Capítulo 3: O Despertar do Guardião

Marcos ainda observava atentamente as imponentes estátuas ao fundo da caverna, quando se virou para Verditos, com os olhos brilhando de empolgação e uma pontinha de dúvida na voz.

— Então… na minha ficha estava escrito “Guardião: não definido” e tinha algumas habilidades lá também. Isso tem a ver com aquelas estátuas?

Verditos, que até então apenas observava em silêncio, sorriu levemente ao notar que, mesmo após receber uma avalanche de informações, o rapaz ainda conseguia manter o ânimo e a curiosidade. A energia de Marcos era algo raro de se ver — a maioria ainda estaria atordoada ou paralisada pelo medo.

Aproveitando aquele momento, Verditos assentiu com a cabeça e começou a guiá-lo.

Eles estavam bem no centro da enorme caverna, então o guia levantou o braço e começou a explicar os três pontos principais daquele espaço.

— Olhando um pouco para trás, à sua esquerda — disse ele, virando o corpo levemente — está a área de descanso. Aquele lago ali não é comum… ele foi imbuído com mana pura. Ao mergulhar nele, seu corpo irá se recuperar mais rapidamente da fadiga e das dores, e sua mana será regenerada com mais eficiência. É um lugar de cura.

Marcos acompanhou o passo lento de Verditos até a borda do lago. A água era incrivelmente cristalina e tinha um brilho sutil, quase etéreo. O lago devia ter uns três metros quadrados, e sua profundidade variava — na borda, era rasa, mas no centro devia chegar a um metro e meio.

Ao se aproximar, um aroma fresco e suave atingiu suas narinas, como uma mistura de floresta molhada e hortelã. Aquele lugar transmitia uma calma absurda. Logo atrás do lago, Marcos notou um pequeno buraco cavado no chão. Fez uma careta e apontou, confuso.

— É… isso aí é o banheiro, né?

Verditos apenas riu e confirmou com um aceno.

Logo à direita do lago, havia uma pequena cama simples, com um travesseiro e um cobertor bem dobrado em cima. Marcos chegou mais perto e notou que, embora o local parecesse frio à primeira vista, o ar era surpreendentemente fresco e agradável. Não era quente como ele estava acostumado, mas também não chegava a incomodar.

Perto da cama, encostadas na parede da caverna, estavam duas prateleiras rústicas de pedra, cada uma sustentada por dois suportes verticais. Em uma delas, ele viu três frascos vermelhos, alinhados na parte superior. Tinham um tom semelhante ao vinho escuro. Logo abaixo, mais três frascos de um azul-claro intenso, que lembravam bebidas esportivas que ele costumava tomar de vez em quando.

Na segunda prateleira, havia dois sacos. Um deles, mais pesado e posicionado na parte inferior, continha um conjunto de roupas simples, dobradas com cuidado. O outro, mais leve, estava na parte de cima e guardava alguns suprimentos: uma garrafa de leite, uma de água, um pedaço de pão, alguns pedaços do que parecia ser carne seca… e uma banana.

Curioso, Marcos pegou um dos frascos e virou-se para Verditos.

— E isso aqui? Essas porções… e as comidas? Duram quanto tempo?

Verditos observou o jovem explorando seu novo espaço e sorriu, satisfeito com sua postura. Então começou a explicar:

— Todo esse ambiente foi criado pela deusa, e é sustentado por seus poderes. O lago se purifica automaticamente após cada uso, então você não precisa se preocupar com contaminação ou limpeza. Já as poções coloridas são repostas uma vez por semana. As vermelhas são porções de vida: se derramadas sobre feridas, aceleram a regeneração; se ingeridas, ajudam com danos internos ou ferimentos leves. As azuis restauram sua energia vital e mana.

— Só três por semana de cada? — Marcos perguntou, erguendo uma sobrancelha.

— Exato — confirmou Verditos. — Parte do seu treinamento será aprender a usar seus recursos com sabedoria. Você não está aqui para viver com conforto, Marcos. Está aqui para crescer.

— Mas não se preocupe tanto. Os suprimentos básicos — como a comida e as roupas — são reabastecidos diariamente. A deusa quer que você se concentre em sobreviver e evoluir, não que morra de fome ou fique sem o mínimo necessário.

O jovem cruzou os braços, pensativo, e então fez a pergunta que estava remoendo desde o começo:

— Espera… você disse que a simulação vai durar cinco anos. Eu vou ficar trancado aqui por cinco anos inteiros?

