CAPITULO 6 - SILÊNCIO, SAUDADE E SERVIÇO.

A estrada de volta à cidade era longa e silenciosa. Mas não de um silêncio ruim. Era daqueles carregados de pensamento e lembrança boa - da chuva, da cama, do café, do quase beijo.

No banco do passageiro, Laura olhava pela janela como se o vidro mostrasse nais do que paisagem.

- Você dirige feito quem doma cavalo selvagem - comentou, tentando esconder a voz falha.

- E você sente falta como quem nunca aprendeu a admitir - respondeu Rafaela, sem tirar os olhos da estrada.

O carro se encheu de riso abafado. E tensão contida.

Chegando à cidade, Rafaela encostou o carro na frente do prédio de Laura.

-Deixo você aqui. Tenho que resolver algumas coisas na clínica e depois...

- Depois?

- Depois preciso voar para uma fazenda do interior.

As chuvas foram mais violentas do que imaginavamos. Gado morto, curral alagado... Eles precisam de mim.

- Eu posso ir com você - disse Laura, no inpulso.

- E perder a pose de mulher que não se apega?

Laura riu.

Mas por dentro, algo já estava doendo antes mesmo de Rafaela partir.

VETERINARIA

Rafaela passou rapidamente pela clínica. Vitor, o auxiliar, já aguardava com planilhas e atualizações.

- Você cuida de tudo. Alimentação, medicamentos, atendimento emergencial.

E nada de tentar imitar minha receita de chá calmante. Você erra na canela.

- Vai demorar? - perguntou Vitor.

- Não sei. Só sei que preciso ir.

- E a Laura?

- Ela fica. Mas não sai do pensamento.

TRÊS DIAS DE SILÊNCIO

Laura checou o celular pela milésima vez.

Uma curtida num post antigo no X. Uma figurinha no grupo das amigas.

Nada de Rafaela.

No jornal do meio - dia, imagens aéreas da fazenda afetada: lama, vacas resgatadas, helicópteros.

E, no canto da tela, ela.

De jaleco, molhada, gritando ordens, salvando vidas.

Laura apertou o peito, sem perceber.

- Por que isso está me afetando tanto?

Na noite do segundo dia, mandou uma mensagem:

Esta tudo bem aí? Eu... pensei em você umas cinquenta vezes hoje.

Status: visualizada.

Nenhuma resposta.

No terceiro dia, Laura sonhou com Rafaela.

E acordou com a mão esticada na cama.

Vazia.

Mariana apareceu no apartamento.

- Você parece alguém que levou um fora de um casamento que nem aconteceu.

- Eu não levei fora. Ela só... sumiu.

- Esta apaixonada, né?

- Laura hesitou. Depois sorriu triste.

- Não sei. Só sei que quando ela não responde, eu fico menos eu.