Segundos se passaram, mas mesmo que o estudante sob os pés de Su Yang continuasse a se contorcer, ninguém da turma de calouros interveio.
Parecia que todos haviam aceitado a surra como algo natural, e ninguém tinha coragem de confrontar Su Yang sobre isso.
Talvez fosse por causa de sua origem, porque ele pertencia a um dos seis grandes clãs. Ou talvez fosse por causa de seus olhos dominadores, do tipo que desafiava qualquer um a se manifestar — apenas para esmagá-los se o fizessem.
Qualquer que fosse o motivo, o silêncio reinava.
Até que—
Clique. Clique. Clique.
O ritmo sincronizado de várias botas ecoou no refeitório.
As cabeças se viraram instintivamente para a entrada, enquanto um grupo de alunos do segundo ano entrava, movendo-se com um ar de superioridade sem esforço.
À frente do grupo caminhava um jovem de cabelos loiros e uma presença afiada e refinada.
Era Du Liang. Outro descendente dos seis grandes clãs.
Seu olhar varreu o refeitório, enquanto ele se perguntava por que estava tão silencioso hoje, antes de olhar para Su Yang e entender o motivo.
Du Liang não parecia surpreso.
Na verdade, ele parecia levemente desapontado.
"Su Yang," ele chamou suavemente, sua voz nem áspera nem particularmente amigável. "Você está realmente começando brigas no primeiro dia? No refeitório, de todos os lugares?"
Su Yang finalmente olhou para cima, seu pé ainda pressionando o recruta espancado, enquanto seus lábios se curvavam em um sorriso irônico.
"Há quanto tempo, Primo Du, eu estava esperando encontrar você aqui na academia, sabe—" Su Yang respondeu, parecendo já conhecer Du Liang, talvez devido a um vínculo familiar compartilhado.
Du Liang suspirou como se já tivesse visto isso centenas de vezes antes.
"Se os instrutores te pegarem, não vai acabar bem," Du Liang comentou. "Na Academia Militar de Rodova, temos algumas regras. Se você tem uma queixa contra outro estudante, você solicita um duelo oficial. Caso contrário, está quebrando o protocolo da academia e pode ser severamente punido por suas ações. Felizmente, não há professores por perto do refeitório agora, ou você já estaria em uma cela disciplinar—"
Alguns dos alunos do segundo ano atrás de Du Liang riram, claramente entretidos pela interação.
Su Yang bufou, mas finalmente tirou sua bota do ombro do recruta, permitindo que o garoto tossisse e sugasse o ar desesperadamente.
Mas em vez de recuar, Su Yang apenas cruzou os braços e virou-se para Du Liang com uma expressão indecifrável.
"Você sabe por que eu fiz isso?" Su Yang perguntou.
Du Liang arqueou uma sobrancelha, sua curiosidade levemente despertada.
Su Yang apontou para o recruta trêmulo, seu lábio se curvando em nojo.
"Este verme estava tentando se passar por um descendente do Clã Mu fingindo perda de memória."
A expressão de Du Liang mudou ligeiramente ao ouvir as palavras de Su Yang, o traço de diversão em seu rosto desaparecendo.
"É mesmo?" Du Liang refletiu.
"Sim," Su Yang confirmou, seus olhos se estreitando para o recruta que ainda ofegava. "E você sabe como eu posso dizer?"
Ele se agachou ligeiramente, nivelando seu olhar com o estudante acovardado.
"Ele anda muito alto," Su Yang afirmou categoricamente. "Ele se assusta com o menor movimento, e hesitou quando eu o ataquei."
Ele se levantou novamente, voltando-se para Du Liang.
"Um verdadeiro herdeiro do Clã Mu, mesmo com zero memórias, teria reagido instintivamente. Seus ossos lembrariam o que sua mente esqueceu."
Du Liang considerou as palavras de Su Yang por um momento antes de assentir.
