Capítulo 2: Corações em Colisão

PARTE 1 de 5 — O Olhar Duplo

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Gabriel acordou com o coração acelerado.

Não de medo.

De ansiedade.

A lembrança da noite anterior ainda era vívida — ele, sozinho no laboratório, seguindo as instruções antigas de um ritual encontrado num livro esquecido na biblioteca. O chocolate ali, envolto em um papel dourado com uma fita vermelha, parecia... vivo.

Ele havia feito de propósito.

Comido de propósito.

— "Agora vai começar…" — murmurou para si mesmo, ajeitando o cabelo diante do espelho com um sorriso de canto de boca.

E começou.

Logo na primeira aula, Amanda — a garota mais ousada da turma de química, que nunca sequer havia olhado pra ele — sentou-se ao seu lado.

Voluntariamente.

— "E aí, Gabriel. Você fez a lição?"

Ele fingiu surpresa, mas por dentro... vibrava.

— "Você... sabe meu nome?"

Amanda riu, jogando o cabelo para trás com charme.

— "Claro que sei. Você é... interessante."

A palavra ecoou como música.

Interessante.

Ele disfarçou o sorriso, mas sua mente já fervilhava.

"Funcionou."

A confirmação definitiva veio na saída do segundo tempo.

Nina, a garota da sala de artes, que ele admirava secretamente desde o primeiro ano, apareceu ao lado dele no pátio — como se por destino.

— "Ei. Você quer vir comigo na exposição do colégio hoje? Você... tem um olhar curioso."

Gabriel não conteve um leve rubor no rosto. Era tudo real.

— "Claro que quero," — disse, disfarçando a excitação.

— "Você está diferente. Mais... magnético."

Duas garotas. Um dia.

Era só o começo.

Ele correu até seu armário.

Abriu.

Lá estava o papel do chocolate, ainda com um leve brilho.

Mas agora havia uma inscrição que não estava lá antes:

> “Ame todos. Seja amado por todos. Pague o preço.”

As letras vermelhas pareciam pulsar, como sangue sob a pele.

Gabriel pegou o papel com cuidado.

Não sentia medo.

Sentia ambição.

— “O harém perfeito... Vai ser meu.”

Ele guardou o papel dobrado dentro do estojo de canetas, como se fosse um talismã.

E, naquele momento, não percebeu que um par de olhos o observava de longe, do corredor.

Ruby.

Ela o seguia discretamente, anotando algo em um caderno.

Não muito longe dali, Caio andava nervoso entre os corredores, sentindo uma estranha aura no ar — como se uma energia familiar e perigosa tivesse despertado.

Mas ele ainda não sabia quem era o culpado.

PARTE 2 de 5 — Amanda vs Nina: Primeiras Faíscas

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A exposição de artes do colégio acontecia no saguão central, com quadros, esculturas e projetos criativos espalhados por biombos e cavaletes. Luzes suaves iluminavam os corredores e uma música ambiente completava o clima calmo.

Calmo.

Até Gabriel chegar.

Ele caminhava ao lado de Nina, a garota dos olhos sonhadores e da fala serena. Ela sorria, apontando uma pintura de tons roxos:

— "Essa aqui é minha favorita. Parece... confusa, mas bonita."

Gabriel se esforçava para prestar atenção. Parte dele queria ouvir. A outra... queria contar os minutos até Amanda chegar.

E ela chegou.

Alta, confiante, como se fosse a dona do colégio.

— "Olha só quem tá aqui... Gabriel e a fada da arte," — disse Amanda com um sorrisinho sarcástico.

Nina franziu as sobrancelhas, surpresa.

— "Oi, Amanda. A gente se conhece?"

— "Só de vista. Mas o Gabriel e eu temos... história."

Ela deu um passo para perto de Gabriel, segurando no braço dele com intimidade.

Gabriel congelou.

Nina também.

— "Gabriel?" — Nina olhou para ele, esperando alguma explicação.

Gabriel riu, nervoso. — "Eu... acho que foi um mal-entendido, Amanda. Eu combinei com a Nina de vir aqui hoje."

Amanda sorriu.

Mas o sorriso dela era veneno com açúcar.

— "Claro. E depois você combina comigo. Né, Gabs?"

