"Precisamos conversar."
Ele estava parado na minha frente, com a voz perturbadoramente calma — como se estivesse anunciando que a geladeira havia quebrado, não que eu o tinha jogado na cama na noite anterior.
Conversar?
Meu cérebro instantaneamente começou a filtrar palavras-chave. Conversar sobre o quê? Um debriefing? Uma avaliação? Ou ele estava propondo algum tipo de... "parceria sexual de longo prazo"?
Definitivamente não era um pedido de casamento. Isso só acontece em novelas escritas por pessoas com cérebro cronicamente romântico.
Será que ele estava preocupado que eu me apegasse a ele?
Afinal — fui eu quem começou isso.
Fui eu quem o arrastou para fora do bar.
Fui eu quem abriu a porta do hotel.
Fui eu quem o imobilizou sem pensar duas vezes.
"Olha," eu disse, adotando o tom mais adulto e responsável que consegui reunir, "a noite passada foi um erro. Um erro imprudente, impulsivo, mas... inegavelmente prazeroso."
Tentei não olhar para os ombros dele. Nem para o peito. Nem para as gotas de água escorrendo pela clavícula, traçando o caminho sobre os músculos esculpidos.
"Não vou pedir que você assuma responsabilidade. Não vou te ligar chorando sobre trauma emocional. Não sou esse tipo de garota."
Ele não disse nada.
Não vendo reação, virei-me para a porta — deixa eu fazer uma saída graciosa, completa com um monólogo de encerramento.
Mas assim que minha mão alcançou a maçaneta, uma palma quente e úmida pousou sobre a minha.
Congelei. Virei-me lentamente.
Ele estava me olhando com uma expressão que não consegui identificar — algo entre surpresa e... seriedade.
"Você não se lembra de mim?" ele perguntou suavemente.
Pisquei, confusa. Respondi rapidamente, quase na defensiva: "Claro que sim. Você é meu novo vizinho. Me ajudou a encontrar minhas chaves na outra noite."
Tecnicamente verdade. Totalmente preciso.
O que eu não disse — e nunca diria — era que mesmo sem essas interações triviais, eu me lembrava dele.
Aquele rosto era inesquecível.
Ou, para ser mais precisa, aquele rosto, parado na minha frente usando apenas uma toalha branca, com água escorrendo por aqueles abdominais... é. Não era algo facilmente apagado da memória.
Engoli em seco.
O truque era: não olhar diretamente para ele. Como um eclipse.
Pena que essa estratégia tinha falhado completamente.
Pior ainda, mesmo eu estando totalmente vestida e ele praticamente nu, de alguma forma sob seu olhar, eu me sentia como se fosse a completamente exposta.
Tentei falar — dizer algo, qualquer coisa para desviar a atenção.
Mas ele não perguntou novamente. Apenas ficou ali, me observando, como se esperasse o momento em que minha reação verdadeira finalmente chegaria.
O silêncio se prolongou.
Então ele disse: "Tudo bem. Não importa."
Pisquei. O quê?
"Posso ir agora?" perguntei, minha voz seca. A mão dele ainda não tinha se movido.
Ele olhou para mim novamente e então — sem pressa — disse:
"Quer casar comigo?"
...
QUE PORRA É ESSA?!
"Você não está falando sério." Finalmente encontrei minha voz.
"Estou completamente sério," ele respondeu, como se estivesse anunciando um plano de investimento trimestral. "Acabei de voltar para o país. Meus pais querem que eu me case o mais rápido possível. Aos olhos deles, um homem casado significa estabilidade. E apenas um homem estável pode herdar os negócios da família."
Fiquei em silêncio.
Dois dias atrás, jurei que traria para casa alguém melhor que Rhys.
Alguém impressionante o suficiente para calar a boca dos meus pais.
E agora, o universo tinha entregado uma resposta — só que com uma grossa camada de ironia.
Mas eu sabia.
O casamento não deveria ser assim.
Eu já tinha vivido um noivado sem amor uma vez.
O que ficou para trás foi uma casa cheia de silêncio, intimidade que parecia vazia, e uma erosão lenta e brutal do meu amor-próprio.
Abri a boca para dizer não.
Mas naquele momento, meu telefone tocou.
O toque estridente cortou o silêncio como uma faca.
Olhei para a tela — e senti como se uma bomba tivesse explodido no meu peito.
Caroline Vance.
Minha mãe.
Katherine estava de volta.
Ela deve ter ligado para anunciar o início de alguma coisa.
Olhei para aquele rosto — familiar, mas estranho — depois de volta para meu telefone.
E finalmente, disse as palavras:
"Não posso aceitar."
Saí da suíte do hotel, o toque ainda gritando atrás de mim.
Atendi não porque queria, mas porque precisava — desesperadamente — cortar esse cordão umbilical que continuava me arrastando de volta para o passado.
"Por que você não atendeu o telefone? Estava tentando me dar um derrame?"
A voz da minha mãe veio em rajadas rápidas, como uma metralhadora.
"Pensei que você estivesse morta em uma vala ou sequestrada por algum maníaco! Venha para casa. Agora. Precisamos conversar."
