EPISÓDIO 3 – O GRITO DA MÃE
Interior – Mansão Ferraz – Sala de Jantar – Noite
A mesa estava posta com requinte: louças finas, taças de cristal, talheres de prata. Um banquete silencioso. Alberto Ferraz cortava a carne com precisão, como se cada fatia fosse calculada. Verônica observava-o com olhos cansados. Isabela, em silêncio, brincava com a comida no prato.
— “Não vai comer?” — Alberto perguntou à filha, sem levantar os olhos.
— “Não estou com fome.”
— “Desde quando?” — ele parou de cortar. — “Você nunca recusa o cordeiro do chef Maurício.”
— “Talvez eu tenha mudado.”
Verônica tentou intervir:
— “Ela está crescendo, Alberto. É natural...”
— “Natural seria ela aprender a obedecer. Crescendo ou não.” — disse ele, com voz fria.
O silêncio se tornou ainda mais pesado.
De repente, uma voz feminina rompeu:
— “Você fala como se a menina fosse propriedade sua!”
Todos congelaram.
Foi Verônica.
Ela se levantou da mesa com olhos marejados.
— “Estou farta disso. Da sua tirania. Do medo que semeia nesta casa!”
Alberto se ergueu lentamente.
— “Verônica, sente-se.”
— “Não. Chega. Chega!”
Isabela assistia tudo sem piscar.
— “Você sufoca a sua filha, como sufocou a mim todos esses anos! E tudo isso... por causa do passado, não é?”
Ele se aproximou dela.
— “Você não sabe do que está falando.”
— “Ah, sei sim. Sei sobre Helena Monteiro.”
Um silêncio. Como uma bomba que explodiu sem fazer barulho.
Isabela arqueou as sobrancelhas.
— “Quem... quem é Helena Monteiro?”
Alberto estreitou os olhos.
Verônica não recuou:
— “Ela foi o seu primeiro amor, não foi, Alberto? A mulher que você perdeu. A irmã de Joaquim Monteiro. E agora desconta na filha o ódio que ainda sente pelo irmão dela.”
Alberto socou a mesa com tanta força que as taças tremeram.
— “NUNCA MAIS fale esse nome aqui dentro!”
Isabela se levantou devagar.
— “É por isso que odeia tanto o Miguel?”
Alberto virou-se para ela. Pela primeira vez, seus olhos tremeram.
— “Ele é um Monteiro. Isso basta.”
— “Mas ele também é... neto dela, não é?”
Verônica engoliu seco.
— “É. A mãe de Miguel é filha da Helena.”
— “Então... Miguel e eu somos...?”
— “Não, meu amor.” — disse Verônica, tocando seu rosto. — “Não têm laços de sangue. Mas esse passado é uma ferida aberta.”
Alberto saiu da sala, deixando para trás o som de seus passos furiosos.
Interior – Casa dos Monteiro – Quarto de Miguel – Mesmo horário
Miguel folheava um caderno velho. Nele, fotos rasgadas e recortes antigos.
Uma delas mostrava uma mulher de cabelos cacheados e olhos intensos: **Helena Monteiro.**
— “Um dia, vou saber tudo.” — sussurrou Miguel.
Do lado de fora do quarto, Joaquim escutava sem ser visto. Fechou os olhos e sussurrou:
— “Você já sabe demais...”
Exterior – Varanda da Mansão Ferraz – Mais tarde
Verônica e Isabela estavam sentadas em silêncio.
— “Mamãe... você amou o papai um dia?”
Ela demorou para responder.
— “Achei que sim. Mas ele ama o passado mais do que qualquer presente.”
Isabela apertou o pingente em forma de estrela.
— “Ele não vai me afastar do Miguel. Nem do que é certo.”
Interior – Capela abandonada no bosque – Noite
Miguel esperava. Olhava para a lua entre as janelas quebradas. Escutou passos leves.
Era Isabela.
— “Você veio.” — ele disse, aliviado.
— “Descobri sobre a Helena. Sua avó.”
Miguel olhou surpreso.
— “O que você sabe?”
— “Que ela amou meu pai. E ele não conseguiu perdoar o que veio depois.”
— “Eles se odiaram. Por causa de uma mentira. E agora querem fazer a gente repetir isso.”
Ela se aproximou dele.
— “Eu não vou repetir nada. Eu escolho você.”
Ele segurou sua mão.
— “Então vamos prometer, agora.”
— “O quê?”
— “Que nunca vamos deixar esse ódio nos vencer.”
Ela assentiu.
Eles selaram a promessa com um beijo. Inocente, mas poderoso.
Nas sombras da capela, porém, **alguém os observava.**
Uma figura alta. Um dos capatazes.
Ele pegou o celular. Ligou.
— “Senhor Ferraz... tem algo que o senhor precisa ver.”
Interior – Mansão Ferraz – Quarto de Alberto – Instantes depois
Alberto escutava em silêncio.
— “Eles estavam juntos? Sozinhos?”
— “Sim, senhor. Na capela abandonada.”
Alberto apertou o punho.
— “Então está decidido. Essa história termina amanhã.”
Fechou o telefone com força.
E pegou algo no cofre.
Um revólver.
———
PRÓXIMO EPISÓDIO: “Um Tiro no Silêncio”
O amor proibido se torna perigoso quando o ódio explode. Alberto toma uma atitude extrema. E alguém vai sair ferido. O sangue finalmente será derramado, e nada mais será como antes...