O Sussurro na Pedra

— Você tem certeza de que é por aqui? — A voz de Elara cortou o silêncio, uma lâmina de ceticismo afiado contra o ar parado. — Kael, nós já passamos por essa mesma pilha de entulho três vezes. Eu juro que aquele rato morto até piscou pra mim na última vez.

Um sorriso contido se formou em meus lábios. Paciência, Elara. Apenas um pouco mais de paciência. Eu ri, um som abafado pelo ar frio da periferia, e me lancei sobre uma viga de madeira podre, aterrissando com uma agilidade que minhas roupas gastas não sugeriam. — É que você não tem o espírito aventureiro, Elara. Isso não é entulho, são as ruínas de uma era esquecida! Talvez aqui ficasse o castelo de um rei antigo!

— Ou a latrina de um rei antigo — ela retrucou, cruzando a viga com uma cautela resignada. Seus cabelos escuros e curtos balançaram com o movimento, e seus olhos, práticos e afiados, varreram os arredores. — De qualquer forma, o cheiro é o mesmo. Qual o objetivo disso tudo, mesmo? Viemos aqui para você "respirar", mas tudo que eu sinto é cheiro de mofo e arrependimento.

— O objetivo é... respirar. — Parei e abri os braços, inspirando um ar que, mesmo ali, parecia menos viciado. Respirar um ar que não tenha o gosto de carvão e desesperança. — Sair daquele amontoado de pedra e desespero por algumas horas. Ver algo que não seja a cara de um guarda corrupto ou o fundo de uma caneca vazia. Olhe! — Apontei para o vale.

A cidade de Oakhaven se estendia abaixo de nós, uma mancha de telhados cinzentos e marrons espremida entre as montanhas. Não havia beleza em sua arquitetura; era uma colmeia funcional e brutal, construída sobre as ruínas de algo mais grandioso. Chaminés cuspiam uma fumaça perene, um véu oleoso que se misturava à névoa, garantindo que o sol raramente tocasse as ruas mais baixas. De lá, subia um zumbido constante: o ranger de carroças, o martelar distante de ferreiros e o murmúrio indistinto de milhares de vidas presas. Para mim, era uma prisão a céu aberto.

Elara seguiu meu olhar, o pequeno sorriso desaparecendo. — É, eu sei. Mas é a nossa prisão, Kael. Pelo menos aqui nós conhecemos as grades.

As grades, pensei amargamente. Ela se conforma com elas. Eu não consigo. A resignação em sua voz me atingiu com uma pontada de solidão. Era sempre assim. Eu sonhava em fugir, ela em sobreviver. Viver na cidade era como estar perpetuamente submerso em água suja. Às vezes, era preciso vir à superfície para não se afogar. Nossa amizade era a única coisa sólida em um mundo que parecia sempre prestes a desmoronar.

Enquanto eu saltava sobre uma fissura no chão, meu pé escorregou na pedra úmida. Antes que eu pudesse perder o equilíbrio, a mão de Elara disparou e agarrou meu pulso, firme e segura. Ela me puxou de volta com um grunhido. "Idiota", ela murmurou, mas um pequeno sorriso traiu sua repreensão. "Preste atenção onde pisa". Eu sorri de volta, um agradecimento silencioso que ela entendeu perfeitamente.

Continuamos a caminhada, afastando-nos ainda mais da silhueta da cidade. Aqui, na encosta da montanha, a natureza lutava para reconquistar seu espaço. Árvores retorcidas brotavam entre fundações de pedra e trepadeiras cobriam muros que um dia pertenceram a alguém.

Foi então que eu vi.

— Elara... olhe.

Não era uma pilha de entulho. Era uma estrutura. Escondida pela vegetação e parcialmente soterrada pelo tempo, havia uma entrada. Arcos de pedra negra, lisos e sem juntas, formavam um portal que levava para a escuridão da montanha. As pedras eram cobertas por gravuras, padrões geométricos complexos que pareciam pulsar suavemente sob a luz pálida do dia, quase como se estivessem vivos.

