Cap 20

A Última Luz de Elyrion

Elyrion tremia sob os tambores da guerra.

Os céus estavam tingidos de vermelho quando Kaela retornou. Em sua presença, o Orun irradiava luz dourada e púrpura, como se a própria essência do tempo escorresse de suas mãos. Ao seu lado vinham Riven, Lyra, Sira e o Guardião Nahrem, trazendo consigo a força de Vael-Mir desperta — e um juramento que não permitia mais recuos.

As muralhas estavam repletas de arqueiros, conjuradores e guerreiros voluntários de todas as terras que responderam ao chamado. Homens e mulheres com brasões há muito esquecidos, empunhando armas encantadas e corações inflamados.

No centro da praça, a Assembleia de Cristal transmitia a imagem de Kaela para os espelhos de comunicação — cada canto do continente a ouvia.

— A escuridão chegou à nossa porta — disse ela, sua voz clara como aço polido. — Mas não seremos nós os que se ajoelham. Seremos os que se erguem. Por cada criança levada. Por cada vila destruída. Por cada nome esquecido. Hoje, Elyrion não é apenas uma cidade. É o coração da resistência.

Do alto das torres, os batedores gritaram:

— As tropas da Coroa estão a três quilômetros! Lacrantes com eles!

Kaela apertou a Condutora. Sentia o Orun chamando. Não com medo — mas com necessidade.

Ela fechou os olhos. E a luz explodiu.

O campo de batalha se estendia para além das muralhas. Celenya vinha não com um exército comum, mas com horrores esculpidos em sombra viva. Os Lacrantes lideravam as fileiras — corpos imortais, movidos por dor e sangue.

E então ela surgiu.

A Rainha.

Vestida de vermelho profundo, cabelos presos por correntes de ossos e olhos brilhando com o reflexo distorcido do Orun corrompido. Ela flutuava acima de suas tropas, como um eclipse sobre a luz da manhã.

— Kaela! — gritou ela, e sua voz rasgou os céus. — Entregue-se e eu pouparei os seus. Resista, e morrerão pela sua arrogância.

Kaela caminhou até o campo aberto entre os exércitos.

— Você é a corrupção. O erro que nunca foi corrigido. E hoje, eu sou a escolha que o Orun fez. E ele... escolheu não temer você.

A Rainha gritou. As sombras avançaram.

Elyrion respondeu com luz.

A batalha foi caos e destino entrelaçados. Riven lutava com as correntes de fogo, abrindo caminho entre Lacrantes. Sira liderava as arqueiras, cada flecha uma estrela cadente. Lyra conjurava muralhas vivas, transformando o campo num labirinto luminoso. Nahrem enfrentava os generais corrompidos, as runas em seu corpo queimando como brasas antigas.

Kaela se movia como um cometa.

Onde passava, o Orun explodia em rajadas de esperança. E a cada inimigo derrotado, mais fragmentos da verdade lhe eram revelados. Os Lacrantes não eram apenas soldados: eram almas presas, consumidas pela Rainha para alimentar seu poder.

Ela gritou quando reconheceu o rosto de uma antiga mentora entre os olhos vazios de um inimigo. E ali, a chama se tornou tempestade.

No centro do campo, Kaela e Celenya finalmente se enfrentaram. A Condutora contra a Lâmina de Sombra. O Orun contra o Fragmento Negro.

— Você não entende o que está tentando deter! — gritou Celenya, furiosa. — Eu não busco destruição. Eu busco reinício. Um mundo sem dor, sem dúvida, sem escolha.

— Um mundo sem escolha... é um mundo sem alma! — rebateu Kaela.

Elas colidiram.

O céu partiu-se.

Chamas e trevas engoliram o campo. Os dois Oruns se chocaram, criando uma onda de energia que derrubou ambos os exércitos.

E então, silêncio.

Kaela acordou sobre pedras frias. O campo estava vazio. Apenas ela e Celenya restavam. A Rainha estava ajoelhada, ferida, o Fragmento Negro rachado em sua mão.

— Você... destruiu tudo — murmurou.

Kaela se aproximou. A Condutora ainda brilhava, mas agora, com um tom suave, quase triste.

— Eu escolhi salvar. Você escolheu dominar. O Orun sabe a diferença.

Ela estendeu a mão.

— Ainda há tempo. Ainda há perdão.

Mas Celenya riu. E desapareceu nas sombras, deixando apenas cinzas onde estivera.

Elyrion havia resistido. Mas ao custo de muitos.

Os corpos foram queimados com honra. Os nomes, gravados nas paredes da torre principal. Kaela permaneceu dias em silêncio, acompanhando cada ritual, cada luto.

Riven se sentou ao lado dela certa noite.

— Você venceu. Mas parece que perdeu algo também.

Kaela o olhou.

— Quando você carrega a esperança... aprende que ela também pesa. Mas sim, vencemos. Por agora.

Lyra chegou com uma carta. Um novo selo. Um novo mapa.

— Notícias de Khar-Den. O norte está inquieto. E dizem que um dos Fragmentos foi encontrado nas ruínas de Grelharn.

Kaela se ergueu. A Condutora brilhou em sua cintura.

— Então é hora de partir.

Riven sorriu.

— Vai mesmo? Já queimar outro continente?

— Ainda restam fragmentos — respondeu ela. — E sombras. E se o Orun me escolheu para reacender o mundo... então ainda não terminei.

Ela olhou para o horizonte. Uma nova trilha de fogo surgia.

Fim do Livro 1 — Chama Vermelha