"Já estou a caminho," disse friamente, e desliguei antes que ela pudesse iniciar a segunda rodada.
Dei ao motorista o endereço dos meus pais e desabei no banco traseiro, como alguém se preparando para uma colonoscopia sem anestesia.
Ok. Vamos acabar logo com isso.
Meu vizinho — também conhecido como minha transa de uma noite — provavelmente era louco.
Mas enquanto eu ainda tivesse uma gota de coragem induzida por álcool no meu sangue — enquanto a velha Mira, desesperada por amor, não tivesse voltado e assumido o controle — eu tinha que agir rápido.
Tinha que jogar essa bagunça estilhaçada de volta nos rostinhos perfeitos deles.
A propriedade da família Vance ficava em um enclave suburbano que não recebia bem ninguém que não pudesse pagar por um BMW. Sem paradas de metrô. Sem rotas de ônibus. Apenas um "mantenha-se afastado, pessoas pobres" elegantemente formulado.
No portão de ferro forjado, respirei fundo. Me sentia como uma boxeadora entrando no ringue. Ombros erguidos. Queixo levantado. Armadura emocional travada e carregada.
No momento em que entrei na sala de estar, pude sentir a emboscada.
Meu pai — Franklin Vance — sentado sozinho em sua poltrona de couro, usando a mesma expressão que provavelmente usava para demitir gerentes de fundos de hedge com baixo desempenho.
Ao lado dele, minha mãe, Caroline, com seu cabelo impecável e colar de pérolas perfeitamente alinhado, sorria da maneira que um médico faz ao dizer: "O câncer se espalhou."
À esquerda deles, Rhys sentado no sofá, todo solene e pensativo, como se esperasse que um advogado de divórcio dirigisse sua próxima pose.
E à direita?
Katherine, obviamente.
Só faltava um martelo e um escrivão do tribunal.
Isso era um julgamento.
Eu era a ré.
E o veredicto já havia sido escrito.
Minha mãe atacou primeiro.
"Por que demorou tanto? Te liguei horas atrás."
Ela cruzou os braços, seu tom mais frio que o ar-condicionado.
"Trânsito," menti.
Se eu dissesse que acabara de escapar de um homem de toalha, eles me internariam.
"Então? Por que estou aqui?" Meu tom era afiado, congelado.
Ninguém respondeu.
Não até Rhys se levantar, ainda com o curativo na testa.
A visão dele parecendo vagamente ferido me trouxe um pequeno lampejo de sombria satisfação.
"Você deixou isso na minha casa," ele disse lentamente, segurando algo na mão.
"Seu despertador de urso."
Olhei fixamente para o objeto.
Um relógio eletrônico barato e desgastado em forma de urso de desenho animado, com o rosto de plástico arranhado e desbotado por mais de uma década de uso.
E agora, essa relíquia era o movimento de abertura deles?
A raiva subiu pela minha garganta, mas forcei-a para baixo.
"Obrigada," disse secamente. "Isso é... atencioso."
Agarrei o ridículo relojinho e virei para sair.
Qual é. Ninguém convoca uma reunião familiar completa só para devolver um maldito despertador. Eu sabia melhor. Isso era sobre humilhação. Sobre me colocar no meu lugar.
Eles eram a verdadeira família.
Eu sempre fui a intrusa — convidada apenas quando precisavam de alguém para completar o time.
"Espere," minha mãe disse, sua voz ainda mais fria que antes.
Parei. Não me virei.
Ela cruzou os braços novamente e sorriu — aquele tipo de sorriso apertado e venenoso que você só vê quando um médico diz "Estágio quatro."
"Agora que Katherine está de volta," ela disse, "e já que você e Rhys terminaram, acreditamos que é hora — ele e Katherine devem ficar noivos."
Dei uma risada curta e sem humor. Virei-me lentamente, deixando o sarcasmo escorrer da minha boca.
"À vontade. Planejem o que quiserem. Não é como se vocês já tivessem pedido minha opinião antes."
"Costumávamos pedir," ela disse, a voz ficando afiada, "quando você ainda era a filha sensata. Aquela com potencial."
Ela se aproximou.
"Você é muito emocional, Mira. Sua insegurança te deixou paranóica — acusando Rhys, tentando controlá-lo. Você não confiava nele, e foi isso que destruiu o relacionamento."
Suas palavras eram lâminas.
Leves como penas no tom.
Implacáveis no efeito.
"Então a culpa é sua.
E você vai deixar isso claro para a imprensa.
Diga a eles que você se apaixonou por outra pessoa.
Foi por isso que terminou o noivado."
Congelei.
Algo se rasgou dentro do meu peito — como se eles o tivessem aberto com as próprias mãos.
Olhei para todos eles — meus pais, Rhys, Katherine.
Tão calmos. Tão calculistas.
Como um roteiro que eles ensaiaram por semanas.
O que eu tinha feito para merecer isso?
Onde eu tinha errado tanto?
Eu estava pronta para explodir. Para sair tempestuosamente.
Mas foi então que meu pai finalmente se levantou.
Como um juiz se preparando para ler a sentença.
"Você não precisa se preocupar em encontrar alguém novo," ele disse com absoluta finalidade.
"Já fizemos os arranjos—"