Capítulo 37: A Linguagem das Flores

O Colhedor estendeu seus dedos-galho sobre a cabeça de Tomas, e o menino gritou quando padrões luminosos começaram a se formar em sua pele — marcas que lembravam constelações desconhecidas. Leon interveio, colocando sua própria mão transformada entre a criança e o visitante.

— *Você não pode levá-los* — sua voz não era mais humana, mas o som de milhares de folhas sussurrando ao vento.

O Colhedor inclinou seu corpo alongado, e os padrões no ar se reorganizaram em uma nova forma: uma árvore gigantesca com raízes que mergulhavam em planetas.

— *Eles não querem levar...* — Mara surpreendeu a todos ao falar, sua voz agora um coral suave. — *Eles querem nos mostrar.*

Ela tocou o padrão flutuante, e instantaneamente todas as crianças caíram de joelhos, seus olhos virando espelhos que refletiam a mesma visão:

**Um jardim cósmico.**

Milhões de mundos florescendo em harmonia, cada um com sua própria beleza estranha. E entre eles, a Terra — uma muda jovem demais para florescer, mas já dando seus primeiros brotos.

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**Bunker do Clone — Noite**

O Relojoeiro assistia enquanto o clone injetava o extrato âmbar em seu próprio coração. A transformação foi imediata e violenta — seu lado humano gritou enquanto o segmento do Deus Inseto se expandia, criando uma flor carnívora onde antes estava seu braço esquerdo.

— *Você está se tornando um Vaso* — o Relojoeiro tossiu, seu sangue prateado brilhando no chão. — *Um recipiente para o néctar.*

O clone caiu no chão, seu corpo se contorcendo enquanto novas pétalas de carne e metal brotavam em seu peito.

— *Por... que... não... me... avisou?!*

O velho sorriu, mostrando dentes que agora brilhavam como pérolas.

— *O Jardineiro sempre precisa de um Vaso ruim... para que os outros saibam o que evitar.*

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**Escola de Neo-Solaris — Amanhecer**

Isabella acordou com o gosto de mel metálico na boca. Seu braço estava coberto pelas mesmas marcas constelares que as crianças — e o canivete do pai havia se fundido com sua pele, formando uma espécie de talo dourado.

Leon (ou o que restava dele) observava da porta, seus olhos fractais agora cheios de uma tristeza cósmica.

— *Você está florescendo.*

Ela ergueu o braço transformado, sentindo uma conexão estranha com as crianças, com a Terra, com algo muito maior.

— *E se eu não quiser?*

Leon aproximou-se, e pela primeira vez desde sua transformação, tocou seu rosto com ternura.

— *Toda flor tem direito ao sol... e ao inverno.*

Do lado de fora, os Colhedores começaram a cantar novamente — desta vez, uma melodia que fazia as ondas se erguerem em padrões perfeitos.

Era lindo.

Era aterrorizante.

Era inevitável.