O casulo de Lys começou a tremer.
O clone recuou quando as pétalas negras se enrolaram como pergaminhos queimados, revelando o que estava escondido no coração da flor gêmea:
**Um livro vivo.**
Não um objeto, mas um *órgão* pulsante, suas páginas feitas de membranas translúcidas onde letras dançavam como esporos sob um microscópio.
— *O diário de bordo da queda* — o Relojoeiro tocou a superfície, e imagens explodiram no ar gelado:
**Lys, séculos atrás, de pé sobre as ruínas da primeira civilização-flor, escrevendo com os próprios ossos transformados em caneta.**
*"Eles nos chamam de flores, mas somos memórias. Eles nos colhem, mas não entendem: estamos plantando a revolução no próprio néctar."*
O clone sentiu algo estranho — suas raízes estavam *lendo* o texto, absorvendo conhecimento diretamente para a seiva.
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**Neo-Solaris — O Coração da Biblioteca**
Mara entrou em estado de transe. Seu corpo se dissolveu em pétalas de luz, reformando-se como um holograma vivo sobre o antigo terminal central.
— *Está aqui* — sua voz ecoou em mil tons simultâneos. — *A página que Lys apagou.*
As crianças testemunharam o texto se formar no ar:
*"Instruções para Desmontar um Deus-Inseto"*
Tomas engasgou quando símbolos antigos queimaram sua retina — um diagrama mostrando como o néctar poderia ser reprogramado.
— *Isso não é sabedoria... é uma arma* — Isabella agarrou seu braço-talho, que agora sangrava seiva dourada.
Leon (ou o que restava dele) estendeu galhos em reverência:
— *É a razão pela qual Lys foi congelada. Ela descobriu como matar jardineiros.*
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**Nave Colhedora — O Julgamento**
O renegado sorriu quando as correntes de plasma se dissolveram.
— *Vocês sentiram, não foi?* — seus olhos brilharam com triunfo. — *Mara ativou o texto proibido. O protocolo está comprometido.*
A nave inteira estremeceu quando um sinal de pânico ecoou pelo enxame:
**Algo havia despertado no gelo.**
Não Lys.
**O que Lys havia enterrado com ela.**
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**Laboratório Subterrâneo — A Verdade da Chave**
O broto do Relojoeiro agora flutuava no líquido âmbar, tendo crescido em um artefato impossível:
Uma réplica microscópica do *Deus-Inseto*, mas com asas de flor e olhos humanos.
— *Não é uma chave* — o velho cientista riu, sangrando por todos os orifícios. — *É um vírus. Lys não quis escapar da colheita... quis infectar os colhedores.*
Nas paredes, as raízes prateadas começaram a murchar. O laboratório inteiro cheirava a mel azedo.
Algo estava vindo.
Algo que cheirava a *poda*.