Prólogo

Heidelberg, 1724.

O mundo repousa em seus leitos, cego na sua ilusão de ordem.

Mas as sombras não dormem.

Sob as pedras frias das cidades, sob as florestas úmidas e os salões secretos, pulsa o Véu de Noctis - uma ordem antiga, implacável, moldada por leis sagradas que mantêm o equilíbrio tênue entre os vivos e os condenados.

Uma dessas leis permanece inviolável, escrita com o próprio sangue do primeiro transgressor:

"Não se concede a eternidade aos inocentes. Nem se arranca o repouso dos anciãos. Pois ambas as mentes - tenras ou corroídas - não suportarão a maldição."

Mas alguém desafiou o abismo.

O que não deveria ser... agora existe.

Sophia Schneider.

Pequena, frágil, e ainda assim uma ruptura na lógica imortal. Um eco impossível que ressoa como afronta. Aberração. Ferida viva. Um destino que clama por destruição.

E então, como um sussurro ao vento gelado, ela encontrou olhos que a viram - e não com temor, mas com algo ainda mais perigoso: compaixão.

Nathalie Armister.

Milenar, marcada pela perda, atormentada por visões fragmentadas, arrastada pelas marés ocultas do próprio Véu.

Ali, no reflexo da menina, ela enxergou a filha que perdeu, a mãe que ainda é. E, em seu peito vazio, a centelha de uma fúria indomável reacendeu-se.

Agora, contra as correntes do destino e sob o julgamento do próprio Véu, ergue-se uma muralha.

Uma mãe.

Mas até onde o amor pode sustentar uma anomalia?

E o que acontece quando a eternidade sangra?