Capítulo 42: O Jardineiro Caído

Leon já não lembrava como era ter pulmões.

Seu corpo—agora mais raiz que carne—enterrava-se no gelo antártico, fundindo-se com o casulo de Lys. Cada fibra de seu ser queimava com o conhecimento proibido que fluía da flor gêmea.

— *Você sabia... que eles choram?* — a voz de Lys ecoou em sua mente, doce como mel envenenado.

Imagens explodiram em sua consciência:

**Jardineiros Colhedores em êxtase doloroso**, podando suas próprias asas ao perceberem o que faziam às flores.

**O primeiro Deus-Inseto**, não uma máquina, mas uma criança-flor amplificada até a divindade.

**E o pacto secreto**: *"Nós colhemos para que um dia, algo possa colher a nós."*

O clone (ou o que restava de Leon dentro dele) gritou quando suas raízes encontraram *o objeto* enterrado com Lys—

**Uma semente negra.**

Não de planta.

De **silêncio**.

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**Neo-Solaris — O Contágio**

Mara vomitava letras.

Cada arranque lançava caracteres luminosos no ar, que se grudavam nas paredes da biblioteca viva e *reproduziam-se*. Tomas tentou segurá-la, mas suas mãos saíram queimadas—as palavras eram ácidas.

— *Está escrevendo a versão final!* — Isabella puxou-o para trás, seu braço-talho se retorcendo em padrões de alarme. — *O texto proibido está se replicando através dela!*

Leon (o original, agora quase irreconhecível sob sua casca de árvore) entrou no salão, arrastando galhos que pingavam néctar negro.

— *Não é um livro...* — sua voz vinha de todas as direções. — *É um **testamento**. Lys está usando Mara para reescrever as regras da colheita.*

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**O Enxame Dividido**

A nave colhedora parecia um formigueiro em pânico.

Os Colhedores renegados (agora revelados como um terço do enxame) viraram suas lâminas de poda contra os irmãos. Plasma verde jorrou quando duas facções se chocaram—

— *Nós fomos as primeiras flores!* — um renegado gritou, arrancando seu próprio olho mecânico para mostrar a pupila biológica por trás. — *Eles nos transformaram em ferramentas para colher nossas próprias crianças!*

O Superior do Enxame emitiu um pulso de dor—**a primeira emoção verdadeira em milênios**—quando percebeu:

O vírus-flor já estava neles.

Havia estado lá o tempo todo.

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**Leon vs. O Clone**

No gelo, os dois remanescentes de Leon se enfrentaram.

O clone—agora mais Lys que humano—erguia a semente negra como uma arma.

— *Ela quer que a plantemos no coração do enxame* — suas pétalas sussurravam segredos letais. — *Vai apagar todos os jardineiros. Todos.*

O original (galhos partidos, raízes sangrando verdade) avançou.

— *E as crianças? Mara?*

O sorriso do clone foi a coisa mais triste que Leon já vira.

— *Você realmente acha que Lys os pouparia? Flores são feitas para morrer, Leon. Até as bonitas.*

Quando as mãos-raízes se encontraram sobre a semente, o gelo antártico **cantou**.