Harmonia no Caos

O som dos sapatos de Indra ecoava suavemente pelas ruas de pedra do Burgo Real, misturando-se ao sussurro distante do vento e ao estalo dos raios dançando nas nuvens. O céu acima de sua cabeça era uma tapeçaria surreal: um roxo vibrante, como tinta viva espalhada sobre um véu infinito. A cada minuto, relâmpagos multicoloridos rasgavam as nuvens escuras que se acumulavam como montanhas no firmamento, e o sol prateado — tão diferente do que iluminava a Terra — banhava tudo com sua luz fria e precisa, como uma lâmina reluzente.

Indra caminhava lentamente, absorto.

As palavras de Sophie ainda giravam em sua mente como fragmentos de um enigma:

"Talvez você precise compor a sua própria técnica."

Era uma ideia que o intrigava e o apavorava ao mesmo tempo. Criar uma técnica de refinamento da alma? Isso parecia coisa de mestres lendários, não de um estudante recém-chegado ao Outro Lado. Ele mal conseguia coordenar o fluxo do próprio Qi sem causar um pequeno terremoto em seu peito — como poderia moldar algo novo, funcional... harmonioso?

“Talvez...”, pensou, os olhos fixos nas pedras coloridas da rua, “...se eu usasse todas as cinco técnicas ao mesmo tempo.”

O pensamento o fez parar por um momento. O Manual de Técnicas Básicas listava cinco métodos distintos: Pulso da Essência Interior, Ritmo do Núcleo Tranquilo, Fluxo Espiritual Harmonioso, Sopro da Alma Latente, Corrente Serpeante do Núcleo. Cada uma tinha seu propósito, sua cadência, sua filosofia. Mas havia algo de incongruente nelas também — algumas incentivavam o recolhimento e a introspecção; outras, a expansão e o movimento agressivo.

Indra franziu a testa.

Contradição.

Era isso. Talvez fosse justamente ali, entre os opostos, que morava a resposta.

Enquanto caminhava, tentava visualizar como os cinco fluxos poderiam se cruzar, se encaixar, se adaptar. Se pudesse traçar um caminho onde o Qi fluísse como no Fluxo Harmonioso, pulsasse com a força da Essência Interior, mas também descansasse como no Núcleo Tranquilo... talvez estivesse criando não uma técnica, mas um caminho só dele.

A cidade ao seu redor parecia respirar junto com seus pensamentos. O Burgo Real, sede da alta sociedade do Outro Lado, era um mosaico arquitetônico de eras e culturas perdidas — torres élficas ao lado de pagodes encantados, vitrais modernos dividindo espaço com muralhas de pedra encantada. Bandeiras flutuavam suavemente, gravadas com símbolos arcanos que mudavam de forma conforme o ângulo do olhar.

Era tudo belo demais para se acostumar. E essa beleza estranha o tocava, o inquietava. Havia algo de errado em tornar-se insensível àquilo. Indra soube, com um nó silencioso no peito, que não queria jamais se acostumar com esse mundo. Porque se um dia o fizesse... significaria que se tornara parte de algo que ainda o assombrava.

Foi então que parou.

Algo estava... ali.

Sentado no meio do caminho, como se aguardasse sua chegada, havia um gato.

Não era um animal qualquer.

Tinha o pelo predominantemente branco, mas as patas, a ponta das orelhas e o final da cauda brilhavam com um roxo profundo — da mesma cor do céu. Como se um pedaço do firmamento tivesse sido arrancado e costurado em sua pelugem. Seus olhos, no entanto, eram o que mais chamava atenção: rosa choque, intensos e cristalinos, como lâminas de vidro polido imersas em luz mágica.

O gato o encarava.

Indra sentiu-se exposto. Aqueles olhos não apenas olhavam. Eles penetravam. Como se o felino pudesse ver além da carne, além dos pensamentos, até a essência pulsante de sua alma e Qi.

"...Você é real?" — murmurou, mais para si mesmo.

O gato não respondeu, apenas piscou lentamente. Um gesto calmo. Antigo. Como se compreendesse a pergunta — e, de certo modo, zombasse dela.

Indra se abaixou, estendendo a mão devagar. Por um instante, o gato pareceu considerá-lo. Depois, desviou o olhar com nobre indiferença.

"É justo." — disse ele, rindo sem humor.

Decidiu contornar o animal e seguir adiante. Tinha uma aula. Tinha um mundo inteiro esperando por ele. Mas quando deu os primeiros passos, ouviu um miado... e logo sentiu uma pressão gentil contra a perna.

