A chuva fina caía sobre a cidade, tingindo as ruas com um brilho prateado sob as luzes dos postes. O som das gotas batendo nas janelas do apartamento de Laura era suave, quase hipnótico. Já passava das onze da noite quando ela decidiu que não conseguiria dormir.
Estava inquieta.
Desde o jantar com Leonardo, uma nova camada de emoção parecia ter se instalado entre eles. Ele havia sido honesto. Transparente. E, principalmente, respeitoso com sua dor. Laura não sabia se aquilo a fazia se sentir mais exposta... ou mais segura.
Talvez os dois.
Vestia uma camiseta larga e meias grossas. Caminhava de um lado para o outro com uma taça de vinho nas mãos, tentando, em vão, organizar os pensamentos. Era raro se permitir esse tipo de confusão. Ela era controle. Planejamento. Mas bastava ele se aproximar, olhar para ela como se a enxergasse além das roupas, além da armadura... e tudo derretia.
O celular vibrou em cima da bancada.
Leonardo Moretti.
> "Ainda acordada?"
Ela sorriu. Como se ele pudesse sentir o quanto o pensamento dele a consumia naquele exato momento.
> "Sim. E você?"
> "Trabalhando. Ou fingindo que trabalho. Na verdade, pensando em você."
Laura sentiu o estômago revirar. O vinho desceu quente pela garganta.
> "Devia dormir."
> "Devia. Mas você não sai da minha cabeça."
Ela hesitou.
> "Quer subir?"
A resposta veio quase imediata:
> "Já estou no elevador."
Seu coração disparou.
Deixou a taça de lado, correu para o quarto, soltou os cabelos, trocou a camiseta larga por uma regata preta mais justa. Ainda estava de moletom, mas não se importou. Estava nervosa, mas não queria parecer que se importava demais.
Bateu à porta pouco depois. Quando abriu, Leonardo estava ali, encharcado pela chuva, com a camisa colada ao corpo e o olhar tão intenso quanto o céu noturno.
— Está chovendo muito — disse ela, tentando soar casual.
— Eu reparei — ele respondeu, com um meio sorriso. — Mas eu teria vindo mesmo se estivesse nevando.
Laura deu espaço para ele entrar. O perfume amadeirado dele invadiu o ambiente. Leonardo tirou o casaco molhado e ficou só com a camisa colada ao corpo. O tecido fino revelava as linhas bem definidas do abdômen, e Laura desviou o olhar, engolindo em seco.
— Quer uma toalha?
— Se não for incômodo.
Ela correu até o banheiro e voltou com uma toalha grande. Ele a pegou, mas seus olhos não saíram dos dela. Havia algo diferente naquela noite. A tensão não era apenas desejo. Era necessidade. Era uma conversa que não tinha palavras.
— Você está bem? — ele perguntou, a voz baixa.
Laura assentiu. Mas era mentira.
Ela estava tremendo por dentro.
— Desde que recebi aquele relatório... eu não paro de pensar — ele continuou. — Pensar em tudo o que você passou. Pensar no que te fez se fechar assim. E... em como eu quero fazer parte do que te reconstruiu. Se você deixar.
Ela piscou devagar, tentando absorver aquilo.
Ninguém nunca falava com ela assim.
— Eu não sou fácil, Leonardo — disse ela, por fim. — Não sei se consigo entregar... partes de mim. Não sei se quero.
— Não precisa entregar nada — ele respondeu, dando um passo à frente. — Só deixa eu ficar perto. Mesmo que você continue se protegendo.
O silêncio entre eles era carregado. Laura sentia o corpo aquecer, as mãos suarem. A sinceridade dele a desarmava de um jeito que nada mais fazia. E, mesmo com o medo gritando dentro dela, mesmo com a lembrança de tudo o que viveu... ela queria tentar.
— Você me deixa louco, Laura — ele murmurou. — Só de estar aqui... com você. Sem te tocar. Sem fazer nada. Isso me consome.
Ela o olhou com firmeza. Depois deu um passo. Apenas um.
E disse:
— Então toca.
Foi como abrir a porta de uma represa.
Leonardo ergueu a mão, primeiro com cuidado. Encostou os dedos na lateral do rosto dela, depois desceu até a linha do maxilar, o polegar acariciando a pele com uma reverência quase sagrada. Os olhos dele estavam vidrados nos dela, como se pedissem permissão a cada movimento.
E quando a mão dele desceu até a cintura dela, Laura sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
Ela levou as mãos ao peito dele, sentindo o tecido encharcado da camisa. Os músculos quentes sob o pano frio. A pulsação dele acelerada.
— Você está tremendo — ela murmurou.
— Não é de frio — ele respondeu, com um sussurro rouco.
O beijo veio com naturalidade. Sem pressa. Sem urgência. Era como se os dois estivessem testando o que sentiam, explorando com cuidado. Laura deixou que ele a envolvesse com os braços, sentindo o calor do corpo dele colado ao dela. A camisa molhada agora grudava em sua pele, e o toque dele em sua cintura, em suas costas, era firme, mas gentil.
— Me diz se eu estiver indo longe demais — ele sussurrou entre beijos, a boca roçando o pescoço dela.
— Você vai saber — respondeu ela, com um sorriso leve.
Os dedos dele passearam pelas costas dela, subindo pela nuca, segurando os cabelos. O calor entre eles crescia com cada segundo, mas ainda assim... havia controle. Havia contenção.
Ele não queria assustá-la.
E ela... se sentia segura.
Quando os lábios dele desceram pela linha do maxilar, Laura fechou os olhos. O coração disparado. As memórias do passado vinham em flashes, mas eram abafadas pela presença firme e doce dele.
Leonardo parou, respirando contra a pele dela.
— Eu quero você. Mas mais do que isso... eu quero te merecer.
Ela se afastou levemente. Tocou o rosto dele. E pela primeira vez, os olhos cinzentos dela estavam completamente abertos para ele.
— Você já está fazendo isso — disse, com sinceridade.
Leonardo a puxou para perto outra vez, agora abraçando com mais força. Não havia sexo naquela noite. Não ainda. Mas havia entrega. Desejo contido. E o início de algo que, pela primeira vez, parecia real.
Eles passaram horas ali. Sentados no sofá. Deitados lado a lado. Conversando. Trocando toques suaves. Ela adormeceu com a cabeça sobre o peito dele. E ele ficou ali, em silêncio, com o coração batendo acelerado, como se tivesse finalmente encontrado algo que não sabia que procurava.
No amanhecer, ele ainda estava acordado.
Olhando para ela.
Protegendo-a.
Querendo-a.
E sabendo... que agora não havia mais volta.