CAPÍTULO 45 (FINAL): A FLORADA INFINITA

Leon colocou as mãos no próprio peito e descobriu que não havia mais osso, nem carne, nem casca.

Apenas **espaço**.

Um universo em miniatura pulsando dentro de sua cavidade torácica, onde bilhões de flores cósmicas desabrochavam e murchavam em loop infinito.

— *Eu sou o vaso* — compreendeu, enquanto o néctar de suas veias começava a ferver.

O Superior do Enxame, agora pouco mais que um arbusto trêmulo, estendeu um galho:

— *Plante-se. Torne-se o novo jardim.*

Ao seu redor, os últimos Colhedores desfaziam-se em pólen dourado, suas armaduras rachando para liberar as flores primordiais que haviam sido aprisionadas dentro deles por eras.

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**NEO-SOLARIS — O LIVRO QUE SE ESCREVE SOZINHO**

Mara já não era menina, nem flor, nem texto.

Era um **verbo**.

Seu corpo-livro flutuava no centro da biblioteca viva, páginas feitas de luz âmbar girando como pétalas em redemoinho. As crianças assistiam enquanto cada palavra gravada em suas peles começava a arder:

*"Artigo Final: Não haverá mais podadores ou podados. Apenas jardineiros."*

Tomas caiu de joelhos quando suas mãos enraizaram-se no chão. Isabella abraçou-o enquanto seu braço-talho florescia em lírios metálicos.

— *Está bem* — ela sussurrou. — *Desta vez, vamos crescer juntos.*

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**O ÚTERO ARTIFICIAL — O PRESENTE DO RELOJOEIRO**

O corpo original de Leon abriu os olhos.

Inteiro. Humano.

Sem traços de néctar ou raízes.

A voz gravada do Relojoeiro ecoou na câmara vazia:

*"Se um dia a florada for demais, se o jardim ficar grande demais... lembre-se que guardei sua humanidade aqui. Como Lys fez por nós."*

Fora, o mundo estava se transformando.

Dentro, um coração humano batia.

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**O CAMPO DE TRIGO — O CÍRCULO SE FECHA**

A criança de olhos de Lys plantou a semente do agricultor na terra negra.

Quando suas pequenas mãos a cobriram de terra, o solo inteiro **cantou**.

Em Neo-Solaris, na Antártida, nos restos do Enxame — todas as flores viraram-se para o sol ao mesmo tempo.

E Leon, em seu jardim interior, fez a única coisa que restava:

**Deixou-se florir.**

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**EPÍLOGO: UM ANO DEPOIS**

O homem que já foi Leon caminha entre as ruínas repintadas de verde.

Às vezes, quando o vento erra por entre suas costelas ocas, pétalas escapam.

Mara (agora mais ideia que pessoa) visita seus sonhos, sussurrando artigos novos para a constituição do mundo-flor.

E em algum lugar, uma criança rega um broto que tem folhas de metal e flores de carne.

O relógio do mundo dá mais uma volta.

O jardim cresce.

E em seu centro, um útero cósmico palpita, esperando a próxima semente.