"Você não está errado," ele admitiu. "Os métodos de treinamento do Clã Mu são extremos. Seus reflexos deveriam estar enraizados ao ponto de memória muscular. Se esse cara fosse realmente um deles... ele não estaria no chão agora."
O estudante em questão estremeceu com a análise fria, mas nem Su Yang nem Du Liang lhe deram mais atenção.
Su Yang finalmente recuou, sua frustração ainda evidente, mas contida.
"Da próxima vez, vou solicitar um duelo," ele murmurou. "Mas não espere que eu me contenha."
Du Liang sorriu levemente. "Bom. É assim que deve ser."
Com isso, a tensão no refeitório finalmente começou a diminuir.
Os veteranos logo seguiram em frente, deixando o calouro espancado no chão, e Su Yang — embora ainda exalando arrogância — voltou para sua mesa sem dizer mais nada.
O refeitório lentamente retomou sua atmosfera habitual, mas uma lição não dita havia ficado clara para todos os calouros na sala.
Os seis grandes clãs governavam esta academia.
E a menos que você pertencesse a eles — seria melhor ficar fora do caminho deles.
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Leo absorveu toda a troca como uma esponja, sua mente processando cada palavra, cada movimento, cada regra não dita.
Isso foi uma lição.
Uma lição de hierarquia. De reputação. De como os conflitos eram resolvidos nesta academia.
Se ele algum dia se encontrasse em desacordo com Su Yang, estava claro que recuar não era uma opção.
O herdeiro do Clã Su não era do tipo que deixava as coisas passarem, nem era do tipo que respeitava a submissão.
A menos que você revidasse, a menos que mantivesse sua posição, Su Yang continuaria empurrando, escalando, humilhando.
Esse era o tipo de pessoa que ele era.
E Leo não tinha intenção de ser saco de pancadas de ninguém.
Dito isso, ele sinceramente esperava nunca se encontrar em desacordo com aquele louco.
Havia uma brutalidade nas ações de Su Yang que o perturbava — não por medo, mas pela pura falta de hesitação.
Su Yang não era apenas arrogante. Ele era inteligente, implacável e parecia ter as habilidades para sustentar sua atitude.
Ele andava com uma espécie de certeza.
Uma certeza que vinha de saber exatamente onde ele estava no mundo, de ter sido criado em um ambiente onde ele era inegavelmente superior aos outros.
Até mesmo a maneira como ele falava, como se portava, como andava — tudo refletia sua origem.
Leo nunca havia prestado muita atenção em como o andar de uma pessoa poderia revelar tanto sobre ela, mas agora, depois de assistir à interação entre Su Yang e Du Liang, ele entendia.
Havia sinais. Sutis, mas inegáveis.
O passado de um homem não estava apenas em suas palavras — estava em sua postura, seus instintos, na maneira como ele se movia pela sala.
E se esse fosse o caso, então Leo tinha um problema.
Porque ele não conhecia seus próprios sinais.
Ele não sabia o que seus maneirismos diziam sobre ele.
Ele nem mesmo sabia o que eles deveriam dizer.
Sua perda de memória não era apenas um inconveniente — era um enorme ponto cego.
E para piorar as coisas, sem suas memórias, ele sentia que lhe faltava o contexto para entender metade das conversas que aconteciam ao seu redor.
Cada menção aos Seis Grandes Clãs, ao Clã Mu ou aos Herdeiros do Clã, eram apenas nomes para ele, fragmentos de um quadro maior ao qual ele não tinha acesso.
E em um lugar como a Academia Militar de Rodova, não ter a capacidade de decifrar o quadro maior era, sem dúvida, uma grande desvantagem.
Leo cerrou a mandíbula levemente, uma resolução silenciosa se estabelecendo dentro dele.
Ele precisava consertar isso.
Ele precisava aprender sobre este mundo, e rápido, pois se não começasse a preencher as lacunas em seu conhecimento logo... ele não seria apenas mais um recruta sem rosto. Ele seria uma presa — caçado antes mesmo de conhecer as regras do jogo.