O gato estava se esfregando nele.

"Hã... oi?" — Indra se abaixou e afagou o topo da cabeça do felino, apenas uma vez. "Eu não tenho comida. E estou com pressa."

Com cuidado, afastou o gato, colocando-o a alguns passos de distância. O animal apenas sentou-se e o observou, sem protestar. Indra retomou a caminhada.

Mas não estava sozinho.

A cada esquina, ao olhar para trás, lá estava ele. O gato. Não muito de perto, mas também não longe o bastante para ser ignorado. Sempre o observando. Sempre presente.

"Tá me seguindo?" — perguntou em voz baixa, quase se divertindo. "Claro. Porque hoje não poderia ficar mais estranho."

O Burgo foi ficando para trás. E à frente, recortando-se contra as nuvens tempestuosas e o brilho do sol metálico, erguiam-se os portões da Academia Esotérica — enormes, guardados por duas figuras em armaduras encantadas, runas acesas por energia.

Ao se aproximar, os guardas cruzaram lanças de energia.

"Identificação?"

Indra apresentou o colar de estudante, que imediatamente brilhou com a assinatura de Sophie. Os guardas assentiram, mas então um deles apontou com o queixo:

"Esse animal é seu?"

Indra virou-se. Lá estava ele. O gato. Sentado, majestoso, como um guardião silencioso.

"Não. Ele só... me seguiu."

"Animais de estimação não são permitidos na Academia." — disse o segundo guarda, sério.

Indra ergueu as mãos em rendição.

"Ele não é meu. Se quiserem impedir, fiquem à vontade. Mas boa sorte com isso."

Entrou.

Os portões começaram a se fechar. Mas antes que se fechassem por completo, Indra não resistiu e olhou por cima do ombro.

O gato ainda estava lá.

Sentado. Observando-o.

A luz prateada do sol refletia em seus olhos rosa choque, agora ainda mais intensos. E por uma fração de segundo, Indra jurou que viu uma leve faísca branca dentro das pupilas — o mesmo tom de seu Qi.

Um arrepio subiu por sua espinha.

Algo naquele gato... estava alinhado com ele.

Os portões se fecharam. A cidade ficou do lado de fora.

Mas os olhos do gato, como marcas deixadas na alma, ainda o acompanhavam.

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O salão central da Academia Esotérica era um colosso de arquitetura mística. Pilares entalhados com símbolos arcanos sustentavam uma abóbada translúcida, pela qual se via o céu roxo vibrante do Outro Lado. As nuvens escuras, eternamente agitadas por dentro com raios multicoloridos, cruzavam lentamente aquele céu alienígena. E o sol prateado — frio e sereno — pairava como um olho antigo sobre tudo.

Indra entrou em silêncio. Seus passos ecoaram por um breve instante, abafados logo em seguida pelo peso do ambiente. Alguns estudantes já circulavam pelo espaço, agrupando-se em pares ou trios, conversando em tons baixos. Ninguém lhe dirigiu a palavra. Ele não se importou. Caminhou até um banco solitário perto da borda do salão e se sentou, deixando-se afundar por um instante no tecido grosso do uniforme fornecido pela Academia.

Faltavam alguns minutos para a aula de Combate Prático começar. Tempo suficiente para seus pensamentos se agitarem.

O gato.

Aquele estranho gato branco com extremidades roxas e olhos rosa-choque. Ele não saía de sua cabeça desde o momento em que se roçara contra sua perna naquela manhã. Havia algo de antinatural naquela criatura. Indra sentira isso na hora — um arrepio inexplicável, uma leve pressão na espinha, como se o gato estivesse além do físico. Um observador. Um juiz. Ou pior… um presságio.

Mas não importava o quanto pensasse, não chegava a nenhuma conclusão. Nenhum conceito da Terra ou mesmo do que aprendera sobre a Sociedade Esotérica explicava aquilo. Com um suspiro contido, largou o pensamento no fundo da mente e se permitiu observar o salão ao redor.

Foi quando uma sombra parou à sua frente.

Ergueu os olhos. Um jovem o encarava. Cabelos negros como tinta cobriam-lhe parte da testa e olhos verdes-esmeralda ardiam com intensidade controlada. A pele era pálida, quase etérea, e suas roupas eram pretas, ajustadas ao corpo — algo entre um uniforme tático e trajes cerimoniais. No peito, preso por um fecho ornamentado, havia um broche prateado. Um corvo de duas caudas, pintado de preto.

O símbolo do Clã Ledger.

