Rafaela foi bater na porta do quarto de hópedes com intenção mais pura possível:
- Chamar Laura para tomar café.
Mas ao girar a maçaneta, esqueceu da intenção.
Porque o que viu foi:
Laura. De costas. Nua.
A luz da manhã entrava suave pela janela de madeira.
Laura procurava a blusa na mala, distraída, cantarolando baixinho uma música da Marisa Monte.
Quando percebeu a presença, parou - mas não correu para se cobrir.
Rafaela congelou.
Um segundo. Dois. Três segundos eternos.
- Bom dia? - Laura virou - se devagar, segurando a blusa contra o corpo.
- Eu... bom dia... eu...café! - Rafaela se virou tão rapido que quase bateu na quina da porta.
COZINHA DE DONA TEREZA
A mesa era simples, mas farta: pão de queijo, bolo de fubá, frutas, café coado no pano.
Dona Tereza, mulher de olhar doce e mãos ágeis, sorriu ao ver Laura entrar.
- Dormiu bem moça bonita?
- Melhor do que imaginava. Só não esperava receber a visita da minha... quase- esposa antes da roupa estar no lugar - respondeu Laura, com um sorriso malandro.
Rafaela já estava na mesa, concentrada demais na xícara, como se o café fosse segurar sua reputação.
- Agente devia falar do contrato - disse Rafaela, tentando mudar de assunto.
- A gente devia falar sobre portas trancadas antes - provocou Laura.
Dona Tereza riu baixinho.
- Isso vai virar casamento ou novela das nove, meninas?
O clima amenizou.
Mas dentro de Rafaela, algo fervia.
E dentro da Laura, algo queria mais do que café.
- Obrigada por me receber aqui - disse Laura.
- Eu nunca recebo ninguém aqui.
- Então por que eu?
Rafaela não respondeu.
Apenas olhou. Com um olhar que dizia:
" Você entrou por uma porta que nem eu sabia que existia."