareceu pensar sobre a resposta dele.

— É?... Então é por sua causa que ela está se exercitando? Achei que fosse por influência dos soldados na base.

— Isso é bom para a saúde dela. E, um dia, ela vai ser capaz de se proteger sozinha, sem depender de guardas — disse Kay, com confiança.

— E por que acha isso? — indagou a rainha, curiosa.

— A visão dela é boa, é uma garota inteligente, esforçada e aprende rápido. Provavelmente terá aptidão para armas de fogo no futuro — explicou ele.

— O treino que ela faz parece mais voltado para espadas. Por que acha que armas de fogo seriam uma boa escolha? — perguntou a rainha.

Kay explicou, com paciência:

— Os exercícios estão fortalecendo o corpo dela. A flexibilidade que ela está adquirindo com a empregada a ajudará, seja com armas de curto alcance ou em posições de tiro mais difíceis se ela for sniper. E mesmo que minha previsão esteja errada, ainda assim ela terá força e flexibilidade para manusear espadas ou qualquer outra arma que precise.

A rainha esboçou um leve sorriso.

— Interessante. Seu jeito de pensar não é o de um soldado comum.

Kay a encarou, com um brilho determinado no olhar.

— Em algum momento, mental e fisicamente, ela precisará estar preparada para se proteger sozinha, quando a hora chegar.

A rainha suspirou, com um ar de preocupação.

— Espero que essa hora nunca chegue — disse ela.

— Ninguém espera. Porque, se chegar, significa que a capital já terá caído — respondeu Kay, sério. — E, aliás, hoje vou levá-la ao festival. Vou protegê-la, então não precisa se preocupar. Ela vai voltar em segurança.

A rainha arqueou as sobrancelhas, surpresa.

— Eu não sabia disso.

Kay sorriu.

— Deixe-a se divertir um pouco. Vai ser bom para ela. E, se quiser, pode vir também. Eu protejo a senhora — disse ele, brincando.

A rainha riu levemente, um pouco surpresa pela ousadia dele.

— Me proteger? Que encantador. Traga minha filha de volta antes de anoitecer. Vou pedir para liberarem vocês no portão.

— Tem a minha palavra! — disse Kay, com um sorriso confiante.

A rainha o olhou por um momento, ponderando.

— Não posso confiar minha filha a um desconhecido, mas farei com que alguns guardas estejam por perto. Eles não vão interferir, apenas se certifiquem de que ela se divirta.

— Entendido. Iremos disfarçados para não chamar atenção. Peça o mesmo aos guardas — respondeu Kay, firme.

A rainha assentiu e, ao se afastar, disse:

— É bom que cumpra sua palavra.

— Obrigado! — respondeu Kay, grato.

Ela olhou para ele por cima do ombro, antes de continuar seu caminho.

— É pela minha filha.

Assim que a rainha partiu, Kay recostou-se no banco, pensativo.

"Mãe é mãe, não importa o status ou a raça. Agora, faço parte do Exército, sou líder de esquadrão, tenho amigos, uma namorada incrível e até uma amiga princesa. Vocês ficariam orgulhosos de mim, onde quer que estejam?", pensou ele, olhando para o céu

Mais tarde, naquela noite, Kay se encontrou com Emilia e os pais dela, o rei e a rainha, que estavam de pé junto ao portão.

— Cuida bem dela, ou sua cabeça vai rolar! — avisou o rei, em tom sério.

— Pai, não ameaça ele! — reclamou Emilia, envergonhada.

— Voltem antes das oito — disse a rainha, firme.

— Só cinco horas? — protestou Emilia, com um olhar triste.

— Não reclame! — respondeu a rainha, segurando o riso.

— Tá! — disse Emilia, resignada.

— Vamos? — chamou Kay, já entrando no carro.

— Eu volto antes das oito! — garantiu Emilia, enquanto entrava ao lado de Kay.

— Se divirtam! — disse a rainha, sorrindo.

Assim que o carro partiu, outros veículos discretamente começaram a seguir à distância.

"Estão mantendo uma boa distância para não chamar atenção.", pensou Kay, notando os carros atrás.

— O que foi? — perguntou Emilia, notando o olhar atento de Kay para trás.

Antes que ela pudesse se virar para conferir, ele a interrompeu.

— Você está indo se divertir. Olhe para frente e para os lados, mas não para trás! — disse ele, com um sorriso.

— Tá... — respondeu Emilia, virando-se para frente.

— Coloque estes óculos e esse lenço no cabelo. Vai ser seu disfarce — disse Kay, entregando os itens.

Ela os vestiu e depois perguntou, divertida:

— Como estou?

Kay a olhou e sorriu.

— Perfeita. Agora ninguém vai saber que é você!

Ela corou levemente, sorrindo com timidez.

— Não era isso que eu queria ouvir... — pensou Emilia.

Kay colocou um par de óculos também e comentou, brincando:

— Agora estamos combinando.

Emilia riu.

— O seu nem dá para chamar de disfarce!

— É que eu não preciso. Você é a famosa aqui! — ele respondeu.

Ela concordou, sorrindo.

— Você está certo.

— Quando estivermos lá, me chame de irmão. Assim podemos andar juntos sem chamar atenção. E vou te chamar assim também — sugeriu Kay.

— Vai ser estranho... — murmurou Emilia, mas com um sorriso de canto.

— Que tal se eu te chamar de "Emy"? — propôs Kay.

— Emy? — repetiu ela, surpresa e com as bochechas vermelhas.

— Não gostou? Posso chamar de "irmãzinha querida" se preferir — disse ele, provocando-a.

— Emy está ótimo, obrigado... irmão! — respondeu ela, rindo, ainda corada.

Eles chegaram ao festival e desceram um pouco afastados da multidão, para não atrair atenção.