Verditos riu com leveza, como quem já ouviu aquela pergunta muitas vezes, e respondeu com tranquilidade:

— Não exatamente. A simulação tem duração máxima de cinco anos, sim, mas ela é dividida em cinco fases — uma por ano. Cada fase terá três missões principais, distribuídas ao longo do tempo. Este lugar aqui, onde você está agora, é parte da sua primeira missão. Você vai passar quatro meses neste ambiente. O objetivo é se preparar, entender o básico, aprender a usar suas habilidades e escolher o seu Guardião.

Marcos respirou aliviado.

— Ah, tá… quatro meses eu aguento — murmurou, olhando em volta mais uma vez.

Verditos, percebendo que Marcos já não estava mais realmente prestando atenção — os olhos dele voltavam insistentemente às estátuas e às estruturas circulares ao redor — soltou uma breve risada e chamou sua atenção.

— Já que está tão curioso sobre como adquirir habilidades… vamos até a Área Sagrada.

Marcos ergueu uma sobrancelha e rapidamente se colocou de pé, seguindo Verditos em direção às gigantescas figuras ao fundo da caverna.

Ao se aproximarem, o jovem viu com mais clareza: eram seis enormes estátuas, cada uma com trajes e armamentos distintos. Havia algo imponente e sagrado nelas. Instintivamente, ele sentiu um arrepio correr pelas costas. A cena lembrava os RPGs que costumava jogar — onde o jogador escolhia sua classe logo no início da aventura. Só que agora… aquilo era real.

Antes que pudesse se perder novamente em pensamentos, Verditos falou, com um tom mais cerimonial:

— Estes são os Seis Guardiões criados pelas deusas para proteger o mundo. E agora, neste momento tão delicado, você será abençoado por um deles. Com isso, poderá escolher uma de suas classes e adquirir habilidades relacionadas à sua escolha. Mas lembre-se: o que você faz com elas depende de você.

Marcos assentiu lentamente, absorvendo cada palavra. Aquilo era… surreal.

— E como eu recebo essa bênção? — perguntou ele, já se preparando para algo grandioso.

— Vou lhe mostrar — respondeu Verditos, começando a flutuar até um enorme círculo mágico com gravuras e runas desenhadas no chão logo à frente.

Enquanto flutuava, Verditos apontou para cada uma das estátuas e começou a explicar:

— Cada guardião representa uma vertente de poder, sendo quatro voltados ao combate direto, um ao suporte e outro à produção. Cada um deles possui três classes possíveis. Você será escolhido por um ou mais guardiões, e caso mais de um o aceite, poderá escolher qual seguir. Mas a escolha é importante, Marcos… ela influenciará toda a sua trajetória.

Então, ele fez uma breve apresentação:

1. Guardião Mágico

Mago Elemental

Druida

Espiritualista

2. Guardião Guerreiro

Sentinela

Mestre de Armas

Berserker

3. Guardião Sagrado

Paladino

Curandeiro

Xamã

4. Guardião Profano

Necromante

Bruxo

Feiticeiro

5. Guardião Letal

Assassino

Caçador

Ilusionista

6. Guardião Produtivo

Alquimista

Artesão

Ferreiro

Marcos arregalou os olhos. Era como estar dentro de um jogo — mas com consequências reais. Sua mente fervilhava de possibilidades: um bruxo? Um guerreiro? Talvez um ilusionista? A imaginação corria solta.

— Ei, foco — disse Verditos, batendo os dedos no ar como se despertasse Marcos de um transe. — É hora de descobrir quem o escolhe.

Marcos respirou fundo e deu um passo à frente, entrando no círculo mágico.

Assim que seus pés tocaram o centro, o chão começou a brilhar, pulsando em ondas suaves de energia. Em seguida, as seis estátuas se iluminaram, cada uma com uma cor distinta, como se despertassem.

Então, seis esferas de energia pura se desprenderam de suas mãos e flutuaram lentamente na direção de Marcos. A atmosfera ficou pesada. Ele sentiu uma pressão familiar, quase idêntica àquela que sentira ao encontrar a deusa pela primeira vez — mas desta vez era suportável… quase.

Mesmo assim, com as pernas trêmulas, decidiu se sentar para evitar cair.

As luzes começaram a girar ao seu redor. Cores, murmúrios, vozes distantes. Quanto mais ele tentava entender o que diziam, mais sua cabeça doía. Era como tentar escutar uma conversa em um idioma esquecido pelos deuses.

Ele sentia sua força escoando… e então…

As luzes começaram a se afastar, uma a uma, como se tivessem decidido algo.

Marcos ergueu os olhos e viu algumas luzes começaram a flutuar para longe. Marcos virou o rosto, curioso, tentando entender o que estava acontecendo. As esferas de energia pura estavam retornando lentamente às imensas estátuas. Uma por uma, as luzes iam sumindo, absorvidas de volta pelos guardiões de pedra.

