O mundo piscou.
Literalmente.
Num segundo, Isaac estava deitado em sua cama, com três telas abertas — uma com um guia de *Dark Souls II*, outra rodando uma speedrun e a terceira com um vídeo explicando a cronologia de *Kingdom Hearts*. No seguinte… ele caiu.
Caiu, sem chão, sem lógica.
E pousou de bunda num chão branco, liso, que parecia vidro, mas soava como metal. Códigos flutuavam no ar, como poeira digital iluminada por uma luz que não vinha de lugar nenhum.
— Ai, minha coluna, velho... — murmurou ele, ainda tentando entender o que tinha acontecido.
Poucos metros dali, uma garota se levantava com movimentos controlados, como se estivesse num dojo invisível. Os olhos dela analisaram tudo ao redor. Ela se posicionou em silêncio, os pés firmes como se esperasse um inimigo a qualquer segundo.
— Isso não é normal — murmurou ela. — Isso não é nem real.
Do outro lado, um garoto de cabelo bagunçado e camisa amassada piscou algumas vezes, confuso.
— Oi...? — disse Gustavo, franzindo a testa. — Que lugar é esse? Alguém... mais foi abduzido?
Um baque. Outro garoto caiu do nada, xingando enquanto se levantava.
— Que porra...? Eu tava só pegando um suco! — reclamou Ricardo, se sacudindo. — E alguém me explica por que eu tô com a MESMA roupa de antes? Cadê meu avatar estiloso?
Logo atrás, outro garoto apareceu com menos barulho. Ajeitou os óculos e começou a andar em círculos, observando o chão.
— Isso é um espaço simulado — falou Samuel, como se estivesse resolvendo um quebra-cabeça gigante. — Tem repetição no padrão do piso, códigos flutuando, física estável… isso é um jogo. Mas não um que eu conheça.
— *Óbvio que é um jogo* — Isaac rebateu. — O gráfico é bom demais pra ser real, mas não tem HUD, nem menu. Isso aqui é tipo um beta secreto... ou um ARG... ou alguma coisa doida de realidade aumentada.
— Beta secreto? — Ricardo ergueu a sobrancelha. — E qual a chance de eu cair num jogo secreto usando crocs?
Gustavo levantou a mão, quase pedindo silêncio.
— Pessoal... e se a gente só… se apresentasse primeiro? Só pra, sei lá, saber com quem a gente tá preso?
Houve um momento de pausa. Ninguém respondeu de imediato. A garota, que até então estava calada, deu um passo à frente.
— Koraku — disse ela, de forma firme. — Treino desde os quatro anos. Sei me virar.
Isaac ergueu a mão como quem responde chamada na escola.
— Isaac. 17 anos. Brasileiro. Se tiver controle e energia, eu jogo. E ganho.
— Samuel — o de óculos disse, sem muito entusiasmo. — Estratégia é comigo. Só me sigam e ninguém morre.
— Ricardo — sorriu o último, tentando parecer relaxado. — Americano. Jogador de escolhas e... da vida. Quando funciona.
— Gustavo — completou o que tinha sugerido as apresentações. — Canadense. Gosto de jogar em equipe... mesmo quando a equipe tá surtando.
Koraku cruzou os braços.
— Esse lugar não parece seguro.
— Alguém aqui viu botão de sair? — perguntou Ricardo, já batendo palmas no ar como se quisesse abrir um menu invisível. Nada aconteceu. — Pô, nem um "deslogar"?
Samuel suspirou.
— Tá com cara de ser um jogo sem botão de saída. Tipo… aqueles que a gente só termina se ganhar.
Foi então que a voz surgiu.
Profunda. Sintética. Vinda de todas as direções ao mesmo tempo.
> "PARTY COMPLETA. INICIANDO FASE 1: TUTORIAL DE SOBREVIVÊNCIA."
A luz do ambiente piscou. O chão começou a se desfazer em blocos, revelando plataformas flutuantes ao longe. Portas digitais surgiram nas paredes. Uma sirene fraca ecoava.
— Tutorial de sobrevivência? — Isaac arqueou a sobrancelha. — Isso é nome de tutorial ou ameaça?
Koraku já estava em posição de combate.
— Vamos descobrir.
— Alguém aí joga no fácil? — perguntou Ricardo, tirando a jaqueta. — Só pra saber se dá pra trocar a dificuldade antes da morte.
Gustavo respirou fundo.
— Tá. Jogo ou não… a gente tá aqui. E agora somos um grupo. Então… vamos juntos.
Eles se encararam. Uns mais confiantes. Outros, nem tanto. Mas a porta abriu.
E não dava mais pra voltar atrás.