— Pelos deuses... — sussurrou Elara, seus olhos arregalados. — Isso... é antigo. Mais antigo que a cidade.

Um arrepio percorreu minha espinha, uma mistura de medo e fascínio. Eu sabia. Eu sabia que havia algo mais. Era como eu havia imaginado. Um segredo do "Passado Perdido" que todos diziam não existir. Uma intuição, um sexto sentido, me puxava para frente.

— Vamos entrar — eu disse, a voz baixa e cheia de reverência.

— Você enlouqueceu? Definitivamente enlouqueceu. — Elara agarrou meu braço, com força. — Kael, lugares como este... não são para nós. As histórias dizem que eles foram selados por um motivo. Lembra do que o velho Aris sempre diz?

— "Há coisas mais antigas que a ferrugem e a ganância nesta cidade." — Completei a frase, impaciente. — Histórias contadas por quem? Pelos mesmos que nos deixam passar fome? É só uma olhada. Prometo. Quando teremos outra chance de ver algo assim?

Hesitante, ela cedeu, soltando meu braço. — Cinco minutos. Se eu sentir qualquer coisa estranha, eu te arrasto para fora pelos cabelos. E você vai me dever o pão de amanhã. Pelos deuses, Kael, você é impossível.

O ar dentro da caverna era gélido e imóvel, um frio que roubava o fôlego e se agarrava à minha pele. O cheiro de terra úmida e pedra era avassalador, mas havia algo mais por baixo... um odor metálico, como o de ozônio após uma tempestade, que fazia os pelos de meus braços se arrepiarem. As paredes eram lisas ao toque, frias como gelo, e as gravuras continuavam para dentro, perdendo-se na escuridão.

Dei alguns passos para dentro, enquanto Elara permanecia na entrada, uma silhueta nervosa contra a luz.

— Não tem nada aqui, Kael. É só um buraco vazi...

Ela foi interrompida pelo som que veio do fundo da escuridão. Não, não era um som. Era uma palavra, sussurrada diretamente na minha mente. Tão clara quanto a voz dela, mas sem som algum. Uma invasão fria e precisa.

...Ruby...

A palavra foi uma chave, abrindo uma porta em minha mente para um abismo de vertigem. A caverna girou. As gravuras nas paredes pareceram se contorcer, se liquefazer. Uma dor aguda explodiu atrás de meus olhos, e a escuridão que habitava a caverna me engoliu por completo. A última coisa que ouvi foi o grito de Elara chamando meu nome.

— Kael! Kael, acorde!

Pisquei, a luz da entrada da caverna uma mancha dolorosa em minha visão. O rosto de Elara estava a centímetros do meu, vincado pela preocupação. Ela me sacudia pelos ombros, suas mãos pequenas, mas firmes.

— O que... o que aconteceu? — minha voz saiu rouca, a garganta seca.

— Você desmaiou! — ela exclamou, a voz um misto de alívio e raiva. — Simplesmente caiu, como um saco de batatas! Eu te chamei e você não respondia. Pensei que...

Ela não terminou a frase. Eu me sentei, a cabeça latejando. Olhei ao redor. A caverna parecia normal de novo. Apenas um lugar escuro e frio. O sentimento de poder antigo havia se dissipado. Mas algo ficou para trás.

— Eu... eu não sei. Acho que o ar aqui dentro... — Tentei me levantar, mas cambaleei.

— Chega. Nós vamos embora. Agora. — Elara passou meu braço por seus ombros, me ajudando a firmar. — E você vai direto para o Doutor Aris. Não quero saber. E você ainda me deve o pão de amanhã.

A caminhada de volta foi silenciosa. Eu me sentia estranhamente vazio, mas ao mesmo tempo... cheio. Como se algo tivesse sido derramado dentro de mim, uma energia que eu não conseguia identificar, zumbindo sob minha pele. Eu não me lembrava do sussurro, não com clareza. Era apenas um eco, a memória de um som que talvez eu tivesse imaginado.

