>[DIA 4 – 00:00 / 48:00 restantes]
A chuva tinha parado. O céu voltou ao azul falso de sempre, como se a tempestade do dia anterior fosse um erro temporário do sistema.
Mas os danos não sumiram.
A base, agora reduzida a um buraco no chão com algumas cercas improvisadas, mal servia como abrigo. O chão estava esburacado. O estoque, vazio. O estranho dormia recostado numa pedra.
Koraku e Samuel estavam escavando em silêncio. Isaac fazia cálculos num mapa flutuante. Ricardo jogava pedras num cubo d’água com o tédio de quem queria estar em outro jogo.
E Gustavo? Bem… ele carregava o grupo de novo.
— Ei — disse ele, ajeitando um pedaço de parede com blocos de pedra. — Se a gente fechar esse lado, podemos evitar que monstros venham de oeste. Eles apareceram por ali ontem.
Samuel resmungou sem olhar:
— E se eles vierem do leste?
— A gente constrói ali também. Mas um lado de cada vez, né?
Isaac soltou um suspiro cético.
— Gustavo… a gente já tá no limite. Você quer ser útil, beleza. Mas não precisa se matar pra salvar todo mundo.
Gustavo apenas sorriu. Aquele sorriso de sempre. O mesmo que ele usava desde o Dia 1.
— Alguém tem que tentar manter isso aqui funcionando.
Koraku o observava. Calada. Sempre calada.
Mas ela via.
Via o suor, a respiração pesada, o olhar levemente tremido.
E então… aconteceu.
Gustavo tentou subir num bloco mal encaixado para consertar o topo de uma barreira. Só que o bloco... estava rachado. Mal renderizado.
Ele escorregou. Caiu com um baque seco, o som de um impacto amplificado pelo sistema.
Samuel virou imediatamente.
— Gustavo!?
Isaac largou o mapa.
Koraku correu primeiro.
Ele estava no chão. Com uma das pernas presa sob um bloco. O rosto tenso. Dentes cerrados.
— Eu... tô bem... só... — tentou dizer.
Mas o código da perna piscava. Um sinal de dano permanente.
A IA surgiu flutuando ao lado deles, sem rosto.
> “Jogador 003 sofreu dano estrutural. Movimento limitado. Recuperação possível com tempo... ou substituição de membro.”
Ricardo arregalou os olhos.
— Substituição de membro? Isso é... uma piada?
— Não — disse Isaac, lendo a notificação. — Isso é uma mecânica. Ele vai ficar manco. Ou a gente sacrifica algum recurso... ou alguém.
Silêncio.
Gustavo tentou se levantar, mas gritou de dor.
— Não... eu tô de boa. Só preciso de um tempo. Continuem. Sem mim. Tá tudo bem.
Samuel virou o rosto, apertando os punhos.
— Cala a boca, Gustavo. Não tá tudo bem.
Sem Gustavo ativo, o grupo tremeu.
Samuel teve que assumir o planejamento.
Koraku dividiu as funções, de forma fria e objetiva.
Isaac reclamou, mas trabalhou em dobro.
Ricardo... parou de brincar.
A base se transformou em um pequeno forte de pedra.
Menor, mais feio… mas funcional.
À noite, Gustavo tentou ajudar, mas mal conseguia ficar de pé. Koraku montou uma maca com blocos leves e prendeu ele lá, ignorando protestos.
— Tenta descansar, líder — disse ela. — A gente cuida daqui.
Foi a primeira vez que ela chamou ele de líder.
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### 🛌 Sonhos fragmentados
Gustavo dormiu mal. Sonhou com a escola. Com amigos. Com jogos antigos. Com estar sozinho numa sala escura, ouvindo todos gritarem seu nome.
Acordou suando. O contador brilhava:
> DIA 4 – 24:00 restantes.
E alguém segurava sua mão.
Era Ricardo.
— Não conta pra ninguém, mas... você faz falta pra cacete, velho.
Gustavo sorriu, fraco.
— Cê tá segurando minha mão?
— Isso aqui é calor humano digital. Fica na tua.
> [DIA 4 COMPLETO]
> Líder incapacitado. Grupo reconfigurado. Moral: instável, mas unida.
> Novo evento liberado:🎖 *Escolha de Bênção Oculta* (todos os membros ganharam um item ou abilidade especial… só no fim do desafio