Até que restou apenas uma esfera à sua frente. Era intensa, pulsava com uma luz amarelada, quase dourada, que aquecia o ar ao redor. Ela flutuava suavemente, como se estivesse hesitando… até que avançou.

Marcos mal teve tempo de reagir. A esfera atravessou seu peito, e imediatamente uma onda de calor invadiu seu corpo. A exaustão física, a pressão esmagadora, a tontura — tudo desapareceu em um instante. Era como estar flutuando nas nuvens. Leve, desperto, energizado. Ele nunca havia sentido nada parecido antes.

Confuso, olhou para Verditos em busca de explicações.

O ser etéreo sorriu, satisfeito. “Parabéns, Marcos. Você foi abençoado pelo Guardião Sagrado. Agora, só falta escolher qual das três classes seguirá.”

A notícia veio como um choque. Parte dele vibrou ao receber a bênção… mas outra parte sentiu uma leve decepção. Ele queria poder de combate direto, algo mais agressivo — talvez um guerreiro ou um mago elemental. Ser escolhido por um guardião de suporte parecia um passo atrás.

Verditos, percebendo sua expressão confusa, apenas acenou com a cabeça para que ele se aproximasse da estátua do Guardião Sagrado. Como as demais, ela tinha três objetos de pedra diante de si. Mas ao chegar mais perto, as pedras começaram a brilhar, rachando por dentro como ovos se rompendo.

A primeira revelou um grande escudo e uma espada larga, imponente. A segunda expôs um cajado dourado com um cristal azul na ponta, pulsando com uma energia suave. E a terceira mostrou algo mais bruto e primitivo: um bastão de madeira escura, adornado com ossos e um pequeno crânio no topo.

Verditos se aproximou. “Esses são os três caminhos do Guardião Sagrado. O escudo representa o Paladino; o cajado dourado, o Curandeiro; e o bastão rústico, o Xamã. Vou explicar brevemente o papel de cada um.”

Ele apontou primeiro para o escudo e a espada.“O Paladino é um guerreiro devoto. Ele protege a linha de frente, absorvendo dano, fortalecendo aliados com sua fé e usando poderes sagrados para curar e repelir o mal.”

Depois, o cajado dourado.“O Curandeiro é o mestre da restauração. Seu foco está totalmente em curar, purificar e fortalecer seus companheiros à distância. Ele é o coração de qualquer grupo.”

Por fim, o bastão de madeira.“O Xamã… é diferente. Ele se conecta com a natureza e o espiritual. É híbrido. Pode usar rituais e totens para ajudar o grupo, mas também fortalece o próprio corpo com runas e espíritos, permitindo enfrentar inimigos cara a cara.”

Marcos absorveu a explicação em silêncio. As duas primeiras classes — Paladino e Curandeiro — eram familiares, parecidas com o que ele já tinha jogado em RPGs. Mas o Xamã… era novo, estranho, e ao mesmo tempo fascinante. Soava como alguém que não só ajudava os outros, mas lutava com seu próprio poder.

“E quais habilidades cada um tem?” ele perguntou, já interessado.

Verditos balançou a cabeça. “Você só poderá saber após fazer sua escolha. Nenhum poder sagrado pode ser revelado antes da aceitação.”

Marcos hesitou. O paladino parecia uma boa opção… um guerreiro protetor, resistente. Mas ainda assim, seu instinto puxava para o xamã. Talvez fosse o bastão com ossos. Ou o fato de poder misturar ataque e suporte. Ou talvez… o pressentimento de que ele teria que lutar sozinho por muito tempo.

Ele respirou fundo. Olhou para Verditos com firmeza.“Eu escolho… o Xamã.”

Com mãos firmes, agarrou o bastão de madeira. Assim que o fez, as outras duas armas voltaram a se transformar em pedra, como se nunca tivessem sido reveladas. O bastão, porém, brilhou por um instante — uma chama suave e azulada percorreu seus entalhes.

Verditos se aproximou novamente. “Muito bem, Marcos. A escolha foi feita. Agora… bem-vindo ao seu novo caminho.”

As palavras ecoaram com um tom mais sério, quase solene.

“Como xamã, seu poder será despertado gradualmente. Você aprenderá a convocar totens, canalizar espíritos elementais, usar runas em seu corpo e até manipular a própria alma para fortalecer ataques ou curas. É um caminho difícil, mas poderoso.”

Marcos sentiu o bastão pulsar em sua mão. Como se estivesse vivo.

“Agora,” continuou Verditos, “pense novamente na sua ficha pessoal. Ela deverá aparecer à sua frente com as novas informações.”

Marcos respirou fundo, fechou os olhos por um instante, e então mentalizou a ficha.