O consultório do Doutor Aris era um dos poucos lugares na cidade baixa que oferecia algum conforto. Cheirava a ervas secas e anti-sépticos, e o velho doutor, com seus óculos tortos e cabelos brancos desgrenhados, era uma presença calmante.

— Pelos deuses, o que aconteceu com ele? — Aris perguntou assim que Elara me ajudou a sentar em um banco.

— Ele desmaiou — disse Elara, a urgência em sua voz. — Estávamos na encosta da montanha, perto de umas ruínas antigas. Ele entrou e simplesmente apagou.

Aris parou o que estava fazendo, seu olhar tornando-se sério. Ele se aproximou e passou uma pequena lanterna pelos meus olhos. — Ruínas, você diz? As de pedra negra? Fiquem longe desses lugares, crianças. — Sua voz, antes apenas rouca, tornou-se tensa, e por um instante, seu olhar se perdeu em uma memória distante e dolorosa. — Há coisas mais antigas que a ferrugem e a ganância nesta cidade. Coisas que é melhor deixar adormecidas. Acreditem em mim. Você tocou em alguma coisa lá dentro, rapaz? Ouviu algo fora do comum?

Sim, pensei. Ouvi um nome. Senti... tudo. Mas as palavras não saíram. Como explicar algo que eu mesmo não entendia? Balancei a cabeça, a mentira parecendo fraca até para mim mesmo. — Não, senhor. Só... senti um calafrio e depois tudo ficou escuro.

O doutor continuou o exame. Verificou meu pulso, minha respiração, pressionou pontos em meu pescoço e cabeça. Por fim, recostou-se na cadeira, coçando a barba por fazer.

— Fisicamente, não há nada de errado com você. Pulso forte, respiração normal. Nenhuma febre. — Ele se inclinou para frente, os olhos me perscrutando. — Mas... como você se sente? De verdade.

Hesitei, olhando para Elara antes de responder. — Cansado. E um pouco... confuso. Como se eu estivesse ouvindo um zumbido muito baixo que ninguém mais consegue ouvir. Não está nos meus ouvidos. Está... nos meus ossos. É como uma corda de alaúde esticada demais dentro de mim, prestes a arrebentar.

O doutor assentiu lentamente, uma expressão sombria em seu rosto. — Descanse. Beba bastante água. E se essa corda começar a vibrar mais forte, ou se começar a ver coisas que não deveriam estar lá... volte a me ver. Imediatamente.

Saímos do consultório quando a noite começava a cair, pintando o céu com tons de roxo e laranja sujo. A avaliação do doutor, em vez de nos tranquilizar, apenas aumentou a inquietação.

— Zumbido nos ossos? — perguntou Elara, a voz baixa enquanto caminhávamos pelas ruas que se tornavam mais escuras e hostis. — Kael, o que realmente aconteceu lá?

— Eu não sei explicar. É como... eletricidade. No meu sangue. — Esfreguei os braços, embora não sentisse frio. É como se uma parte daquela caverna tivesse vindo comigo.

A noite na cidade baixa era um labirinto de sombras e perigos. Precisávamos de um lugar seguro, e nos dirigimos ao distrito dos armazéns, uma área de esqueletos de madeira e pedra onde o cheiro de mofo e ratos era o perfume dominante. Foi lá, entre as carcaças de negócios falidos, que o destino nos encontrou.

Agachados atrás de uma pilha de barris velhos, ouvimos as vozes. O Sargento Valerius, um homem cuja barriga testava os limites de seu uniforme da guarda, falava em sussurros conspiratórios com uma figura encapuzada que exalava a quietude de uma aranha.

— ...o carregamento de grãos do Cais Norte chega depois de amanhã — dizia a figura encapuzada, a voz um raspar de faca na pedra. — A Sombra quer que ele desapareça. Uma fome controlada nos bairros baixos por algumas semanas, e nosso próprio estoque valerá ouro.

