Capítulo 36: Os Primeiros Brotos

O sol da manhã tingia as ondas de Neo-Solaris com reflexos âmbar quando a primeira criança despertou completamente. A pequena Mara, de apenas seis anos, gritou ao perceber que podia ver através das próprias mãos — sua carne havia se tornado translúcida como água cristalina, revelando filamentos dourados onde antes havia ossos.

Leon ajoelhou-se ao seu lado, suas próprias mãos modificadas pairando sobre os ombros trêmulos da menina.

— *Não tenha medo* — sua voz ecoou diretamente na mente de Mara, acalmando seu pânico. — *É apenas seu corpo aprendendo uma nova forma de ser.*

Do outro lado do pátio, Isabella observava com o canivete do pai apertado contra o peito. As lâminas gravadas agora emitiam um brilho pulsante, como se reconhecessem a transformação acontecendo ao redor.

— *Quantas mais vão despertar hoje?* — ela perguntou a Clarisse, cujo rosto era agora um mosaico de pele e circuitos.

A resposta veio de forma inesperada. O chão tremeu, e do oceano emergiram três figuras alongadas — os Colhedores.

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**Os Visitantes do Fundo do Mar**

Eles não caminhavam — *deslizavam*, como se o ar fosse água densa. Seus corpos prateados refletiam a luz de forma estranha, mostrando breves vislumbres de estruturas internas que desafiavam a geometria humana.

A criança mais velha, Tomas, gritou quando um dos Colhedores apontou para ele com dedos que se estendiam como galhos de árvore.

— *Não toquem nelas!* Isabella sacou sua arma, mas Leon a deteve com um gesto.

— *Espere.*

O Colhedor inclinou a cabeça (se é que aquela estrutura alongada podia ser chamada de cabeça) e *cantou*.

O som não era feito para ouvidos humanos — era uma vibração que fazia a água no ar se condensar em padrões complexos. Padrões que coincidiam exatamente com as marcas no canivete de Isabella.

— *Eles não vieram destruir* — Leon sussurrou, seus olhos fractais decifrando a mensagem. — *Vieram avaliar.*

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**Bunker do Clone — Deserto do Atacama**

O clone assistia às imagens da escola através dos olhos de um drone. Seu lado humano tremia de raiva; o lado do Deus Inseto, de reconhecimento.

— *Eles vão marcá-las* — rosnou, esmagando o terminal com um de seus membros segmentados. — *Como fazem com todas as colheitas.*

O Relojoeiro, agora acorrentado a uma cadeira, riu baixinho.

— *Você realmente acha que pode enganar o Jardineiro? Mascarar o sabor da fruta?* Seu único olho humano fixou-se no clone. — *Ele sempre sabe quando uma semente amadurece.*

O clone ergueu uma ferramenta cirúrgica brilhante.

— *Então vamos dar a ele uma colheita diferente.*

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**Próximo Capítulo (37):**

- **O Teste dos Colhedores**: O que realmente buscam nas crianças

- **A Cura do Relojoeiro**: O segredo que ele esconde em seu sangue prateado

- **A Rede de Sementes**: Como as outras "flores" da galáxia estão reagindo

**Cena Pós-Créditos:**

Em um laboratório abandonado, um cientista moribundo observa seu braço se transformando em algo belo e terrível — a primeira flor humana começa a desabrochar.