O sol do fim da tarde castigava impiedosamente enquanto eu enfrentava Alistair na calçada em frente ao cartório civil. Meu coração martelava no peito, mas não era mais por amor. Era pura raiva.
"Hazel, por favor," Alistair implorou, tentando segurar meu braço novamente. "Vamos conversar sobre isso racionalmente."
Desviei do seu alcance. "Racionalmente? Você quer que eu seja racional enquanto você se casa com minha meia-irmã usando meu vestido de noiva?"
Pessoas passavam, algumas diminuindo o passo para assistir nossa discussão. Eu não me importava mais com quem via ou ouvia.
"É complicado," ele insistiu, baixando a voz. "Você sabe que a Ivy não tem muito tempo de vida."
"E isso torna a traição aceitável?" Cruzei os braços, criando uma barreira física entre nós. "Você tinha escolhas, Alistair. Você escolheu ela."
O rosto dele escureceu. "O que eu deveria fazer? Negar o último desejo de uma mulher à beira da morte?"
"Sim!" Sibilei, dando um passo à frente. "É exatamente isso que você deveria ter feito quando esse desejo envolvia me destruir!"
O maxilar de Alistair enrijeceu. "Você está sendo egoísta. Isso não é só sobre você."
A acusação me atingiu como um tapa. Depois de tudo que eu havia sacrificado por esse homem—meu sangue, meu tempo, toda minha vida adulta—ele tinha a audácia de me chamar de egoísta.
"Você me dá nojo," sussurrei, as palavras cortando o ar entre nós.
Seus olhos se arregalaram em choque. "Hazel—"
"Não." Levantei minha mão para silenciá-lo. "Por seis anos, eu te dei tudo. Meu sangue te manteve vivo. E é assim que você me retribui?"
"Não é tão simples—"
"É sim tão simples!" Retruquei. "Um homem de verdade teria mantido seu compromisso. Você é fraco, Alistair. Sempre foi."
Ele agarrou meu pulso de repente, seus dedos apertando dolorosamente minha pele. "Você não está falando sério. Você me ama."
O desespero em seus olhos me enojou ainda mais. Puxei meu braço com força.
"Eu te amava," corrigi. "Agora eu vejo você como realmente é."
Sua expressão mudou, escurecendo com raiva. "A Ivy precisa mais de mim do que você agora. Ela está morrendo!"
As palavras pairaram entre nós. Antes que pudesse me conter, minha mão voou e o esbofeteou com força no rosto.
O estalo ecoou na rua. A cabeça de Alistair virou para o lado, uma marca vermelha surgindo em sua bochecha.
"Como você ousa usar a doença dela para justificar sua traição," eu disse, com voz gélida. "Você não está se casando com ela por nobreza. Está fazendo isso porque é um covarde que não consegue dizer não."
Alistair tocou a bochecha, me olhando em choque. Pela primeira vez, ele parecia sem palavras.
"Acabou," declarei, dando um passo para trás. "Nos vemos dia 3 de outubro para dar entrada no divórcio. Até lá, fique longe de mim."
Virei e me afastei, sentindo-me mais leve a cada passo. Atrás de mim, podia ouvi-lo chamando meu nome, mas não olhei para trás.
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"Ele disse o quê?" Vovó Elaine quase derrubou sua xícara de chá.
Eu estava sentada em sua aconchegante sala de estar dois dias depois, envolta pelo reconfortante aroma de canela e livros antigos. Depois do confronto com Alistair, eu havia cancelado o local da cerimônia e o florista, e dirigido direto para a casa da minha avó nos arredores da cidade.
"Ele queria que eu esperasse por ele," repeti, ainda chocada com sua audácia. "Como se eu estivesse ansiosa para aceitá-lo de volta depois que ele terminasse de brincar de marido com a Ivy."
Tia Margaret bufou com desdém. "Aquele rapaz sempre teve uma opinião muito elevada sobre si mesmo."