Ouro, pensei com nojo, sentindo o zumbido em meus ossos pulsar com uma raiva fria. Eles vão matar pessoas de fome por ouro. A mesma história de sempre. Os fortes devorando os fracos.

Valerius bufou, o suor brilhando em sua testa. — Ouro do qual eu espero ver uma boa parte. Silenciar aqueles trabalhadores curiosos do cais já me custou caro. Eles estavam começando a fazer as perguntas erradas.

— Você terá sua recompensa quando o trabalho estiver feito — a figura prometeu. — Apenas garanta que não haja mais... obstáculos.

Um passo em falso. Uma pedra solta que rolou sob meu pé, que ainda se sentia instável. O som, embora pequeno, foi como um trovão no silêncio tenso. As vozes pararam.

— Quem está aí? — rosnou Valerius, a mão já no cabo da espada.

O pânico foi uma explosão de gelo e fogo. Corremos. A perseguição começou, um pesadelo de pés batendo em paralelepípedos e gritos ecoando pelas vielas. Nós conhecíamos aquelas ruas, mas nossos perseguidores as possuíam. Subimos por uma escada de incêndio enferrujada, o metal gemendo sob nossos pés. No topo, corremos por telhados irregulares, saltando sobre vãos escuros que prometiam uma queda fatal. Abaixo, a cidade era um monstro adormecido, suas luzes fracas piscando como olhos malévolos.

O ar queimava meus pulmões. Descemos por um beco estreito, o fedor de um curtume nos sufocando. O som das botas pesadas de nossos perseguidores estava cada vez mais perto. Viramos uma esquina e demos de cara com um muro. Um beco sem saída. O fim da linha.

Valerius e três de seus capangas bloquearam a única saída, suas silhuetas recortadas contra a luz distante de uma tocha. O sargento sorria, um sorriso cruel e satisfeito.

— Bem, bem. O que temos aqui? — disse ele, saboreando o momento. — Ratinhos que ouviram o que não deviam. Uma pena. Sem testemunhas.

Elara se colocou na minha frente, os braços abertos, o corpo tremendo, mas a determinação em seus olhos era de aço. — Deixe-o em paz! Ele não está bem, não sabe de nada!

— Não importa — riu Valerius.

Um dos capangas avançou, um porrete na mão. Elara olhou para mim por cima do ombro, e naquele instante, o tempo se dobrou. Eu não vi apenas minha amiga; vi a garotinha de sete anos que dividiu comigo o último pedaço de pão em um inverno rigoroso, o rosto sujo de fuligem e o sorriso teimoso. Vi a adolescente que me ensinou a dar um nó que não se soltava, e cuja risada ecoou naquele mesmo distrito quando tropecei e caí em uma poça de lama. Vi tudo isso em seus olhos, um vislumbre de toda a vida que compartilhamos. — Não deixe que eles te apaguem, Kael.

O som do golpe foi surdo, doentio, um som úmido de osso se partindo.

Por um milissegundo, meu mundo ficou mudo. O ar em meus pulmões se transformou em vidro. Cada som, cada cheiro, cada sensação tátil do beco imundo foi instantaneamente apagada. Eu vi o corpo dela ser jogado para o lado, não como uma pessoa, mas como um objeto. Vi-a cair sem um grito, um boneco quebrado no chão imundo. Vi seus olhos, que segundos antes continham um universo de teimosia e lealdade, agora vazios, fixos em algo que eu não podia ver. Vi o sangue escuro começar a manchar as pedras ao redor de sua cabeça, uma poça crescente que roubava o calor do mundo.

E então o som retornou, não como uma onda, mas como uma estaca cravada em meus ouvidos, e com ele, a realidade me esmagou. O zumbido em meu sangue explodiu em um rugido ensurdecedor. O beco, os guardas, o próprio ar se desfizeram em fragmentos de vidro escuro. Havia apenas o vazio onde Elara costumava estar. Elara. Minha única... tudo. A âncora que me prendia à realidade havia sido cortada. Um vácuo se formou em meu peito, uma cavidade faminta que devorava meus próprios órgãos, deixando-me oco e sem peso. Não era dor ainda; era a ausência de tudo. Um grito silencioso rasgou minha garganta, uma dor tão profunda que não tinha som, apenas a pressão física de um mundo em colapso dentro de meu peito.

