Capítulo 10

O torneio continuava, e as lutas tornavam-se cada vez mais intensas. Os estudantes sem equipe lutavam com uma ferocidade que só aqueles que tinham tudo a provar podiam exibir. Um jovem com o poder do fogo se destacou, suas chamas dançando ao redor do corpo enquanto derrotava seus oponentes. Outro, quase flutuando no ar, mostrava habilidades impressionantes, revelando sua descendência de elementais do vento. Mas, apesar do espetáculo ao redor, os olhos do príncipe regente estavam fixos em Sansara. Ela sentia seu olhar como um peso, como se ele estivesse esperando algo dela.

— Ele não tira os olhos de você — murmurou Kaledus, enquanto se preparava para sua própria luta. — Parece que você é o destaque do torneio.

— Não é um bom tipo de atenção — Sansara respondeu, tentando disfarçar o desconforto.

O nome de Kaledus foi chamado, e a multidão se silenciou por um momento, antes de explodir em murmúrios de antecipação. Seu oponente era um novato sem equipe chamado Emetius, um garoto ágil e esnobe, que carregava uma espada estrangeira fina como uma grande agulha. Ele entrou na arena com um sorriso arrogante, claramente confiante em suas habilidades.

— Boa sorte, Kaledus — Sansara desejou, embora a preocupação em sua voz fosse evidente.

— Não preciso de sorte — ele respondeu com um sorriso, embora soubesse que precisaria de muito mais do que isso.

A luta começou, e Emetius não perdeu tempo. Seus movimentos eram rápidos e precisos, a espada agindo como uma extensão de seu próprio corpo. Kaledus usou sua energia ilimitada para se manter na luta, esquivando-se e bloqueando o máximo que podia, mas os golpes eram difíceis de evitar. Pequenos cortes começaram a aparecer em seus braços e pernas, o sangue manchando a areia da arena.

— Parece que o garoto não é tão ruim assim — comentou Hakui, observando a luta.

— Ele está se divertindo — Sansara respondeu, os olhos fixos em Kaledus. — Mas Kaledus não é do tipo que desiste.

A luta se arrastava, cada movimento de Emetius era elegante e eficaz, enquanto Kaledus permanecia firme, mesmo com os ferimentos acumulando. A energia ilimitada de Kaledus permitia que ele continuasse lutando sem se cansar, mas o sangue perdido estava cobrando seu preço.

Com um golpe rápido, Emetius cortou a lateral de Kaledus, e ele caiu de joelhos, o sangue escorrendo pela pele chocolate, tingindo a areia de vermelho.

— É o fim! — declarou Emetius, erguendo os braços para o público, que começou a aplaudi-lo. — Vejam, ele não pode mais lutar!

Mas naquele momento de arrogância, Emetius cometeu o maior erro. Kaledus, recobrando a consciência, lembrou-se das lições do professor Ralvor: A luta nunca termina até que você desista. Com uma explosão de energia, ele saltou nas costas de Emetius, prendendo-o em um mata-leão.

Emetius tentou se soltar, mas a falta de técnica o fez entrar em pânico. Sem alternativa e sentindo a pressão aumentar, ele parou de lutar, aceitando seu destino. Kaledus apertou o golpe com força, e logo Emetius desmaiou em seus braços.

O juiz correu para a arena e declarou Kaledus o vencedor, enquanto o corpo inerte de Emetius foi cuidadosamente retirado da arena. A multidão irrompeu em aplausos e gritos, impressionada com a determinação e a força de Kaledus.

— Isso foi por pouco — Kaledus murmurou para si mesmo, sentindo o mundo girar ao seu redor.

Sansara correu até ele, os olhos cheios de preocupação. — Você está bem? — ela perguntou, passando um braço ao redor dele para apoiá-lo.

Kaledus tentou sorrir, mas a dor era evidente. — Já estive melhor — ele respondeu, sua voz enfraquecida. — Mas não se preocupe, eu não sou tão fácil de derrubar.

— Você foi incrível — ela sussurrou, o alívio evidente em sua voz.

Hakui observava à distância, seus olhos brilhando como duas ametistas fixos em seus companheiros de equipe. Ele se surpreendeu ao saber que ficou feliz por Kaledus, que ele tanto desprezara, havia ganhado. 

Enquanto observava Sansara cuidando de Kaledus, Hakui sentiu o peso de suas próprias dúvidas. Ela é uma descendente do inimigo, ele pensava, o conflito queimando em seu peito. Seu pai havia morrido lutando para proteger o reino, dedicando sua vida a combater aqueles que ameaçavam a paz. O que ele pensaria se soubesse que seu filho estava agora protegendo alguém que carregava o sangue daqueles que ele havia jurado destruir? 

Essa dúvida o atormentava, a sensação de traição e lealdade se misturando de forma dolorosa. Mas, ao mesmo tempo, Hakui sabia que Sansara não era responsável pelas ações de seus ancestrais. Ela era sua companheira de equipe, e ele já havia visto seu sacrifício e coragem. Mas será que isso é suficiente para apagar o passado?