Nina cruzou os braços.

— "Engraçado... você nem sabia o nome dele até ontem."

Silêncio. Tenso.

Gabriel suava.

Aquilo não estava no plano.

— "Eu... posso sair com vocês duas, se quiserem."

Ele tentou apaziguar, mas só piorou.

Amanda virou para Nina:

— "Você acha mesmo que tem chance com ele?"

— "Acho que ele escolhe com quem quer estar. E não é sendo grossa que você vai ganhar alguma coisa."

Gabriel observava em choque.

A disputa que ele sempre fantasiou, agora era real.

E desconfortável.

— "Meninas, calma..."

Mas Amanda já havia se virado, bufando.

Nina o olhou com decepção.

— "Se você não sabe o que quer, talvez eu saiba o que não quero."

Ela se afastou.

E Gabriel ficou sozinho.

No meio da exposição.

Entre quadros e olhares.

Por um segundo, achou que tinha estragado tudo.

Mas então...

— "Calma. Elas vão voltar."

A voz suave e misteriosa soou às suas costas.

Era uma garota de cabelos platinados. Vestia preto.

Olhos semicerrados, observadores.

— "Quem é você?" — ele perguntou.

Ela sorriu de canto.

— "Me chame de Iris. E eu sei como te ajudar com seu harém…”

PARTE 3 de 5 — Iris: A Misteriosa Jogadora Secundária

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Gabriel olhava para a garota à sua frente, intrigado.

Iris.

Cabelos lisos e platinados. Uniforme adaptado com um toque sombrio. Olhos que pareciam sempre analisá-lo, como se vissem mais do que ele mostrava.

— "Você disse... harém?" — ele perguntou, tentando manter a compostura.

Ela caminhou lentamente ao redor dele, como uma pantera curiosa.

— "Você comeu o chocolate. Não foi? O dourado. Fita vermelha. Embalagem divina."

Gabriel hesitou.

— "Como você sabe disso?"

Ela sorriu.

— "Porque eu estava observando. Desde antes. Você não é o primeiro garoto a tentar esse caminho."

— "Tem... outros?"

Iris parou de andar, encarando-o com intensidade.

— "Houve. Todos falharam. Mas você é diferente. Ambicioso. Discreto. E burro o suficiente pra achar que controlar emoções é fácil."

Gabriel sentiu a pele arrepiar.

— "O que você quer?"

— "Nada… por enquanto."

Ela chegou perto, sussurrando:

— "Só estou curiosa. Quero ver até onde você aguenta. Porque, sabe... o Harém do Caos sempre cobra o que dá."

Ela entregou um envelope preto a ele.

— "Aqui tem a chave do que vem a seguir. Vai abrir, ou vai fugir?"

Gabriel segurou o envelope com mãos trêmulas. Dentro, um papel dobrado.

> “Para multiplicar o amor, é preciso provocar o ciúme.

Queime com paixão. Alimente com drama.

Só assim verá o verdadeiro poder do Chocolate do Harém.”

Gabriel engoliu em seco.

O papel parecia... pulsar.

— "Isso é um tipo de desafio?" — perguntou.

— "É a próxima fase," — respondeu Iris. — "E você aceitou quando comeu aquele chocolate."

Antes que ele pudesse reagir, Iris já se afastava, sumindo entre os corredores da exposição.

Gabriel ficou parado por alguns segundos, segurando o papel, com o coração acelerado.

Algo dizia que Iris não era só uma colega curiosa.

Ela estava envolvida. E talvez, muito mais do que parecia.

PARTE 4 de 5 — Amanda e Nina: Começa a Disputa

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Gabriel não foi à exposição de artes naquele dia.

Ele quis.

Quis ver Nina sorrindo para ele sob as luzes das telas pintadas por ela mesma.

Mas não podia. Amanda havia o convidado antes.

E ele não teve coragem de dizer "não".

No laboratório de química, Amanda parecia radiante.

Usava um batom vermelho que nunca usava. E estava de vestido.

— “Você veio,” — ela disse, sorrindo, mordendo levemente o lábio inferior.

Gabriel tentou manter a calma, mesmo com o coração batendo no pescoço.

— “Claro. Eu disse que viria.”

