A chuva caía em diagonal quando Leon acordou num cubículo de motel que cheirava a desinfetante barato e velharia. O papel de parede descascado mostrava manchas de umidade em formas que sua mente ainda dopada de adrenalina interpretou como rostos gritando. Seus dedos tremiam ainda - não de medo, mas daquele estranho efeito colateral do Instinto de Sobrevivência que fazia seus músculos vibrarem como cordas de violino após o uso.
O sistema piscava em sua visão periférica:
[ALERTA: CAÇADOR ATIVO]
[Identificado: "O Finlandês" - Especialista em rastreamento]
[Distância atual: 1.2km e aproximando]
Leon engoliu o gosto metálico do sangue em sua boca - devia ter mordido a língua durante a noite. Sua camisa colava nas costas, mistura de suor frio e água da chuva que vazara pela janela trincada. Quando se levantou, o assoalho rangiu como um grito de advertência.
Foi então que o celular queimador que Isabella lhe dera vibrou. A mensagem era curta:
*"Armazém 33. Meia-noite. Pergunte pela Raposa."*
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O distrito portuário à noite parecia um organismo vivo - guindastes se contorcendo como pescoços de dinossauros mecânicos, néon de bares de marinheiros piscando como órgãos bioluminescentes. O Armazém 33 estava escondido atrás de uma cortina de fumaça de chaminés industriais, sua entrada marcada apenas por um grafite de uma raposa com olhos vermelhos que brilhavam no escuro.
Leon bateu num padrão específico - três rápidos, dois lentos - como instruído. A porta abriu alguns centímetros, revelando um olho verde-neon refletindo luz artificial.
"Senha?" voz feminina, rouca de cigarro e noites sem dormir.
"O mercado de ações fecha às quatro," Leon respondeu, a frase nonsense que Isabella lhe dera.
A porta se abriu revelando um espaço que parecia saído de um filme cyberpunk. Monitores cobriam cada parede, exibindo feeds de segurança, códigos binários e... câmeras ao vivo do apartamento de Cromwell? No centro, sentada numa cadeira giratória cercada por uma constelação de latinhas de energético vazias, estava uma garota que não podia ter mais de 1,50m.
Clarisse "Raposa" Nakanome usava um moletom três números maior que seu tamanho, as mangas cobrindo tudo exceto suas pontas dos dedos que voavam sobre teclados. Seu cabelo roxo-platinado estava preso num rabo de cavalo desleixado, mechas rebeldes iluminadas pelos monitores.
"Ah, o menino de recados da Whitford," ela disse sem tirar os olhos das telas. Seu sotaque era uma mistura estranha de japonês e o dialeto áspero das ruas de Lumenford. "Sabe que tem um assassino de 2 metros de altura e tatuagens tribais no seu calcanhar, certo?"
Ela girou a cadeira para revelar um monitor mostrando imagens de segurança de um homem loiro gigantesco examinando justamente o cubículo onde Leon estivera horas antes.
[*Ding!*]
[NOVA MISSÃO: "DIGA NÃO À MORTE"]
➤ Objetivo: Elimine a ameaça do Finlandês
➤ Métodos sugeridos:
a) Emboscada (35% sucesso)
b) Falsificar própria morte (68% sucesso)
c) Recrutar aliados (89% sucesso)
Clarisse estalou os dedos diante do rosto de Leon. "Oi, Terra chamando garoto propaganda? Preciso que você assine isso." Ela girou um tablet mostrando um contrato digital. "50% dos lucros, direitos de imagem e... ah sim, cláusula de não-morte estúpida."
Quando Leon hesitou, ela abriu um novo feed mostrando seu rosto em todas as câmeras de segurança da cidade. "Escolhe rápido. Seu amigo nórdico está a... oito quarteirões?"
Leon pegou a caneta. O sistema atualizou instantaneamente:
[ALIADA RECRUTADA: CLARISSE "RAPOSA" NAKANOME]
[Habilidades: Hacking Nv. 5, Sabotagem Nv. 4]
[Lealdade: 45% (baseado em benefício mútuo)]
Clarisse sorriu, revelando um canino levemente afiado. "Boa escolha. Agora, vamos fazer você desaparecer... só para aparecer de novo onde dói."
Seus dedos dançaram no teclado. Em todos os monitores, imagens de Leon começaram a aparecer simultaneamente em doze locais diferentes da cidade. O Finlandês no monitor principal parou, sua cabeça gigante girando confusa entre as imagens contraditórias.
[*Ding!*]
[PLANO "FANTASMA" ATIVADO]
[Duração: 48 horas]
[Próxima fase: Localizar e neutralizar o Finlandês]
Leon sentou na única cadeira disponível - uma velha caixa de leite invertida - enquanto Clarisse começava a explicar seu plano com termos técnicos que ele mal entendia. O cheiro de café requentado e solda enchia o ar. Lá fora, a chuva batia no telhado de zinco como tambores de guerra.