Antes que Indra pudesse dizer qualquer coisa, o jovem falou:

"Como você fez isso?"

Indra piscou, surpreso.

"O quê?"

"As Veias Mágicas." — disse o garoto, sua voz baixa mas incisiva. "Ontem você não as tinha. Hoje, elas estão parcialmente formadas. Como?"

Por um instante, Indra sentiu o corpo inteiro enrijecer. A pergunta o pegara desprevenido. Não fazia ideia de quem era aquele rapaz, e ainda assim ele sabia detalhes íntimos sobre sua condição. Pior — havia um tom de cobrança por trás da curiosidade. Como se aquele conhecimento lhe pertencesse por direito.

Os olhos de Indra desceram lentamente até o broche. O símbolo. O corvo de duas caudas. Era impossível não notar o paralelo com Sophie. Os cabelos, os olhos, a pele, as roupas — tudo nele gritava Ledger.

Um raio de compreensão o atingiu.

"Você... é irmão da Sophie?"

O garoto arqueou levemente uma sobrancelha, como se estivesse se divertindo com a demora da dedução.

"Reid Ledger." — disse ele, enfim. "E sim, sou irmão mais novo da Sophie. E sim, eu sei que ela está te ajudando. Todo mundo sabe. Na verdade, seria mais estranho se ninguém soubesse."

Indra o fitou, surpreso com a naturalidade da revelação.

"Todo mundo?"

"Você acha que alguém simplesmente resgata um humano do Plano Terreno e o traz direto para a Sociedade Esotérica sem que isso vire fofoca instantânea?" — Reid deu de ombros. "Você é o assunto do momento, Indra. Ainda mais agora que formou Veias Mágicas em um único dia."

Instintivamente, Indra olhou ao redor. E notou.

Olhares. Sussurros. Grupos que fingiam conversar mas cujos olhos vez ou outra se voltavam para ele e Reid.

"Eles estão mesmo olhando..." — murmurou.

"Pois é." — disse Reid, cruzando os braços. "Então, vai me contar como você fez isso ou não?"

Indra hesitou por um momento. Não confiava plenamente em Reid — não ainda — mas também havia algo em seu modo direto, quase ríspido, que lembrava Sophie. Não era grosseria. Era apenas a franqueza natural de quem não joga com disfarces.

Depois de um breve silêncio, Indra decidiu dar um voto de confiança.

"Tudo aconteceu essa manhã." — começou. "Eu estava praticando o Fluxo Espiritual Harmonioso, como Sophie indicou. Mas... senti que tinha algo faltando. Era como se o fluxo estivesse incompleto, ou errado pra mim."

"Errado como?"

"Como se estivesse me forçando a seguir um ritmo que não era meu. Então, decidi testar as outras quatro técnicas básicas. Ao mesmo tempo."

Reid piscou.

"Você fez o quê?"

"Eu sei, é estranho." — disse Indra, rindo sem graça. "Mas eu tentei aplicar os princípios das cinco técnicas. Ainda que fossem contraditórios. E... aconteceu. As Veias começaram a se formar."

Reid demorou alguns segundos para responder. Seus olhos se estreitaram, mas não com desconfiança — com curiosidade genuína.

"Isso é... incomum. Muito incomum. Cultivadores geralmente seguem o caminho da serenidade e da repetição. Praticar múltiplas técnicas simultaneamente vai contra toda a tradição. Mas..." — ele respirou fundo. "Estamos falando da minha irmã. Faz sentido que ela tenha escolhido alguém fora da curva."

Ele se sentou ao lado de Indra, relaxando pela primeira vez.

"Sabe onde fica a sala do Professor Owen?"

Indra balançou a cabeça.

"Ainda não."

"Eu te levo. Podemos sentar juntos. Não tenho muitos amigos por aqui... e pelo jeito você também não conhece muita gente."

Indra sorriu levemente.

"Obrigado. Sinceramente, achei que você fosse meio carrancudo no começo."

"Eu sou." — Reid sorriu de volta, mas com um brilho irônico no olhar. "Mas às vezes sou educado."

O sino da Academia soou, reverberando por todo o salão como uma nota sustentada de algum instrumento antigo.

Indra e Reid se levantaram juntos. Os murmúrios ao redor diminuíram à medida que os alunos começavam a se mover para suas respectivas aulas. Ambos caminharam lado a lado, cruzando os corredores dourados da Academia até a porta dupla que levava à aula de Teoria do Combate.