Sorri agradecida para minha tia e avó ferozes. Enquanto o resto da minha família havia escolhido lados há muito tempo—meu pai apoiando sua nova esposa e enteados—essas duas mulheres sempre foram meu porto seguro.
"Você fez a coisa certa, devolvendo o anel dele," Vovó disse, dando tapinhas na minha mão. "Um homem que abandona seus compromissos tão facilmente não merece suas lágrimas."
"Não estou mais chorando," garanti a ela, e percebi que era verdade. A dor esmagadora havia se transformado em outra coisa—determinação.
"Ótimo." Tia Margaret assentiu com aprovação. "Agora, conte-nos sobre essa empresa que você está assumindo."
Na hora seguinte, delineei meus planos para a Evening Gala. Sem a interferência de Alistair, eu finalmente poderia implementar a direção criativa que sempre havia imaginado.
"Você vai ficar bem, querida," Vovó disse quando terminei. "Mais que bem. Você vai prosperar."
Sua certeza reforçou minha confiança. Pela primeira vez desde a traição de Alistair, senti a esperança crescendo dentro de mim.
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Na segunda-feira de manhã, entrei na sede da Evening Gala de cabeça erguida. Nossos funcionários olharam quando passei, suas expressões uma mistura de simpatia e curiosidade. As notícias corriam rápido em nossa pequena empresa.
"Bom dia, Srta. Shaw," minha assistente me cumprimentou cautelosamente. "Você está... bem?"
"Melhor que bem, Tina," respondi com genuína confiança. "A equipe de design está pronta para nossa reunião?"
Ela assentiu, com alívio visível em sua expressão. "Estão esperando na sala de conferências."
A reunião transcorreu tranquilamente. Apresentei minha visão para nossa coleção de inverno, e a equipe respondeu com entusiasmo. Sem as constantes preocupações orçamentárias de Alistair nos segurando, finalmente poderíamos seguir a direção ousada que eu defendia há anos.
Depois da reunião, voltei ao meu escritório e encontrei Alistair esvaziando sua mesa na sala adjacente. Nossos olhos se encontraram brevemente através da divisória de vidro antes que eu deliberadamente me virasse, concentrando-me na tela do computador.
Ele demorou mais que o necessário, claramente esperando que eu o reconhecesse. Não o fiz. Eventualmente, ele saiu com sua caixa de pertences, ombros caídos em derrota.
Permiti-me um pequeno sorriso de satisfação. A empresa era minha agora. Eu não precisava de Alistair Everett—nem de sua aprovação, nem de seu apoio, e certamente não de seu amor.
Justo quando estava revisando as projeções trimestrais, uma sombra caiu sobre minha porta. Olhei para cima, esperando Tina com as amostras de tecido que eu havia solicitado.
Em vez disso, me vi encarando Ivy.
Minha meia-irmã se apoiava no batente da porta, parecendo mais frágil do que quando a vi no hospital. Sua pele estava pálida, quase translúcida, mas seus olhos brilhavam com a mesma luz calculista que eu conhecia desde a infância.
"Olá, Hazel," ela disse, sua voz suave mas audível.
Endireitei-me na cadeira. "Alistair acabou de sair. Se você está procurando por ele—"
"Não estou aqui para ver Alistair," ela interrompeu, entrando no meu escritório sem ser convidada. "Vim ver você."
A surpresa passou por mim, rapidamente substituída por suspeita. Ivy nunca me procurava a menos que quisesse algo.
"Eu?" Ergui uma sobrancelha. "O que você poderia querer de mim agora, Ivy? Você já pegou meu noivo e meu casamento."
Ela sorriu finamente, acomodando-se na cadeira em frente à minha mesa como se eu a tivesse convidado a ficar.
"Não seja tão dramática, Hazel. Isso não é sobre tirar coisas de você."
"Não é?" Não consegui esconder a amargura da minha voz. "Essa tem sido sua especialidade desde que éramos crianças."
Ivy suspirou teatralmente. "Ainda agarrada a velhos ressentimentos? Pensei que você fosse mais madura que isso."
