Olhei para a tela do meu celular incrédula. Dezessete chamadas perdidas do Alistair desde que eu havia saído daquele restaurante com a Vera. A audácia desse homem não tinha limites.
"Você não está realmente pensando em ligar de volta para ele, está?" Vera perguntou, bebendo seu café com leite à minha frente na nossa cafeteria favorita.
"Eu preciso," respondi, segurando minha xícara com força. "Precisamos finalizar a transferência da empresa. Quero tudo por escrito antes do casamento dele com minha meia-irmã moribunda."
As palavras ainda tinham um gosto amargo, dois dias após o confronto no hospital. Cada vez que eu fechava os olhos, via o rosto presunçoso de Ivy enquanto ela acariciava meu vestido de noiva com seus dedos ossudos.
Vera estreitou os olhos. "Deixe-me ligar para ele."
"O quê? Não—"
Mas ela já tinha pego meu telefone e apertado rediscar antes que eu pudesse impedi-la.
"Olá, traidor," ela respondeu docemente quando Alistair atendeu. "Aqui é Vera Vance, falando em nome da mulher cuja vida você destruiu."
Eu me lancei sobre a mesa, mas Vera habilmente evitou meu alcance.
"Ah, é mesmo? Você acha que a Hazel deveria ser mais compreensiva?" A voz de Vera pingava veneno. "Compreensiva com o quê exatamente? Sua incapacidade de manter seu pau dentro das calças mesmo quando sua noiva passou seis anos doando sangue para manter seu traseiro patético vivo?"
Vários clientes da cafeteria se viraram para olhar. Minhas bochechas queimavam de vergonha.
"Vera," sibilei, "me dê o telefone."
Ela me ignorou. "Não, VOCÊ escute," ela rosnou no receptor. "Hazel te deu tudo. Seu tempo, seu sangue, seu amor. E você retribuiu—"
Finalmente consegui pegar o telefone. "Me desculpe por isso," eu disse, embora não estivesse arrependida. "Precisamos nos encontrar. Hoje. Para discutir a empresa."
O suspiro de Alistair crepitou pelo alto-falante. "Tudo bem. Cartório civil às 15h. Podemos resolver os dois assuntos de uma vez."
"Dois assuntos?"
"A transferência da empresa e o divórcio," ele esclareceu. "Melhor resolver tudo de uma vez."
Meu estômago afundou. Claro. O divórcio. Em todo o caos, eu quase havia esquecido que precisávamos encerrar legalmente nosso casamento.
"Tudo bem. 15h." Desliguei sem dizer adeus.
Vera me encarou, com preocupação estampada em seu rosto. "Você está bem?"
"Ótima," murmurei. "Estou me divorciando e perdendo meu noivo para minha meia-irmã, tudo na mesma semana."
"Pelo menos você está ficando com a empresa," Vera me lembrou.
Assenti, tentando sorrir, mas pareceu mais uma careta. "Pelo menos isso."
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O cartório civil estava lotado quando cheguei exatamente às 15h. Alistair já estava esperando, parecendo irritantemente bonito em seu terno azul-marinho sob medida. O mesmo terno que eu o ajudei a escolher no mês passado para nossa lua de mel.
"Hazel," ele me cumprimentou, dando um passo à frente com a mão estendida.
Ignorei. "Vamos acabar logo com isso."
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos perfeitamente arrumados. "Preparei toda a documentação para a Evening Gala. Meu advogado enviará os documentos finais depois que você assinar o acordo preliminar."
"Tudo bem." Peguei a pasta que ele ofereceu sem olhar para ele.
Nos aproximamos do balcão juntos, um silêncio desconfortável estendido entre nós. A atendente, uma mulher de meia-idade com olhos cansados, levantou o olhar do computador.
"Como posso ajudá-los?"
"Precisamos dar entrada no divórcio," Alistair declarou.
O olhar da atendente oscilou entre nós. "Vocês têm hora marcada?"
"Não," respondi. "Não sabíamos que precisávamos de uma."
Ela clicou em seu sistema. "Receio que vocês precisarão agendar. E há um período obrigatório de reflexão de 30 dias após o pedido antes que o divórcio possa ser processado."
Meu coração gaguejou. "Como é?"
"É uma nova regulamentação," ela explicou, sem tirar os olhos da tela. "Todos os divórcios exigem um período de reflexão de 30 dias. E nosso próximo horário disponível para iniciar o processo é..." Ela apertou os olhos para a tela. "Daqui a duas semanas."
Duas semanas. Mais trinta dias depois disso. Fiz as contas rapidamente na minha cabeça.
"Mas isso significa..." Me virei para Alistair, o horror me atingindo.
Seu rosto havia empalidecido ligeiramente. "Isso significa que você ainda será minha esposa durante meu casamento com Ivy."
A cruel ironia da situação me atingiu como um golpe físico. Eu ainda estaria legalmente casada com Alistair enquanto ele trocava votos com minha meia-irmã. A humilhação queimava dentro de mim, incandescente e insuportável.
"Isso não pode estar acontecendo," sussurrei.
A atendente olhou entre nós com interesse renovado. "A menos que haja evidências de violência doméstica ou outras circunstâncias extremas, o período de reflexão é obrigatório."
