Autossabotagem

Felix mal conseguiu se desviar quando a lâmina giratória foi arremessada em sua direção, seu gume afiado como navalha cortando o ar onde seu peito estivera momentos antes.

A lâmina ricocheteou no corrimão de metal com um estrondo, antes de cair inofensivamente no chão abaixo. O som quebrou a frágil calma da sacada, um aviso para todos nas proximidades sobre o caos que se desenrolava.

'E lá se vai nossa cobertura... Ótimo. Teremos que nos mudar novamente,' Leo pensou amargamente, seu olhar afiado voltando-se para a fonte do ataque.

Um leve brilho de movimento acima da sacada chamou sua atenção. O som de tecido farfalhando seguiu-se, acompanhado pelo leve clique de botas pousando suavemente na estrutura metálica acima.

Felix, em forte contraste, agitava-se e agarrava sua espada curta como se fosse uma tábua de salvação, girando sem rumo. "Que diabos foi isso?!" ele gritou, sua voz ecoando muito mais alto do que deveria enquanto tentava localizar os inimigos sem qualquer sucesso.

"Ali!" Leo sibilou, mas seu aviso caiu em ouvidos surdos, enquanto Felix continuava a girar como um bufão cego.

"O porco bêbado se esquivou," observou uma voz feminina, calma e cortante, suas palavras impregnadas de um cruel divertimento.

Antes que Leo pudesse reagir, duas figuras caíram das sombras, pousando na sacada vindas do terraço com uma graça sinistra.

O primeiro era um homem magro, suas feições afiadas contorcidas em um sorriso presunçoso. Uma corrente brilhante enrolava-se firmemente em seu antebraço, crepitando com arcos de relâmpagos azuis que zumbiam ominosamente no ar, e ao lado dele estava uma mulher com olhos vermelhos penetrantes, suas facas gêmeas girando sem esforço em suas mãos.

Os olhos de Leo se estreitaram, reconhecendo a perigosa precisão em seus movimentos. Cada rotação de suas lâminas prometia intenção letal, e suas posturas coordenadas deixavam claro para ele que eram assassinos experientes.

O homem sorriu com desdém. "Eu sou Kael," ele disse, sua voz suave e deliberada. "Esta é minha irmã, Varra, e conforme a tradição do Clã Felter, estamos nos apresentando antes de matar nossa presa."

'Clã Felter?' Leo refletiu, tentando lembrar se aquele nome significava algo para ele, mas assim como suas memórias perdidas, mesmo se soubesse algo sobre o Clã Felter, ele não conseguia se lembrar de nada sobre eles no momento, forçando-o a não se deter no assunto por enquanto.

"Bem, me chamam de SeuPai," Felix balbuciou, cambaleando para frente com um sorriso feroz, "mas você pode carinhosamente me chamar de Papai enquanto corto sua garganta."

O sorriso de Kael vacilou com a resposta de Felix, quando sem aviso, ele atacou com a corrente brilhante, o ar chiando enquanto os elos eletrificados serpenteavam em direção a Felix como uma serpente viva.

Os olhos de Leo se arregalaram ao ver a corrente mudar de trajetória no meio do arco, curvando-se de forma antinatural em direção ao peito de Felix.

'Que diabos é isso?' Leo pensou, seu pulso acelerando. A corrente desafiava a lógica, seu movimento guiado por algo além da física, pois tanto sua curva antinatural quanto sua energia de relâmpago pareciam algo que a simples ciência não poderia explicar.

Mas Felix, apesar de seu estado de embriaguez, balançou-se para fora do alcance, a corrente estalando contra o chão onde ele estivera momentos antes.

"Uau— Esse é um movimento legal! Pode me dizer o nome da sua técnica?" Felix perguntou, parecendo impressionado com o ataque enquanto Kael bufava em resposta.

"Isso? É uma pequena habilidade de família chamada Serpente do Trovão," Kael provocou, puxando a corrente de volta com um estalo. "Não é algo que um porco como você poderia sonhar em dominar."

Antes que Felix pudesse retrucar, Varra agitou o pulso, enviando uma de suas facas giratórias em direção a Leo.

Instintivamente, Leo ergueu sua adaga para bloqueá-la, mas sua respiração ficou presa quando a única lâmina de repente se dividiu em três no ar.

Cada nova lâmina arqueou em direção a uma parte diferente de seu corpo, forçando-o a se contorcer desajeitadamente para evitar duas e desviar a terceira.

"O que—?" Leo murmurou, seu coração acelerado enquanto as lâminas se cravavam na parede atrás dele.

Varra sorriu com desdém, seus olhos vermelhos brilhando com malícia. "Impressionado? Minhas facas sempre encontram seu alvo, de um jeito ou de outro."