"Corta essa encenação," disse rispidamente. "Por que você está aqui?"
Ela me estudou por um momento, com a cabeça ligeiramente inclinada. "Sabe, sempre admirei seu talento."
O elogio, tão inesperado, me desequilibrou.
"O quê?"
"Seus designs," ela esclareceu, gesticulando ao redor do escritório onde esboços adornavam as paredes. "São brilhantes. Sempre achei isso."
Olhei fixamente para ela, tentando decifrar seu ângulo. Em vinte anos, Ivy nunca havia elogiado nada que eu fizesse.
"Obrigada," disse cautelosamente. "Mas bajulação não explica por que você está sentada no meu escritório."
Ela alisou a saia, uma peça de designer que reconheci de nossa última coleção. "Tenho uma proposta para você."
Claro que tinha. Ivy nunca fazia elogios sem querer algo em troca.
"Uma proposta?" Repeti ceticamente.
"Sim." Ela se inclinou para frente, olhos brilhando com intensidade. "Quero que você desenhe meu vestido de noiva."
O pedido me atingiu como um golpe físico. Por vários segundos, só consegui encará-la com descrença.
"Você quer que eu," finalmente consegui dizer, "desenhe o vestido que você vai usar para se casar com meu noivo?"
"Ex-noivo," ela corrigiu com um pequeno sorriso.
Ri então, o som afiado e sem humor. "Você não pode estar falando sério."
"Estou perfeitamente séria." A expressão de Ivy endureceu ligeiramente. "Ninguém desenha melhor que você, Hazel. Por que se contentar com menos que o melhor para o meu dia de casamento?"
A pura audácia me deixou momentaneamente sem palavras. Quando pensei que ela não poderia me machucar mais, Ivy encontrou novas maneiras de girar a faca.
"Saia," disse baixinho.
Ela não se moveu. "Pagarei o dobro da sua comissão habitual."
"Saia," repeti, minha voz se elevando.
"O triplo, então," ela contrapôs, como se fosse uma negociação normal. "E garantirei que você receba todo o crédito em todas as fotos do casamento e cobertura da imprensa. Pense na exposição—"
"Você está louca?" Levantei-me abruptamente, mãos espalmadas na mesa. "Você rouba meu noivo, pega meu vestido de noiva, e agora quer que eu desenhe um novo para você? O que mais você poderia querer de mim, Ivy?"
Ela me observou friamente, imperturbável com minha explosão. "Pensei que você poderia apreciar a oportunidade, considerando sua situação empresarial."
"Minha situação empresarial está ótima," retruquei.
"Está mesmo?" Ela inclinou a cabeça. "Porque ouvi dizer que a Everett Enterprises está reconsiderando seu investimento na Evening Gala agora que Alistair não está mais envolvido."
Um gelo desceu pela minha espinha. A família Everett era nosso maior investidor. Sem o apoio deles, a Evening Gala teria dificuldades.
"Isso é um blefe," disse, com mais confiança do que sentia.
Ivy sorriu, um predador sentindo fraqueza. "É mesmo? O pai de Alistair foi bastante claro quando jantamos ontem à noite. A lealdade familiar é profunda entre os Everetts."
Minha mente corria. Eu não havia considerado esse ângulo. Claro que a família de Alistair ficaria do lado dele—e por extensão, do lado de Ivy.
"Então isso é chantagem?" Perguntei, minha voz firme apesar do pânico crescendo dentro de mim.
"De forma alguma," ela respondeu suavemente. "É um acordo mutuamente benéfico. Você desenha meu vestido, eu garanto que os Everetts continuem investindo na sua empresa." Ela fez uma pausa. "E quem sabe? Talvez eu possa convencê-los a aumentar sua participação."
A proposta pairou no ar entre nós. Encarei minha meia-irmã, a garota que passou a vida tomando tudo que eu valorizava, agora me oferecendo um pacto com o diabo.
"O que mais você poderia querer de mim?" Sussurrei, a luta esvaindo-se da minha voz. "Você já não tirou o suficiente?"