CAPITULO 9 - DESEJO À PORTA, CAFÉ NA MESA.

Rafaela foi bater na porta do quarto de hópedes com intenção mais pura possível:

- Chamar Laura para tomar café.

Mas ao girar a maçaneta, esqueceu da intenção.

Porque o que viu foi:

Laura. De costas. Nua.

A luz da manhã entrava suave pela janela de madeira.

Laura procurava a blusa na mala, distraída, cantarolando baixinho uma música da Marisa Monte.

Quando percebeu a presença, parou - mas não correu para se cobrir.

Rafaela congelou.

Um segundo. Dois. Três segundos eternos.

- Bom dia? - Laura virou - se devagar, segurando a blusa contra o corpo.

- Eu... bom dia... eu...café! - Rafaela se virou tão rapido que quase bateu na quina da porta.

COZINHA DE DONA TEREZA

A mesa era simples, mas farta: pão de queijo, bolo de fubá, frutas, café coado no pano.

Dona Tereza, mulher de olhar doce e mãos ágeis, sorriu ao ver Laura entrar.

- Dormiu bem moça bonita?

- Melhor do que imaginava. Só não esperava receber a visita da minha... quase- esposa antes da roupa estar no lugar - respondeu Laura, com um sorriso malandro.

Rafaela já estava na mesa, concentrada demais na xícara, como se o café fosse segurar sua reputação.

- Agente devia falar do contrato - disse Rafaela, tentando mudar de assunto.

- A gente devia falar sobre portas trancadas antes - provocou Laura.

Dona Tereza riu baixinho.

- Isso vai virar casamento ou novela das nove, meninas?

O clima amenizou.

Mas dentro de Rafaela, algo fervia.

E dentro da Laura, algo queria mais do que café.

- Obrigada por me receber aqui - disse Laura.

- Eu nunca recebo ninguém aqui.

- Então por que eu? 

Rafaela não respondeu.

Apenas olhou. Com um olhar que dizia:

" Você entrou por uma porta que nem eu sabia que existia."