O Rei, A Cama, e Seu Sofrimento

[M-Minha esposa quer dormir comigo?! E-Ela não tem medo de mim?!]

O corpo inteiro de Edmund travou como uma estátua. Seus passos pararam no meio do corredor, seu aperto nela apertando-se ligeiramente.

Primrose podia sentir a súbita rigidez em seus músculos, a maneira como sua respiração falhou como se seu cérebro tivesse parado de funcionar.

Ela inclinou a cabeça, intrigada. Ele estava... corando?

Com um pequeno suspiro, ela cutucou seu queixo gentilmente. "Vossa Majestade...?"

Sem resposta.

Ela tentou novamente. "Vossa Majestade."

Ainda nada.

Finalmente, ela elevou a voz. "Vossa Majestade!"

Edmund sobressaltou-se como se ela o tivesse arrancado de outra dimensão. Seu olhar desceu rapidamente para ela, sua expressão vazia por um segundo antes que ele finalmente falasse. "Eu não quero dormir com você."

Primrose estreitou os olhos.

Por que parecia que ele estava tentando convencer a si mesmo?

[SEU IDIOTA! Que diabos você está dizendo?!]

[EU QUERO DORMIR COM MINHA ESPOSA!!]

[Mas... e se eu não conseguir me controlar?! Está tão difícil controlar minha ereção ultimamente.]

O canto dos lábios de Primrose se ergueu levemente. Não seria divertido ver o poderoso Rei Lycan sofrer a noite toda?

Ela ainda estava chateada por ele não ter ido ao seu quarto mais cedo, então decidiu dar-lhe um pequeno castigo.

"Sinto muito... não deveria ter ultrapassado os limites," ela murmurou, cobrindo metade do rosto e forçando lágrimas a escorrerem de seus olhos, desta vez, ainda mais pesadas que antes.

"Só me sinto com medo de dormir sozinha. E-e se alguém invadir meu quarto novamente?"

Ela engoliu em seco, os dedos roçando as marcas leves em seu pescoço. "Só de pensar já é aterrorizante. E minha garganta... Ainda dói de tanto gritar. Se algo acontecer novamente, talvez eu nem consiga chamar por você."

Um suspiro trêmulo escapou de seus lábios. "Mas entendo se for pedir demais..."

Ela espiou para ele através da abertura entre seus dedos. 'Vamos ver quanto tempo ele consegue resistir às minhas lágrimas.'

[MINHA ESPOSA ESTÁ CHORANDO DE NOVO!]

[É culpa minha. É tudo culpa minha.]

[Eu deveria ter ido ao quarto dela mais cedo. Por causa da minha incompetência, sua garganta dói, e seu pescoço... droga! Ela deve estar sofrendo tanto por causa daquele desgraçado!]

[Talvez eu deva mudar seu quarto para perto do meu. Mas por hoje...]

[Vou apenas dormir no sofá e manter minhas mãos longe dela!]

Edmund respirou fundo antes de dizer, "Tudo bem. Você pode ficar no meu quarto esta noite." Seu olhar era afiado. "Mas não me toque."

Aquele olhar. Primrose teve a súbita vontade de furar seus olhos.

"Vossa Majestade, não me olhe assim." Ela inclinou a cabeça levemente, seus lábios tremendo o suficiente para vender a encenação. Então, na voz mais suave e mais lastimável que conseguiu, ela sussurrou, "Me lembra o assassino. Ele me olhou do mesmo jeito."

Só um tolo acreditaria em tal mentira, especialmente porque o assassino usava uma máscara. Como ela poderia ter visto seus olhos?

Mas, infelizmente, o rei apaixonado era o maior tolo de todos.

[Minha esposa tem medo dos meus olhos!! Eu não mereço vê-la! Eu deveria ficar cego!]

... Isso era absurdo.

Se ela pedisse para ele pular de um penhasco, será que ele realmente faria isso?

... Pensando bem, talvez ela não devesse testar essa teoria.

"Desculpe..." Edmund sussurrou. Ele fechou os olhos por um breve momento, e quando os abriu novamente, recusou-se a encontrar o olhar de Primrose.

Espera, o quê?

Ele acabou de—

Ele realmente se desculpou!

Pela primeira vez, Primrose conseguiu fazer o poderoso Rei Lycan pronunciar aquela palavra sagrada.

Sim, ele deveria dizê-la com mais frequência. Assim, as pessoas não o veriam como um rei arrogante que achava que sua mera presença era preciosa demais para que os plebeus respirassem o mesmo ar.

"Eu o perdoo, Vossa Majestade," ela disse suavemente, um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.

[Ela está... sorrindo? É porque eu me desculpei?!]

Quando Primrose descansou a cabeça contra o peito dele, ela podia ouvir seu coração batendo como um tambor de guerra.

[Vou me desculpar com mais frequência! Todos os dias, se for preciso!]

[Inferno, eu até direi desculpas se minha respiração a incomodar!]