— Agora, a sua vez, garoto — disse Valerius, alheio ao universo que acabara de ruir.

Enquanto os capangas se aproximavam, o vazio em meu peito se incendiou. A dor chegou, e com ela, a fúria. A corda de alaúde em meus ossos não apenas vibrou; ela arrebentou.

Não foi um pensamento. Foi uma erupção.

Uma luz carmesim, majestosa e terrível, explodiu de meu corpo. Não era fogo, nem eletricidade. Era a própria essência da minha dor transformada em poder. Partículas de um vermelho-sangue dançaram no ar ao meu redor, formando um vórtice de pura força. Era lindo, como mil rubis estilhaçados sob uma lua de sangue, e era a coisa mais apavorante que eu já tinha visto. Eu não controlava; era um passageiro em meu próprio corpo enquanto o poder fluía através de mim, um rio violento que ameaçava me afogar.

O capanga mais próximo não teve tempo de gritar. As partículas de luz vermelha, antes dançando no ar, convergiram para ele como um enxame de piranhas famintas. O som não foi de uma explosão, mas de um rasgar úmido e contínuo. A luz carmesim agiu como um milhão de lâminas microscópicas, desfazendo o homem em uma explosão grotesca de violência.

Sua roupa foi a primeira a se desfazer em fiapos, seguida instantaneamente por sua pele e músculos. Um spray de sangue quente e espesso pintou as paredes do beco, criando uma obra de arte macabra sob a dança hipnótica das luzes. Membros foram arrancados do torso com a facilidade de quem arranca as pétalas de uma flor. Por um instante horrível, eu vi um braço, ainda segurando o porrete, voar pelo ar antes de se chocar contra a parede oposta e cair com um baque surdo.

O que restou do homem desabou no chão, não como um corpo, mas como uma pilha irreconhecível de carne retalhada e ossos quebrados, imersa em uma poça de sangue que se expandia rapidamente. O cheiro de cobre e vísceras encheu o ar, um contraste nauseante com a beleza sobrenatural da luz que ainda pairava, agora manchada de vermelho vivo.

A repercussão me atingiu com força, queimando minha pele, abrindo cortes em meus braços como se garras invisíveis me tivessem atacado. Caí de joelhos, ofegante, o brilho vermelho diminuindo ao meu redor. Um gosto metálico de sangue encheu minha boca, e uma dor lancinante, como se meus ossos estivessem a rachar por dentro, me fez dobrar sobre mim mesmo. O poder não apenas explodiu de mim; ele devorou um pedaço de mim para se alimentar, deixando-me exausto e horrorizado. O horror era duplo: pela carnificina que causei e pela constatação gelada de que, durante aquele instante de poder, "eu" não estava lá. A minha raiva, a minha dor, tinham convocado algo, mas não era eu quem estava no controlo. Eu era apenas o portão pelo qual o monstro tinha passado.

Foi nesse momento de silêncio chocado que uma nova figura entrou no beco.

Ele se movia com uma calma que não pertencia àquele lugar de morte e pânico. Alto, vestindo um casaco escuro, seu rosto estava na penumbra, mas seus olhos pareciam captar cada detalhe da cena: a garota morta, a pilha de carne e sangue, o oficial corrupto e, finalmente, eu, ajoelhado no chão, com a pele marcada e o eco de um poder incompreensível ainda pairando sobre mim.

O recém-chegado não disse nada. Apenas observou, seu silêncio mais pesado e ameaçador do que qualquer grito. O capítulo da minha vida havia terminado em sangue e cinzas, e um novo, ainda mais incerto, estava prestes a começar.