Cap 14

 O Invasor da Sombra

O templo tremia.

Kaela apertou o Orun contra o peito, sentindo o poder do cristal vibrar como um segundo coração. Riven a puxou pela mão, e juntos começaram a correr de volta pelo corredor que os levara até ali. Atrás, Lyra, Sira e Elenn seguiam em silêncio tenso, seus olhos atentos a cada som.

— Ele está aqui — disse Lyra. — O Lacrante.

— Ele veio sozinho? — sussurrou Sira.

— Não importa — respondeu Kaela, com a voz decidida. — Estamos levando o Orun. E ele terá que passar por nós.

Quando alcançaram novamente a plataforma suspensa dos portais, a temperatura caiu. O chão, que antes parecia de pedra quente, agora estalava sob uma fina camada de gelo. E então ele surgiu: alto, encapuzado, os olhos ocos de luz púrpura. A própria sombra parecia curvar-se diante dele.

— O Orun não pertence aos fracos — disse ele, a voz tão profunda que parecia vir do próprio templo. — A Rainha o reclamará. Vocês, pequenas chamas, serão apagadas.

Kaela empunhou a Condutora. A lâmina brilhou com um tom laranja intenso, respondendo à presença da escuridão.

— E você, sombra sem nome, cairá aqui.

O Lacrante ergueu uma mão. Correntes de trevas dispararam em direção ao grupo. Lyra ergueu um escudo de luz, que estalou ao contato. Elenn conjurou marcas rúnicas no chão. Sira disparou flechas encantadas, mas o Lacrante apenas moveu o braço, desfazendo-as no ar.

Riven correu pelo flanco esquerdo, girando suas correntes flamejantes. Conseguiu prender uma das pernas do inimigo, que cambaleou, mas contra-atacou com um golpe de energia que o lançou contra uma coluna.

Kaela gritou e investiu. A espada encontrou resistência: não física, mas mental. A cada golpe, era como se o Lacrante tentasse invadir sua mente, sussurrando dúvidas, medos, culpas antigas.

— Você não é digna. Você falhou. Você é só uma criança com um brinquedo de fogo.

Kaela fechou os olhos por um instante. Pensou em sua mãe. Em Lyra. Em Riven caído. E no brilho do Orun em sua mão.

— Eu sou chama. Mas sou mais do que isso. Sou escolha!

E, com um golpe certeiro, atravessou o peitoral do Lacrante. Um grito rasgou o templo. O corpo se fragmentou em cinzas negras, e o ar voltou a se aquecer.

Riven tossiu, tentando se erguer. Lyra correu até ele, aplicando um feitiço de cura. Sira ajudava Elenn, que estava exausta de manter as barreiras.

Kaela se ajoelhou. O Orun ainda brilhava, mas agora sua luz era suave, calma.

— Ele era só o primeiro — disse Lyra, sombria. — Celenya virá com mais.

— Que venha — respondeu Kaela, erguendo o cristal. — Porque agora, nós temos esperança.

E, pela primeira vez, o templo deixou que sua luz subisse aos céus. Um farol alaranjado cortando a noite. Um sinal de que a chama se recusava a morrer.