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A porta da sala se abriu com um rangido suave, e Indra e Reid entraram. O ambiente era vasto, com fileiras de carteiras largas e confortáveis, dispostas em meia-lua diante de um grande tablado de mármore negro. Acima da lousa de cristal arcano, flutuavam símbolos e runas que brilhavam em tons dourados, como se a própria sala respirasse conhecimento.

"Vamos no meio?" — perguntou Reid.

Indra assentiu. Ambos se sentaram no centro da fileira do meio, em uma posição que lhes permitiria ver o professor com clareza e ouvir cada palavra dita. Pouco a pouco, os outros alunos foram preenchendo as cadeiras. Uniformes de diferentes cortes e cores indicavam suas afiliações ou a preferência estética de seus Clãs. Um burburinho constante preenchia o ar, mas não havia caos — tudo era regido por uma ordem silenciosa, quase ritualística.

Então, a porta ao fundo se abriu mais uma vez.

Um homem alto entrou. Usava um sobretudo azul-escuro com detalhes prateados, e seus olhos eram de um âmbar profundo, como âmbar fundido em fogo. Seu cabelo era curto, grisalho nas têmporas, e a forma como caminhava deixava claro que cada passo era deliberado. Ele não precisava de gestos teatrais — sua presença bastava.

"Saudações." — disse, sua voz firme e clara. "Sou Owen, Professor de Teoria do Combate."

Um silêncio respeitoso se formou na sala. Owen deixou sua bolsa de couro arcano sobre a mesa de cristal e prosseguiu.

"Nesta disciplina, não aprenderão a brandir espadas, conjurar feitiços ou moldar o mundo ao redor com vontade. Aqui, vocês aprenderão o porquê dessas coisas. Por que existem técnicas. Por que existem Caminhos. Por que existem limites... e como superá-los." — Ele fez uma pausa. "Comecemos com o essencial: os Nove Caminhos."

Com um gesto da mão, nove símbolos cintilaram no ar, flutuando diante da lousa mágica. Cada um representava uma Energia e uma filosofia diferente.

"Cultivadores usam Qi. Domínio do próprio corpo e espírito. O Qi flui como um rio interno, conectando pontos de energia em veias e meridianos. É o Caminho da autodisciplina, do crescimento interior."

"Guerreiros Mágicos usam Poder Mágico. A fusão do Qi com Mana. Uma arte híbrida que fortalece o físico e a magia em igual medida. Guerreiros Mágicos são armas vivas, forjadas para equilíbrio e destruição."

"Guerreiros usam Aura. Manifestação pura da vontade. Aura é energia bruta convertida em força, reflexos e resistência. Um Guerreiro sem magia, mas com coragem suficiente para moldar o mundo à sua força."

"Magos usam Mana. A manipulação de elementos arcanos externos. Magos desenham feitiços, runas e círculos através da matemática da existência. Requer intelecto e precisão."

"Espiritualistas usam Prana. Conexão com o ciclo da vida e da alma. O Prana é a respiração vital de todas as coisas. Espiritualistas curam, purificam e conversam com os mortos e ancestrais."

"Sacerdotes usam Poder Divino. Canalização da fé em entidades superiores. A energia divina flui de pactos com Deuses. Não pode ser forçada — apenas recebida por quem é digno."

"Bruxos usam Energia Demoníaca. Extraída de entidades infernais. É um Caminho de risco e poder. Seus usuários negociam com o proibido e pagam o preço com o que têm... e o que são."

"Feiticeiros usam Poder Espiritual. Eles despertam o espírito interior. Diferente dos Espiritualistas, que leem, os Feiticeiros se tornam parte do que está além. São condutores vivos de energia ancestral."

"Elementalistas usam Éter. O Éter é a linguagem primordial dos elementos. É instável, antigo, e só pode ser manipulado por aqueles que sintonizam corpo e emoção com a natureza pura."

Ele deu um tempo para que todos pudessem absorver a informação.

"É comum ouvir debates sobre qual Caminho é o mais poderoso. Mas deixem-me ser claro: não existe Caminho superior. Apenas Caminhos diferentes."

Nesse momento, uma risada curta e arrogante quebrou o silêncio. Veio de um garoto sentado na fileira da frente. Cabelos loiros encaracolados, olhos verdes brilhantes de vaidade, postura relaxada demais para o ambiente.

Owen voltou seu olhar calmo para ele.

"Algo engraçado, senhor...?"

O garoto ergueu os ombros com falsa inocência.

"Apenas acho... curioso. Todos aqui sabem que Elementalistas, Feiticeiros e Cultivadores superam os outros Caminhos em combate. Isso é fato, não opinião."