Talvez... ele não precisasse ir tão longe. Mas tanto faz. Desde que ele parasse de agir como uma estátua fria e sem vida, já era o suficiente.

Quando Edmund a carregou para dentro de sua câmara, Primrose congelou por um momento.

Isso... Que diabos era isso?!

O quarto dele era pelo menos três vezes maior que o dela! E ela sempre achou que seu quarto já era espaçoso o suficiente.

Seus olhos vagaram, absorvendo a grandiosidade da câmara. O quarto era dominado por tons de cinza e preto, dando-lhe uma atmosfera escura, porém elegante.

Cada peça de mobiliário era extravagante — entalhes ornamentados nos postes da cama, cortinas luxuosas de seda e um enorme lustre pendurado no teto.

O preço de apenas um desses móveis provavelmente poderia sustentar uma família de plebeus por toda a vida.

No entanto, o que mais se destacava não era a decoração. Era o cheiro dele, seus feromônios, ou qualquer termo que os lycans usassem para isso.

Cheirava a uma combinação de baunilha quente e vinho envelhecido.

As pessoas diziam que uma vez que um lycan marcava sua companheira, sua companheira sempre encontraria conforto em seu cheiro.

Primrose tinha presumido que isso só funcionava para outros lycans ou bestas, mas agora que ela estava perto o suficiente para respirar seus feromônios... ela estaria mentindo se dissesse que não se sentia à vontade.

Na verdade, ela até teve o impulso ridículo de pressionar o nariz contra o pescoço dele quando ele a carregou até aqui.

"Você pode ficar com a cama," Edmund disse enquanto cuidadosamente colocava Primrose na cama macia. "Eu ficarei com o sofá."

Era um arranjo razoável, mas onde estava a graça nisso se ele não sofresse um pouco?

"Por quê?" Primrose deu tapinhas no espaço vazio ao seu lado. "Sua cama é enorme. Há mais que espaço suficiente para nós dois."

[Não. De jeito nenhum. Eu mal tenho controle como está.]

"Vou dormir no sofá," ele repetiu firmemente.

Primrose inclinou a cabeça. "Você se sente desconfortável dormindo ao meu lado, Vossa Majestade?"

Os olhos de Edmund contraíram-se. "Esse não é o problema."

"Então qual é?" ela baixou a voz. "Dormir ao meu lado o enoja?"

"Pare de perguntar!" ele gritou.

Primrose ofegou, sua mão voando para o peito por reflexo.

Por um momento, o silêncio se estendeu entre eles.

Edmund parecia ainda mais chocado do que ela, como se tivesse acabado de matar a própria esposa.

[MERDA! EU ESTRAGUEI TUDO!]

[Será que minha esposa vai morrer por minha causa?!]

"S-Seu peito está doendo?" Edmund ajoelhou-se diante dela, pânico passando por seu rosto.

Sua mão instintivamente se estendeu, mas congelou no meio do caminho quando a realização o atingiu — se ele a tocasse ali, pareceria mais um pervertido do que um marido preocupado.

"Um pouco..." Primrose suspirou, pressionando a mão contra o peito para efeito dramático. Então, ela aproveitou o momento para perguntar, "Você realmente não quer dormir ao meu lado?"

Edmund enrijeceu. "Eu vou dormir ao seu lado!" As palavras saíram altas demais.

Estalando a língua em frustração, Edmund desviou o olhar e tentou novamente, desta vez baixando a voz para quase um sussurro. "Eu vou dormir na cama também."

Primrose imediatamente pegou suas mãos e sorriu. "Isso é ótimo!"

Mas antes que ela pudesse dormir, Edmund chamou uma criada para ajudar Primrose a lavar o sangue de sua pele e trocar para roupas limpas.

Ele não chamou Leah porque Primrose havia alegado que não queria incomodá-la, mas sejamos honestos, ela simplesmente não queria ver o rosto daquela vadia insuportável esta noite.

Quando a criada soube que Primrose dormiria na câmara do Rei, ela tentou vesti-la com algo totalmente inapropriado — uma camisola branca transparente que poderia mandar Edmund para um túmulo precoce no momento em que ele pusesse os olhos nela.

Primrose queria puni-lo, mas... ela decidiu não piorar seu sofrimento esta noite.

No final, ela escolheu algo que concederia a Edmund um pouco de paz — uma camisola longa adornada com uma delicada fita azul clara no centro de seu peito.

"Vossa Majestade, estou pronta para dormir." Primrose entrou na câmara do rei com um leve trote, sua longa camisola fluindo suavemente ao seu redor.

[MERDA! MINHA ESPOSA ESTÁ TÃO BONITA!]

[POR QUE MINHA EREÇÃO ESTÁ ACORDADA?!]

Que diabos...

Ela estava completamente coberta!

Sua pele mal estava aparecendo, e ainda assim, aqui estava ele, ainda lutando por sua vida!