— “Tem muita coisa que eu quero te mostrar hoje...” — ela chegou mais perto. — “A começar por mim.”

Ele corou. Aquilo estava saindo do controle — e ele adorava.

Mas o caos ainda estava por vir.

Nina apareceu.

Vestida casualmente, com sua típica expressão doce. Ela olhou para os dois, parou por um segundo, e sorriu — educadamente.

— “Oi, Amanda. Não sabia que você viria à exposição.”

Amanda sorriu de volta, afiada.

— “Nem eu sabia que você vinha ao laboratório.”

— “Gabriel me disse que viria.”

— “Ah. Foi o que ele me disse também.”

Os dois pares de olhos se voltaram para ele. Gabriel travou.

Nina, calma como sempre, se aproximou.

— “Gabriel, pode me ajudar a levar umas caixas pro corredor da frente? Estão muito pesadas…”

Amanda segurou o braço dele.

— “Desculpa, Nina. Ele já está me ajudando com os tubos de ensaio. Não é, Gabriel?”

Ele suava frio.

As duas estavam ali, sorrindo… mas havia veneno por trás da delicadeza.

Nina não recuou.

— “Podemos dividir, então.”

Amanda sorriu, desafiadora.

— “Só se ele quiser.”

— “Gabriel?” — perguntou Nina, ainda doce.

— “Gabriel?” — repetiu Amanda, cada vez mais firme.

Ele travou.

A cabeça girava. O coração acelerava.

Mas no fundo, ele gostou.

Gostou de ser desejado. Disputado. Escolhido.

Aquilo era o início do harém.

E, mesmo sem entender todos os riscos, ele não quis parar.

— “Eu ajudo as duas,” — ele disse por fim, com um meio sorriso.

As duas o olharam em silêncio.

E aceitaram.

Mas a semente do ciúmes… já havia sido plantada.

PARTE 5 de 5 — Ruby e Caio: A Primeira Pista

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A noite caiu sobre a cidade, mas Ruby não conseguia dormir.

Estava debruçada sobre uma pilha de papéis, mapas e símbolos mágicos, rabiscando conexões que talvez nem existissem.

Mas algo estava errado. Ela sentia isso.

Caio chegou, silencioso como sempre, com um copo de chocolate quente.

— “Você precisa descansar,” — disse ele, pousando o copo ao lado dela.

— “Não posso,” — Ruby respondeu sem desviar os olhos do caderno. — “O desequilíbrio emocional está aumentando.”

Ela mostrou a ele uma lista com nomes.

— “Amanda. Nina. Gabriela. Patrícia. Todas apresentando mudanças bruscas de comportamento nos últimos dois dias. Emoções afloradas, atitudes possessivas, sentimentos contraditórios. E tudo girando em torno de… um mesmo garoto.”

Caio estreitou os olhos.

— “Quem?”

— “Ainda não consegui identificar. Mas tem alguém no centro disso. Alguém que está... atraindo as garotas, mesmo sem ter feito nada que justificasse isso.”

Ruby virou o caderno e mostrou um desenho rápido:

um papel dourado com uma fita vermelha.

— “Reconhece?”

Caio se aproximou, sério.

— “Chocolate do Harém.”

— “Achei vestígios de magia no laboratório de química. Ainda fracos… mas compatíveis com os resíduos de encantamento do antigo caso de João Ricardo.”

Caio franziu o cenho.

— “Alguém conjurou esse feitiço de propósito.”

Ruby assentiu.

— “E pior: alguém que sabe o que está fazendo. Não é acidente. Não é coincidência. Isso… foi invocado com intenção.”

Os dois se entreolharam em silêncio.

— “Se deixarmos continuar, vai ser como da última vez,” — disse Caio. — “Sentimentos falsos, corações partidos… e caos por toda a escola.”

Ruby se levantou, determinada.

— “Desta vez, vamos agir antes. Vamos encontrar quem fez isso… e impedir que o harém cresça.”

Caio respirou fundo.

— “Temos que encontrar o epicentro. O primeiro… o culpado.”

Ruby virou a última página do caderno.

Nela, um nome escrito em letras pequenas, como uma suspeita sussurrada:

Gabriel.

Ela o circulou com tinta vermelha.

— “Amanhã, vamos observar. De perto.”