O peito de Leo apertou. Estas não eram armas comuns—estavam imbuídas com algo além da habilidade artesanal. Seus oponentes não eram apenas habilidosos; eles empunhavam habilidades que desafiavam a lógica, e isso o deixava desorientado.

Kael atacou novamente, a corrente chicoteando com um estalo de relâmpago enquanto Felix cambaleava para trás, evitando os elos eletrificados por centímetros, mas a pura força do golpe enviou pedaços do corrimão de concreto da sacada voando em sua direção.

*TAPA*

Um fragmento atingiu a bochecha de Felix, deixando uma fina linha de sangue escorrendo pelo seu rosto, enquanto Felix parecia genuinamente confuso com o que o atingiu.

Enquanto isso, do outro lado da sacada, Varra diminuiu a distância até Leo, suas facas gêmeas movendo-se em um borrão mortal. Ela cortava e investia com precisão, seus ataques forçando Leo à defensiva.

No início, Leo se sentiu confiante enfrentando-a, enquanto tentava aparar seus ataques da melhor maneira possível, sabendo muito bem que o efeito de desaceleração logo entraria em ação.

No entanto, quando mesmo após lutar por 15 segundos, sua habilidade especial não se manifestou, Leo começou a entrar em pânico por sua vida.

'Por que não está acontecendo?' Leo pensou desesperadamente, sua respiração vindo em arquejos superficiais. A clareza que ele sentira em sua primeira luta—a estranha sensação do tempo desacelerando—não estava em lugar nenhum desta vez.

Seus movimentos pareciam lentos, suas reações mal conseguiam acompanhar o ataque implacável de Varra.

"O que foi, garoto?" Varra provocou, sua voz pingando zombaria. "Perdendo a coragem?"

Leo cerrou os dentes, aparando outra rajada de golpes, mas cada impacto sacudia seus braços, a fadiga de sua luta anterior pesando sobre ele, enquanto percebia que estava ficando progressivamente mais lento à medida que a luta prosseguia.

'Puta que pariu, nesse ritmo vou morrer no próximo minuto se nada mudar. Meu corpo não se recuperou o suficiente para eu mover meus membros tão rápido. A tensão que está colocando no meu corpo é imensa' Leo pensou, enquanto se dava conta de quão ruim era sua posição nesta luta.

Felix, enquanto isso, esquivou-se de outro golpe da corrente de Kael e avançou com abandono bêbado, era um movimento perigoso, pois se ele calculasse mal seu avanço, mesmo que ligeiramente, o único resultado possível seria morte certa, no entanto, por sorte, seu timing foi perfeito.

*TAPA*

Batendo com a parte cega de sua espada diretamente nas costelas de Kael, Felix virou a maré da batalha a seu favor.

Kael cambaleou, seu sorriso substituído por uma careta de dor. "Você vai pagar por isso," ele cuspiu, puxando a corrente de volta para outro ataque.

Mas Felix não lhe deu chance.

Com um rugido bêbado, Felix bateu com o pomo de sua espada no estômago de Kael, forçando o ar para fora de seus pulmões, antes de cortar limpo através de seu lado.

Sangue jorrou da ferida enquanto Kael caía de joelhos, seus intestinos derramando-se enquanto ele era eviscerado da maneira mais brutal possível.

"KAEL!" O grito de Varra ecoou pela sacada, sua compostura quebrando enquanto ela se virava para seu irmão caído, dando a Leo o espaço para respirar que ele tão desesperadamente precisava.

Com um arremesso desesperado, Leo enviou sua adaga girando em direção à cintura dela, em direção ao local onde ela havia prendido o cristal de teletransporte e, para alegria de Leo, sua mira foi certeira, estilhaçando o cristal de teletransporte preso ao cinto dela.

*Crack*

O cristal se estilhaçou, e uma luz brilhante envolveu a forma de Varra enquanto a magia de teletransporte se ativava.

"Não!" Varra gritou, sua voz desvanecendo enquanto seu corpo se dissolvia em partículas cintilantes.

Logo depois, o cristal de Kael também se acendeu, tirando-o da luta, no entanto, infelizmente, não antes de Felix cortar sua garganta, acabando com sua vida.

No momento em que ele se teletransportou, sua situação estava além da salvação, quase garantindo que ele seria encontrado morto do outro lado, deixando apenas manchas de sangue e o cheiro pungente de suas tripas derramadas na sacada.

Felix sorriu, limpando o sangue de sua lâmina enquanto olhava para o céu.

"QUEM É SEU PAPAI AGORA?" Ele gritou, alertando ainda mais inimigos para sua localização potencial, enquanto Leo mal conseguia suprimir sua raiva.

Felix em seu estado de embriaguez era tanto um trunfo quanto uma responsabilidade, e Leo não conseguia descobrir exatamente como lidar com ele.