O silêncio na sala se intensificou. Alguns estudantes trocaram olhares incertos. Outros franziram o cenho.

"Uma teoria interessante. Nome?"

"Kade Rockefeller, Clã Rockefeller, um dos Nove Grandes."

Owen apenas assentiu.

"Obrigado, Kade. Agora, alguém gostaria de explicar por que Kade está errado?"

Várias mãos hesitaram, mas uma se ergueu com firmeza. Seus dedos eram longos, pálidos, e a mão parecia brilhar levemente sob a luz da sala.

"Sim? Levante-se. Nome e Clã."

A jovem se ergueu com elegância.

"Aurora Bianchi. Represento o Clã Bianchi, especializados no Caminho dos Cultivadores."

Indra imediatamente ficou mais atento. Sophie mencionara os Bianchi em suas explicações. O nome vinha com peso.

Aurora tinha cabelos longos e prateados, que reluziam como névoa ao luar. Seus olhos dourados eram hipnóticos, e sua voz clara cortava o silêncio com serenidade.

"Kade não está inteiramente errado ao dizer que Cultivadores, Elementalistas e Feiticeiros têm maior eficácia ofensiva. Mas isso não os torna superiores. Os Espiritualistas e Sacerdotes, por exemplo, são fundamentais em batalhas prolongadas, graças à cura e suporte. Sem eles, dezenas de vitórias teriam sido derrotas."

Ela começou a andar entre as carteiras, confiante.

"Os Guerreiros, com sua Aura, são escudos inquebráveis na linha de frente. Os Guerreiros Mágicos unem força e flexibilidade como poucos. Bruxos e Sacerdotes são opostos, sim — mas ambos lidam com forças que extrapolam a lógica. E os Magos, mesmo instáveis, oferecem poder de escala devastadora. Subestimar qualquer Caminho é ignorância."

Ela parou e encarou Owen. Este sorriu com aprovação.

"Excelente resposta, senhorita Bianchi." — Ele então se virou para Kade. "Algum comentário?"

O loiro apenas cruzou os braços e ficou em silêncio. Owen voltou-se à turma.

"Lição número um: poder não está no tipo de energia. Está no domínio sobre ela."

Após um breve silêncio, ele seguiu.

"Um Paranormal só evolui verdadeiramente quando encontra uma técnica de refinamento da alma compatível com seu Núcleo Interno. Tentativas de forçar técnicas antagônicas à sua Energia são, na melhor das hipóteses, ineficientes. Na pior... perigosas."

Owen caminhou entre os corredores.

"Misturar técnicas contraditórias causa conflitos internos no fluxo de energia. Se você tentar mover seu Qi como um Cultivador e, logo em seguida, girar sua aura como um Guerreiro... os fluxos se anulam. Mesmo se a técnica não for antagônica, praticar múltiplos estilos em pouco tempo só dispersa o foco."

Nesse momento, Reid cutucou discretamente Indra com o cotovelo.

"Tá vendo? Por isso você é estranho pra caramba."

Indra reprimiu uma risada, olhando de canto.

"Eu sei... não faz sentido nenhum."

Mas dentro de si, a dúvida voltava. O que havia acontecido com ele? Como aquilo tudo funcionava com ele, se tudo o que Owen dizia parecia contrariar sua experiência?

Antes que pudesse se aprofundar nos pensamentos, Owen retomou o foco da aula.

"Agora falemos dos Contratos com Bestas Espirituais."

A projeção mágica sobre a lousa mudou, revelando a silhueta de uma criatura mitológica. Um lobo com olhos flamejantes e chifres espirais de cristal.

"Espíritos de batalha. Companheiros de alma. Chamem como quiserem. As Bestas Espirituais são entidades que ressoam com o Núcleo e a Alma Refinada de um Paranormal. Fazer um contrato com uma delas é raro... e poderoso. Mas exige mais do que força. Exige sintonia."

Enquanto o professor falava, uma imagem invadiu a mente de Indra sem aviso.

O gato.

Os olhos rosa-choque. As pontas roxas. O toque leve e, ainda assim, inquietante. Ele se lembrava nitidamente da sensação que teve — não de um animal comum, mas de algo que o observava. Que o havia escolhido.

Indra engoliu em seco.

Talvez aquele gato não fosse um gato.

Talvez fosse um sinal.

Um presságio.

E pela primeira vez desde que chegou ao Outro Lado, ele sentiu, com todas as fibras do seu ser, que algo maior se aproximava.

Algo inevitável.