"Há algo que possamos fazer?" Alistair perguntou desesperadamente. "Pagar uma taxa de urgência ou algo assim?"
"Receio que não, senhor. O mais cedo que posso agendar é 3 de outubro às 10h."
Agarrei o balcão para me firmar. "Tudo bem. Aceitamos."
A atendente assentiu e imprimiu um comprovante. "Ambas as partes devem estar presentes com documentos de identificação. O pedido formal de divórcio será submetido então, e o período de 30 dias começa depois disso."
Nos afastamos do balcão, e eu lutei para manter minha compostura.
"Hazel, sinto muito," Alistair começou.
"Não," cortei. "Simplesmente não."
"Mas isso muda as coisas," ele insistiu. "Talvez devêssemos—"
"O quê? Cancelar seu casamento com minha meia-irmã moribunda? Tarde demais para isso. Você já fez sua escolha."
Sua expressão mudou, algo calculado substituindo o choque inicial. "Na verdade, estava pensando que talvez nem devêssemos nos preocupar com o divórcio."
Pisquei, certa de que tinha ouvido errado. "Como é?"
"Pense bem," ele continuou, baixando a voz. "Ivy tem apenas alguns meses no máximo. Depois disso..." Ele estendeu a mão para a minha.
Recuei como se tivesse sido queimada. "Depois disso o quê? Retomamos de onde paramos como se nada tivesse acontecido?"
Ele teve a audácia de parecer esperançoso. "É a solução prática. Por que passar por um divórcio só para casar novamente depois?"
A pura presunção desse homem me deixou sem palavras por vários segundos. Ele realmente acreditava que eu esperaria por ele, que depois que ele se casasse e enterrasse minha meia-irmã, eu o receberia de braços abertos.
"Você é louco," finalmente consegui dizer. "Completamente louco."
"Estou sendo realista," ele rebateu. "Nosso relacionamento sempre foi o verdadeiro, Hazel. Isso—com Ivy—é apenas um desvio breve. Um ato de caridade para uma mulher moribunda."
"Um ato de caridade?" repeti, minha voz perigosamente alta. "Você está se casando com ela usando MEU vestido de noiva, no MEU local, com as MINHAS flores e chama isso de caridade?"
Outras pessoas no cartório estavam olhando agora, mas eu não me importava mais.
"Abaixe a voz," Alistair sibilou, olhando nervosamente ao redor.
"Não," dei um passo à frente, cutucando seu peito com o dedo. "Você não dita mais as regras. Não para mim. Nunca mais."
Sua expressão endureceu. "Você está sendo irracional. Esta situação não é ideal para ninguém."
"Não é ideal?" Eu ri, o som afiado e amargo. "Você destruiu nosso futuro e quebrou todas as promessas que já me fez. E agora tem a audácia de sugerir que eu deveria esperar enquanto você brinca de casinha com minha meia-irmã?"
"Ela está morrendo, Hazel," ele disparou, a frustração finalmente rompendo seu verniz polido. "O que você quer que eu faça? Deixe o último desejo dela não ser realizado?"
"Sim!" gritei, além de me importar com quem ouvisse. "Sim, é exatamente isso que você deveria ter feito! Você deveria ter dito não. Você deveria ter honrado seu compromisso comigo!"
Ele agarrou meu braço, seus dedos apertando dolorosamente. "Você está fazendo uma cena."
Arranquei meu braço de seu aperto. "E você está cometendo o maior erro da sua vida se pensa que eu vou aceitá-lo de volta depois disso."
Algo feio brilhou em seus olhos então—um vislumbre do verdadeiro Alistair por trás da fachada encantadora. "Não seja tão confiante, Hazel. Você nunca conseguiu ficar longe de mim. Nós dois sabemos disso."
Sua certeza me gelou. Por seis anos, eu havia construído meu mundo ao redor desse homem, sacrificado por ele, sangrado por ele. E na mente dele, isso me tornava permanentemente sua—uma posse que ele poderia deixar de lado temporariamente e reclamar quando quisesse.
"Veremos," eu disse, minha voz baixa e firme. "3 de outubro, 10h. Esteja aqui com seu documento de identidade."
Virei-me e saí, meus passos acelerando a cada batida do meu coração. Atrás de mim, ouvi ele chamar meu nome uma vez, duas vezes. Não olhei para trás.
Lá fora, o sol da tarde me cegou momentaneamente, um contraste gritante com a tempestade que rugia dentro de mim. Tateei meu telefone e disquei para Vera com dedos trêmulos.
"Como foi?" ela atendeu imediatamente.
"Há um período de espera obrigatório," eu disse, minha voz falhando. "Eu ainda serei esposa dele quando ele se casar com Ivy."
Vera xingou coloridamente. "Isso é completamente absurdo."
"Fica pior," continuei, entrando em um táxi. "Ele sugeriu que pulássemos o divórcio completamente. Ele espera que eu espere por ele, Vera. Ele acha que depois que Ivy morrer, eu simplesmente vou aceitá-lo de volta."
O silêncio do outro lado dizia muito.
"Ele realmente acredita nisso?" Vera finalmente perguntou, incrédula.
"Sim." Me recostei no assento, de repente exausta. "E a parte mais assustadora? Por uma fração de segundo, uma pequena parte de mim se perguntou se ele estava certo."