Capítulo 7: O Fantasma no Sistema

O relógio de bolso do Relojoeiro emitia um tique-taque anormalmente alto no silêncio do café, cada clique parecendo marcar os últimos momentos de ignorância de Leon antes que o véu fosse levantado. O mecanismo ocular do homem girava suavemente, focalizando em algo além do mundo físico.

"O host anterior morreu em circunstâncias... curiosas." O Relojoeiro deslizou uma pasta manchada de sangue através da mesa. Dentro, fotos de um cadáver masculino com marcas de queimaduras elétricas estranhas nos braços. "Daniel Kovács. Húngaro. Vinte e quatro anos. Conseguia prever flutuações do mercado com 93% de precisão."

Leon examinou uma foto onde a vítima segurava um troféu - a mesma pose triunfante que ele próprio adotara ao completar sua primeira grande missão. Seu estômago embrulhou-se ao notar os detalhes:

- O relógio no pulso de Daniel marcava 3:17 AM

- Seus olhos estavam abertos, pupilas dilatadas de terror

- Nas costas da foto, uma mancha de café em forma de olho

[*Ding!*]

[FRAGMENTO DE MEMÓRIA DISPONÍVEL]

[Acessar? (Recomendado: Ambiente Seguro)]

"Como você sabe tanto sobre o sistema?" Leon pressionou, sentindo o peso da pistola sob seu casaco.

O Relojoeiro sorriu, revelando dentes metálicos. "Porque eu o projetei. Bem, minha versão mais jovem." Seu dedo ossudo apontou para a foto do Consórcio. "Seté brincamos de deuses distribuindo essas... ferramentas. Até percebermos que o sistema escolhe os hosts baseado em padrões que nem nós entendemos."

Uma garçonete passou, deixando dois cafés turvos na mesa. Quando a cortina de contas balançou, Leon viu brevemente Clarisse sentada no balcão, disfarçada de turista com uma câmera antiquada - sua rede já estava se movendo.

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O apartamento seguro cheirava a mofo e cobre velho. Leon trancou a porta com três ferrolhos antes de aceitar o fragmento de memória.

A dor foi aguda como um parafuso sendo girado em sua têmpora. De repente, ele *era* Daniel Kovács, correndo pelas ruas de Budapeste, seu coração batendo tão forte que doía. O sistema em sua visão piscava em vermelho:

[ALERTA: PURGA INICIADA]

[Contagem regressiva: 00:00:27]

Daniel gritou algo em húngaro enquanto digitava freneticamente num terminal bancário. "Não, não, NÃO-!"

A última coisa que Leon viu antes de ser arremessado de volta a si mesmo foi uma figura alta observando da janela - usando o mesmo relógio de bolso do Consórcio.

[*Ding!*]

[FRAGMENTO ASSIMILADO]

[Habilidade Desbloqueada: "Intuição de Mercado" (Nv.2)]

[Novo Objetivo: Encontrar o Terminal 0471-X antes do Consórcio]

A porta do banheiro se abriu com um rangido. Isabella saía enxugando o cabelo com uma toalha, seu corpo envolto apenas num roupão fino que deixava pouco à imaginação.

"Você parece como se tivesse visto um fantasma." Ela aproximou-se, o cheiro de jasmim e pólvora emanando de sua pele.

Leon ainda tremia com a memória da morte de Daniel. "Você sabia. Sobre os outros hosts."

Isabella não negou. Seu dedo traçou o símbolo do Consórcio na mesa empoeirada. "Meu pai fazia parte deles. Até quebrar as regras." Ela abriu o roupão o suficiente para revelar uma cicatriz em forma de olho sobre seu coração. "Agora... você e eu somos os ratos no labirinto deles."

[*Alerta: Sinal do Sistema Detectado - 500m e Aproximando*]

Os vidros do apartamento estilhaçaram quando o primeiro projétil perfurou a parede.