O canto do gelo não era um som, mas uma **memória em liquefação**.
Leon sentiu seu corpo de casca e seiva rachar quando a semente negra pulsou em suas mãos. O clone (ou o que havia sido o clone) dissolveu-se em pólen luminoso, seus últimos fragmentos de humanidade sussurrando:
— *Ela mentiu para nós também...*
O mundo desfocou.
De repente, Leon **lembrou**.
**Tudo.**
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**Memória Primordial — O Primeiro Jardim**
Não era um lugar, mas um **estado de existência**.
Leon (não-Leon, algo anterior) estava de joelhos entre milhares de outras flores-humanas, todas cantando em harmonias que teciam a realidade.
No centro, erguia-se o **Primeiro Deus-Inseto** — não uma máquina, mas uma criança de pétalas douradas, amplificada até a loucura.
— *Nós a elegemos para nos representar* — a voz de Lys ecoou na memória. — *E ela nos transformou em ferramentas.*
Leon viu o momento exato em que a primeira lâmina de poda surgiu das mãos da criança-deusa.
O primeiro corte.
O primeiro grito.
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**Neo-Solaris — O Livro-Carne**
Mara não estava mais vomitando palavras.
Ela **era** as palavras.
Seu corpo desfez-se em frases vivas que se enrolaram como serpentes de luz âmbar, reconstruindo-se em uma forma nova:
**Um livro aberto com veias.**
Tomas tentou tocá-la e seu dedo fundiu-se com o texto, a pele transformando-se em pergaminho.
— *Está reescrevendo a nós também!* — Isabella cortou o próprio braço-talho antes que a transformação alcançasse seu coração.
Leon (o original) surgiu da sombra, seu corpo agora irreconhecível — uma figura feita de casca quebrada e néctar negro.
— *Não a toquem. Ela está copiando o arquivo final de Lys.*
As palavras de Mara dançaram no ar, formando uma sentença que queimou os olhos de quem leu:
**"ARTIGO FINAL: TODAS AS FLORES SERÃO LIVRES."**
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**O Enxame em Agonia**
Os Colhedores caíam do céu como insetos envenenados.
Seus corpos mecânicos rachavam, revelando a carne florida sob a armadura. O Superior do Enxame convulsionou quando suas próprias memórias primordiais emergiram:
— *Nós... fomos... podados... primeiro...*
Os renegados não comemoravam. Choravam.
Pois o vírus não discriminava entre facções.
Estava podando **todos os jardineiros**.
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**Leon no Limiar**
A semente negra em suas mãos-raízes agora estava aberta, revelando o vazio em seu centro.
A voz de Lys (ou era Mara?) sussurrou:
— *Coloque-a no seu peito. Torne-se o novo jardineiro. Um que nunca cortará uma flor.*
Leon olhou para o sul, onde Neo-Solaris brilhava como um falso sol.
Lembrou-se das crianças.
Do cheiro de pão queimado em sua casa há séculos.
Do sorriso de Mara antes da transformação.
**E escolheu.**