bem vindos ao cubo

A luz do chão piscou mais uma vez. Tudo ao redor dos cinco começou a se desfazer como peças de quebra-cabeça, revelando um túnel feito de blocos — cubos perfeitos, empilhados como um jogo retrô.

Ricardo foi o primeiro a falar:

— O que é isso...? *Minecraft com mod realista*?

Isaac encarou o novo ambiente, fascinado. Blocos de terra, árvores feitas de cubos, céu quadriculado... Mas com sombras dinâmicas, vento real, e textura de pele digital nos próprios dedos.

— Isso aqui é... *Voxel Survival Engine*. Eu li sobre esse projeto cancelado… Mas nunca vi ninguém conseguir rodar isso.

A IA retornou. Sua voz agora soava mais seca. Mais objetiva.

> "Fase 1: Sobrevivência. Regras simples: durem 5 dias. Sem morrer. Sem burlar o sistema."

> "Permissões liberadas: Construção. Coleta. Combate básico. Comunicação liberada."

> "Boa sorte, jogadores. O tempo começa agora."

Um contador apareceu no céu, como um sol pixelado:

**DIA 1 – 00:00 / 120:00 restantes.**

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### \[POV: Gustavo]

Gustavo inspirou fundo.

Tudo ainda parecia um sonho. Ou um pesadelo educado, com tutorial e regras claras. Ele olhou pros outros. Isaac já andava em círculos, analisando blocos. Koraku testava a gravidade com pulos. Samuel examinava o relevo. Ricardo? Estava tentando subir numa árvore — errando miseravelmente.

— Ok — disse Gustavo, chamando todos. — A gente precisa montar um abrigo. Agora. Antes que fique de noite.

Ricardo caiu da árvore.

— Como assim "de noite"? Esse céu nem se mexe!

Samuel olhou pro céu.

— O contador não tá ali à toa. É o tempo do ciclo do jogo. Se tiver monstros à noite, como *Minecraft*, precisamos de abrigo mesmo.

Koraku puxou um pedaço de madeira de uma árvore.

— Posso montar uma base. Se tiver crafting.

Isaac já estava empilhando blocos.

— Eu conheço o sistema de crafting voxel. Dá pra fazer bancada, picareta básica e uma fornalha em poucos minutos. Alguém junta pedra.

Gustavo sorriu.

— Então vambora. Cada um pega uma função. E vamos sobreviver.

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[POV: Isaac]

Isaac se sentia... vivo.

Era como estar dentro da própria mente, jogando um game que só ele conhecia. Cada textura, cada som, tudo era intuitivo. As receitas de crafting apareciam quando ele pensava nelas. Quando bateu em uma pedra, sentiu até a vibração nos dedos. Perfeito.

— Se isso aqui fosse multiplayer real, eu já teria feito um speedrun — murmurou, abrindo o menu flutuante. — Mas com esse time... é um teste de paciência.

Ele olhou pros outros. Samuel era útil, mas irritante. Koraku levava tudo a sério. Gustavo era gente boa, mas meio emocional demais. E Ricardo... bem, Ricardo tentava seduzir a vaca pixelada.

Suspirou. Ia ter que carregar esses noob tudo.

[POV: Koraku]

Koraku se movia em silêncio, como sempre.

Os blocos reagiam ao toque, mas não à força. Não bastava atacar — precisava de timing. De ritmo. Como uma arte marcial.

Ela já havia construído três paredes, um teto simples e um buraco no chão que funcionava como abrigo emergencial.

Os outros falavam demais. Ela agia.

Mas algo nesse mundo incomodava. Era muito perfeito. Muito controlado. Tudo sob regras fixas.

E quem seguia regras… era presa fácil.

[POV: Samuel]

Samuel odiava improviso.

Jogo bom tinha regra. Tinha turno. Tinha lógica. Mas esse? Um mundo aberto? Sobrevivência baseada em dia e noite? Variações climáticas aleatórias?

— Isso aqui é caos — reclamou, enquanto montava uma torre de observação com terra. — Eu odeio caos.

Mesmo assim, criou um mapa mental de tudo: posição das árvores, áreas com minério, respawn de mobs (caso existissem). Estratégia era a única forma de sobreviver com aquele bando de impulsivos.

Ele olhou pra Gustavo, que ajudava Ricardo a cavar buracos.

— Esse grupo vai me matar.

[POV: Ricardo]

— Isso aqui tem *romance*?

Ricardo ainda não tinha entendido qual era o objetivo do jogo além de "sobreviva".

Sem missões claras, sem personagens com plot, sem escolhas com peso… era só... coletar madeira?

— Que tédio, véi...

Ainda assim, ele se esforçou. Cavou um buraco (mal feito), tentou assar uma carne crua (falhou) e quase caiu num rio de lava (sim, lava já no tutorial).

Mas viu como Gustavo ajudava todo mundo. Como Samuel planejava. Como Isaac montava equipamentos como se fosse engenheiro. Como Koraku, mesmo calada, protegia a base com armadilhas simples.

Talvez… não fosse tão ruim trabalhar em equipe.

Talvez.

**Fim do Dia 1**

O céu escureceu de forma brusca. Blocos de estrelas apareceram. Um som grave ecoou — como um trovão digital.

Do nada, olhos vermelhos surgiram na floresta.

Criaturas feitas de código puro começaram a se aproximar. Andavam como zumbis, mas piscavam como bugs de programa corrompido.

Isaac gritou:

— *Sombra Corrompida de Dados*! Típico inimigo de servidor falhado!

Samuel ativou armadilhas ao redor.

Koraku já estava na linha de frente, com uma espada improvisada.

Gustavo puxou Ricardo pra trás e cobriu uma entrada com pedra.

E então, pela primeira vez…

O grupo lutou junto.

Não perfeito. Não coordenado. Mas juntos.

E sobreviveram ao **Dia 1**.

A contagem avançou no céu.

> **DIA 2 – 00:00 / 96:00