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Capítulo 177 – A Horda de Formigas (Parte 1)

O som de motores aumentava, acompanhado por estalos rápidos e um eco arrepiante — como milhares de facas arranhando metal e osso — entrecortado por tiros.

Todos se viraram para a janela de trás, confusos com os sons estranhos.

No banco do passageiro, os olhos de Natália se estreitaram. Ela ativou sua percepção mental.

Fios finos de energia psíquica se estenderam para a direita.

Eles se moveram como serpentes, velozes, até pararem a cem metros — o limite da sua detecção.

Ela sentiu centenas de presenças, todas com nível de força pelo menos equivalente ao Nível 1, com algumas chegando ao Nível 2.

Sem dúvida, eram bestas mutantes.

Eram mais de cem… e pareciam estar perseguindo algo.

A Rua das Cinzas era estreita, mal cabia um carro por vez.

Enfrentar uma horda em um espaço tão apertado seria um pesadelo.

A missão de Natália ali já estava concluída. Não havia mais sinais de humanos na área. Provavelmente, os parentes de Gustavo já tinham se mudado para a base.

— Gustavo, não sinto a presença da sua tia por aqui. Acho que eles já foram para a base. E algo está vindo na nossa direção — é melhor sairmos daqui.

Gustavo já tinha visto do que Natália era capaz na caçada aos ratos mutantes.

Por alguma razão que ele desconhecia, ela conseguia localizar os monstros com uma precisão assustadora.

Ele não questionou. Apenas assentiu:

— Tá bom, mana.

— Fica tranquilo. Vamos encontrá-los.

Natália avisou Henrique e os outros para se prepararem.

— Eu também senti algo — confirmou Henrique. Seu instinto gritava para saírem dali o mais rápido possível. Ele pisou no acelerador, fazendo a Land Rover dar ré.

Ao saírem do bairro, viram três carros logo à frente. Atrás deles, uma horda de formigas negras avançava.

A menor delas era do tamanho de uma melancia; a maior, tão grande quanto um cachorro mastim.

[Mutante Menor de Nível 1 – Formiga Mutante Comum]

Atributo: Força

As formigas de Nível 1 tinham um exoesqueleto negro com finas linhas verdes brilhantes, lembrando esporos de fungo fosforescente.

Suas mandíbulas pareciam navalhas, capazes de esmagar ossos com facilidade.

[Mutante de Nível 2 – Formiga Soldado]

Atributo: Ácido

As Formigas Soldado tinham o exoesqueleto mais escuro, placas mais grossas para defesa e mandíbulas ainda mais longas e afiadas.

Natália franziu a testa. Já tinha enfrentado essas criaturas antes.

Essas formigas conseguiam cuspir um líquido corrosivo a até três metros de distância — capaz de derreter aço, painéis de alumínio, janelas, para-brisas, pneus e muito mais.

Com sua percepção, ela detectou ao menos dez Formigas Soldado. Ela já via marcas de ácido nos carros à frente. Aqueles veículos não durariam muito.

As pessoas dentro daqueles carros foram bem azaradas ao irritarem as formigas mutantes.

Esses insetos eram extremamente territoriais. Qualquer humano ou besta que entrasse em sua área era atacado sem piedade.

— Caraca! Eu tô sonhando? Aquilo é uma formiga gigante! — Renato beliscou a própria bochecha, tentando acreditar no que via.

Bianca, por outro lado, riu nervosa:

— Pelo menos não é uma barata! Já pensou uma barata voadora desse tamanho? Aí sim eu morria de nojo!

— Para de falar besteira!

— E aí, a gente ajuda eles ou não?

Natália estava prestes a ajudar os ocupantes dos carros, mas então o pequeno Gustavo falou, com os olhos arregalados:

— São eles! Aqueles que perseguiram eu e meu pai! Se ele não fosse bom dirigindo, a gente teria sido pego. Nunca vou esquecer daquele carro azul com um desenho de caveira! Eles também capturavam sobreviventes e roubavam tudo. Quem não entregava os mantimentos, eles matavam!

A voz de Gustavo falhou enquanto ele revivia o trauma.

Se não fossem por aquelas pessoas, eles teriam chegado na base. Talvez seu pai ainda estivesse vivo.

O clima dentro do carro mudou completamente.

Gustavo chorava ao lembrar da tragédia.

Natália tomou sua decisão:

— Vamos embora.

Ela não iria arriscar salvar monstros de aparência humana. Já tinha conhecido todo tipo de gente… e os sentimentos do garoto eram reais.

Henrique deu marcha à ré e saiu rapidamente do bairro, olhos fixos na estrada.

De repente, Natália arregalou os olhos.

Acima do carro do meio, uma janela azul brilhava no ar:

[Ponto de Recurso]

Um ponto de recurso?

Na estrada entre o supermercado e a Rua das Cinzas, vários carros estavam sendo perseguidos.

Os ocupantes do carro do meio estavam apavorados.

Um dos homens, ao tentar recarregar, percebeu que só tinha quatro balas restantes.

— Gu, a gente tá sem munição! O que a gente faz? Eu não quero morrer aqui!

— Elas tão chegando perto demais!

O passageiro, chamado Gu, tentava desesperadamente contato pelo rádio. No colo, ele segurava uma mochila preta com um ovo branco enorme.

— Atende, maldição!

Uma das formigas soldado se aproximou do carro e cuspiu ácido.

Um chiado agudo soou quando o líquido corroeu o para-choque e o pneu traseiro esquerdo.

O pneu explodiu com um estampido, e o carro saiu da pista, colidindo com um prédio em um estrondo.

As mandíbulas das formigas rasgaram a lataria como se fosse papel.

— Droga!

— Sai! Sai logo do carro!

— Gu! Me ajuda, Gu!

Mas os outros dois carros não pararam. Continuaram acelerando, cientes de que frear seria sentença de morte.

Os sobreviventes disparavam contra as formigas, mas eram muitas.

— AAAAAAH!

Gu ouvia os gritos horríveis dos ocupantes do carro de trás sendo massacrados.

Suas mãos tremiam ao segurar o rádio.

Os outros estavam tão apavorados quanto ele.

— Acelera! — gritou Gu para o motorista, cujo rosto estava coberto de suor frio.

Três minutos depois, alguém finalmente atendeu.

— Fala.

Gu explodiu de ansiedade:

— A gente conseguiu o que o chefe queria, irmão, mas precisa de reforço! Tem uma horda de formigas atrás da gente!

Ele lançou um olhar para o ovo branco.

Aquilo tinha custado toda a munição do grupo… e metade de seus homens.

Gu cerrava os punhos.

Eles iriam pagar por isso… em triplo.