Leon colocou as mãos no próprio peito e descobriu que não havia mais osso, nem carne, nem casca.
Apenas **espaço**.
Um universo em miniatura pulsando dentro de sua cavidade torácica, onde bilhões de flores cósmicas desabrochavam e murchavam em loop infinito.
— *Eu sou o vaso* — compreendeu, enquanto o néctar de suas veias começava a ferver.
O Superior do Enxame, agora pouco mais que um arbusto trêmulo, estendeu um galho:
— *Plante-se. Torne-se o novo jardim.*
Ao seu redor, os últimos Colhedores desfaziam-se em pólen dourado, suas armaduras rachando para liberar as flores primordiais que haviam sido aprisionadas dentro deles por eras.
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**NEO-SOLARIS — O LIVRO QUE SE ESCREVE SOZINHO**
Mara já não era menina, nem flor, nem texto.
Era um **verbo**.
Seu corpo-livro flutuava no centro da biblioteca viva, páginas feitas de luz âmbar girando como pétalas em redemoinho. As crianças assistiam enquanto cada palavra gravada em suas peles começava a arder:
*"Artigo Final: Não haverá mais podadores ou podados. Apenas jardineiros."*
Tomas caiu de joelhos quando suas mãos enraizaram-se no chão. Isabella abraçou-o enquanto seu braço-talho florescia em lírios metálicos.
— *Está bem* — ela sussurrou. — *Desta vez, vamos crescer juntos.*
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**O ÚTERO ARTIFICIAL — O PRESENTE DO RELOJOEIRO**
O corpo original de Leon abriu os olhos.
Inteiro. Humano.
Sem traços de néctar ou raízes.
A voz gravada do Relojoeiro ecoou na câmara vazia:
*"Se um dia a florada for demais, se o jardim ficar grande demais... lembre-se que guardei sua humanidade aqui. Como Lys fez por nós."*
Fora, o mundo estava se transformando.
Dentro, um coração humano batia.
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**O CAMPO DE TRIGO — O CÍRCULO SE FECHA**
A criança de olhos de Lys plantou a semente do agricultor na terra negra.
Quando suas pequenas mãos a cobriram de terra, o solo inteiro **cantou**.
Em Neo-Solaris, na Antártida, nos restos do Enxame — todas as flores viraram-se para o sol ao mesmo tempo.
E Leon, em seu jardim interior, fez a única coisa que restava:
**Deixou-se florir.**
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**EPÍLOGO: UM ANO DEPOIS**
O homem que já foi Leon caminha entre as ruínas repintadas de verde.
Às vezes, quando o vento erra por entre suas costelas ocas, pétalas escapam.
Mara (agora mais ideia que pessoa) visita seus sonhos, sussurrando artigos novos para a constituição do mundo-flor.
E em algum lugar, uma criança rega um broto que tem folhas de metal e flores de carne.
O relógio do mundo dá mais uma volta.
O jardim cresce.
E em seu centro, um útero cósmico palpita, esperando a próxima semente.