Capítulo 6: O Fantasma por Trás do Espelho

O esgoto cheirava a morte líquida – uma mistura de excrementos humanos e produtos químicos industriais que queimava as narinas de Leon enquanto ele corria, curvado, pelas galerias estreitas. A água suja lhe batia nos joelhos, salpicando seu rosto com gotas que ele cuspia imediatamente, imaginando bactérias se multiplicando em sua língua.

"Esquerda no próximo túnel!" A voz de Clarisse ecoava em seu ouvido através do fone, agora estático e cheio de interferências. "Tem uma saída de manutenção que leva aos becos do mercado negro."

Leon agarrou a escada de ferro enferrujada, sentindo o metal frio e áspero contra suas palmas suadas. Quando emergiu, o ar noturno de Lumenford pareceu quase doce em comparação – embora ainda carregado com o cheiro de óleo diesel e carne grelhada dos barracos de rua.

[*Ding!*]

[ALERTA: CÂMERAS DE SEGURANÇA ATIVAS – SETOR 9]

[Recomendação: Habilidade temporária "Rosto Comum" (Duração: 30min)]

Leon aceitou imediatamente, sentindo seu rosto formigar enquanto o sistema alterava sutilmente seus traços faciais para as câmeras. Uma velha senhora num barraco próximo olhou para ele sem reconhecimento antes de voltar a fritar bolinhos de peixe em óleo reutilizado.

Foi então que a mensagem chegou – não através do sistema, mas num pedaço de papel embrulhado em torno de uma pedra, lançado por uma figura encapuzada que desapareceu na multidão antes que Leon pudesse reagir.

A caligrafia era elegante, quase artística:

*"O sniper não era de Cromwell. Encontre-me no Café dos Relógios Quebrados. Pergunte pelo Relojoeiro. – Um Amigo"*

Leon virou o papel contra a luz de um poste. O verso mostrava um símbolo quase imperceptível – um olho estilizado dentro de um triângulo.

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O Café dos Relógios Quebrados era um estabelecimento esquisito mesmo para os padrões de Lumenford. Centenas de relógios de parede cobriam cada centímetro disponível, todos parados em horários diferentes, seus ponteiros congelados em um eterno desacordo sobre a passagem do tempo. O cheiro de café torrado artesanal e óleo de máquina criava uma atmosfera hipnótica.

"O Relojoeiro não atende qualquer um." A garçonete – uma mulher de meia-idade com um olho de vidro azul – examinou Leon de cima a baixo. "Você tem... referências?"

Leon mostrou o papel com o símbolo. O olho de vidro da mulher pareceu brilhar por um segundo antes que ela acenasse para o fundo da sala.

Atrás de uma cortina de contas, sentado em uma mesa rodeada por engrenagens e ferramentas de precisão, estava um homem que parecia ter sido construído a partir dos próprios relógios que o cercavam. Seus dedos longos e ossudos manipulavam um mecanismo interno minúsculo com pinças, cada movimento calculado ao milímetro.

"Ah, o garoto do sistema." O Relojoeiro não olhou para cima. Sua voz soava como se tivesse sido armazenada em um porão úmido por décadas. "Sente-se. Você está atrasado... embora, ironicamente, nenhum dos meus relógios possa dizer exatamente quanto."

Leon sentou-se cautelosamente, notando como a luz fraca fazia as engrenagens na mesa brilharem como ouro. "Você sabe quem atirou no Finlandês."

"Correção." Finalmente o Relojoeiro ergueu os olhos – um esquerdo castanho normal e um direito que parecia um mecanismo de relógio em miniatura, rodando e clicando. "Eu sei *porque* atiraram no Finlandês." Ele empurrou uma fotografia desbotada pela mesa.

A imagem mostrava um grupo de sete pessoas em trajes elegantes na frente do prédio da Bolsa de Valores. Leon reconheceu imediatamente um jovem Alistair Cromwell e, com um choque, o Relojoeiro décadas mais jovem. Mas foi a figura no centro que chamou sua atenção – um homem alto com um relógio de bolso distintivo.

"O Consórcio dos Sete." O Relojoeiro tocou a foto com uma ferramenta pontiaguda. "Cromwell era apenas um peão. O verdadeiro jogo sempre foi sobre o Sistema Fortuna... e você é apenas o mais recente usuário numa longa linha de cobaias."

[*Ding!*]

[NOVA MISSÃO: "DESVENDANDO O CONSÓRCIO"]

[Recompensa: 10.000 Aurons + Fragmento de Memória (Host Anterior)]

[Perigo: Nível Máximo]

Leon sentiu seu estômago embrulhar quando o Relojoeiro abriu o relógio de bolso que usava – revelando não um mostrador, mas o mesmo símbolo do olho triângular.

"Bem-vindo à guerra real, garoto."