Capítulo 27 – A imagem e o medo

O sol da manhã mal havia nascido quando o celular de Leonardo começou a vibrar na mesinha de cabeceira. Ele ainda estava deitado, com Laura aninhada em seu peito, os cabelos espalhados sobre ele, o corpo envolvido apenas pelo lençol e o calor da noite anterior. A tranquilidade daquele momento foi interrompida pelo toque insistente.

Ele se mexeu com cuidado para não acordá-la, pegando o aparelho. Era sua mãe.

— Mãe? Aconteceu alguma coisa? — perguntou com a voz rouca.

— Precisamos conversar, Leo. Agora. É sério. Tem algo que você precisa ver — disse Helena, a voz firme do outro lado da linha.

O tom dela não deixava espaço para adiamentos. Leonardo deslizou para fora da cama, pegou uma camiseta e saiu do quarto, fechando a porta com cuidado para não acordar Laura. Caminhou até a sala, sentando-se no sofá enquanto aguardava a chamada de vídeo ser completada.

Quando a tela acendeu, Helena estava com expressão preocupada e segurava o tablet nas mãos.

— O que está acontecendo? — ele perguntou, sentindo o peso do nervosismo da mãe.

— Olhe isso — ela virou o tablet, mostrando a capa de um dos principais sites de fofoca do país. Uma foto dele, ainda com a máscara do baile, deixando o local com uma mulher desconhecida ao lado. O ângulo da imagem sugeria intimidade, ainda que ele soubesse que aquilo era completamente deturpado.

— Isso é montagem. Eu não faço ideia de quem seja essa mulher. Laura saiu comigo. Eu a levei para casa — respondeu ele, irritado com a manipulação.

— Eu sei disso — disse Helena, respirando fundo. — Mas a mídia não. E estão insinuando que você está envolvido com outra mulher. As redes sociais já estão bombando com comentários e especulações. Mas não é só isso que me preocupa.

Leonardo franziu a testa. — Tem mais alguma coisa?

— Tenho investigado a Laura... — disse ela, com pesar na voz.

— Por quê, mãe? — ele perguntou, surpreso e incomodado.

— Porque me preocupo com você. E porque ela é uma mulher discreta demais, e isso, num mundo como o nosso, levanta questões. Eu gosto dela, de verdade. Mas tenho medo do que pode acontecer se essa exposição continuar. Se as pessoas descobrirem quem ela é de verdade...

Leonardo ficou em silêncio por um instante.

— Do que você está falando?

— Você sabe tão bem quanto eu que ninguém sabe quem é a verdadeira CEO da empresa de moda que vem conquistando o mundo. A Laura pode ser só a designer principal... ou ela pode ser mais do que isso. Já pensou se descobrem que é ela quem comanda tudo? O que isso significaria para a imagem dela? Para a segurança dela?

Leonardo sabia que Laura era reservada, que protegia com unhas e dentes sua identidade e sua liberdade. Se isso viesse à tona, o mundo da moda e o mundo empresarial explodiriam. E ela poderia ser o alvo de ataques, de especulações, de perseguição.

— Eu não queria que fosse assim, Leo. Mas o amor não protege do mundo. E você sabe disso. Temos inimigos, concorrentes. E Laura, com seu jeito autêntico, pode virar o centro das atenções. Ela está preparada para isso?

Leonardo passou a mão pelo rosto, inquieto.

— Eu a amo, mãe. E não vou deixar que nada aconteça com ela. Não importa o que esteja nessa imagem ou quem tente destruí-la.

Helena assentiu, emocionada com a firmeza do filho.

— Então, cuide dela. Proteja como você sabe. Porque o mundo lá fora não tem piedade.

Leonardo olhou novamente para a imagem no tablet. Era claro que estavam tentando semear dúvidas, criar ruídos. Mas não iria permitir que isso abalasse o que ele e Laura estavam construindo.

— Vou procurá-la. Agora — afirmou.

E, ao desligar, voltou para o quarto. Laura ainda dormia, serena. Ele sentou-se na beira da cama e a observou por um momento. Sabia que a explicação teria que vir de seus lábios. E, acima de tudo, queria assegurar a ela que, mesmo com o mundo tentando desmoronar ao redor, ela teria nele um abrigo inabalável.