EPISÓDIO 4 – UM TIRO NO SILÊNCIO
Exterior – Capela abandonada – Início da manhã
A luz suave do amanhecer invadia as frestas da capela de pedra. O silêncio era quebrado apenas pelo som de pássaros e da brisa entre os vitrais quebrados.
Isabela dormia com a cabeça apoiada no ombro de Miguel. Sentados num banco antigo, pareciam duas crianças tentando congelar o tempo.
— “Você acha que alguém vai descobrir?” — ela perguntou, abrindo os olhos devagar.
— “Não importa.” — ele disse, acariciando o cabelo dela. — “A gente tem que viver do nosso jeito.”
Ela sorriu. Um sorriso frágil, cheio de medo.
— “Promete que não vai me deixar?”
— “Mesmo que o mundo desabe.”
Mas o mundo já estava prestes a desabar.
Interior – Caminhonete preta – Estrada de terra
Alberto Ferraz dirigia em silêncio. O revólver repousava no banco do passageiro, coberto por um lenço escuro. O capataz sentado ao lado evitava olhar para ele.
— “Tem certeza disso, patrão?” — perguntou, nervoso.
— “Eles cruzaram o limite. Agora é minha vez.”
Exterior – Capela abandonada – Pouco depois
Do alto de uma colina, escondido entre árvores, o capataz observava com binóculos. Falava no fone de ouvido:
— “Estão lá. Sozinhos. Juntos.”
— “Continue observando. Eu chego em cinco minutos.” — respondeu Alberto do outro lado da linha.
Interior – Capela – Instantes depois
Isabela e Miguel ouviam um som estranho do lado de fora. Galhos quebrando. Passos.
— “Você ouviu isso?” — Miguel se levantou, tenso.
— “É só o vento...” — tentou minimizar Isabela.
Mas o vento não fazia passos.
A porta da capela se abriu com força.
Era **Alberto Ferraz**.
— “Isabela!”
Ela congelou.
— “Pai...”
Miguel ficou entre os dois, protetor.
— “Não toque nela.”
Alberto entrou lentamente, os olhos escuros como noite.
— “Você ousou desonrar meu nome com esse lixo, Isabela?”
— “Ele não é lixo!” — ela gritou, segurando o braço de Miguel. — “Eu o amo!”
Alberto sacou o revólver.
— “Então vai assistir ele cair.”
— “PAPAI, NÃO!”
Miguel se posicionou, firme.
— “Se vai atirar, atira em mim. Mas saiba que isso não vai apagar o que sente por mim.”
— “Eu não quero sentimentos. Quero obediência!”
O dedo de Alberto foi ao gatilho.
Verônica apareceu na porta, ofegante.
— “ALBERTO, PARE!”
Ele hesitou. Por um segundo, apenas.
**BANG!**
O som do tiro ecoou como uma sentença.
Por um momento, o mundo parou.
Isabela gritou.
Miguel caiu de joelhos.
Mas não era ele quem estava ferido.
**O capataz**, que havia tentado intervir por trás, levou o tiro no ombro.
— “Não!” — gritou Alberto, atônito.
Verônica correu até ele.
— “Está vendo o que o ódio faz, Alberto? Você quase matou um inocente!”
Isabela ajudava Miguel a se levantar. Chorava, tremia.
— “Isso nunca vai acabar...”
Alberto largou o revólver no chão, em choque.
Exterior – Fazenda Monteiro – Fim da tarde
Miguel chegou mancando. Joaquim esperava na varanda, os braços cruzados.
— “Foi ele, não foi?”
Miguel assentiu.
— “Um dia ele vai matar alguém, pai.”
Joaquim fechou os olhos.
— “Já matou. Matou minha irmã... de tristeza. Agora quer fazer o mesmo com você.”
Interior – Mansão Ferraz – Quarto de Isabela
Verônica a abraçava. A jovem ainda soluçava.
— “Ele atirou, mamãe. Ia matar o Miguel. Ele ia...”
— “Eu não vou deixar que isso se repita. Nem que eu precise ir contra o seu pai.”
Isabela ergueu os olhos, vermelhos de choro.
— “Então vamos embora.”
Verônica congelou.
— “Fugir?”
— “É a única saída. Aqui... não tem mais futuro.”
Interior – Quarto de Alberto – Noite
Alberto encarava o espelho. O reflexo mostrava um homem envelhecido pela raiva. O telefone tocou.
Era um número desconhecido.
— “Alô?”
Uma voz masculina.
— “Você perdeu o controle, Ferraz. Está na hora de rever seus fantasmas... ou eles te engolem.”
A ligação caiu.
Ele tremeu.
Do outro lado da linha, em um escritório escuro... **Joaquim Monteiro sorria.**
———
PRÓXIMO EPISÓDIO: “A Fuga”
Isabela e Verônica traçam um plano de fuga. Mas alguém está sempre um passo à frente. O passado bate à porta com força, e as consequências do tiro abrem portas para verdades sombrias. Quem realmente matou Helena Monteiro?