A perda de poder

Ontem à noite no restaurante

Brandon Carter sentou-se em frente a Jean, sua expressão presunçosa, como se já tivesse vencido. Ele se inclinou para frente, apoiando os cotovelos na mesa, e deu a ela um sorriso condescendente.

"Você não precisa pensar muito sobre isso, Jean. Uma mulher como você precisa de um homem como eu," ele disse suavemente. "Sua mãe entende isso, por isso ela organizou este jantar. Você deveria ser grata por ela estar cuidando dos seus melhores interesses."

Jean levantou sua taça de vinho, girando o líquido lentamente antes de dar um gole deliberado. Ela já havia decidido como esta noite terminaria, mas deixou-o falar... nem que fosse para se divertir.

"Você espera que eu seja grata?" ela repetiu, colocando a taça de volta com um suave tilintar.

Brandon sorriu com desdém, ajustando os punhos de seu terno de grife. "Claro. Tenho riqueza, influência e o poder de lhe dar uma vida de conforto. Você só precisa entender seu papel. Minha esposa vai me respeitar, me apoiar e seguir minha liderança sem... opiniões desnecessárias."

Jean exalou lentamente, olhando para ele por um momento. Então, com calma precisão, colocou o guardanapo ao lado do prato e se levantou.

Brandon piscou, pego de surpresa. "Aonde você vai?"

Jean pegou sua bolsa de mão e ajeitou o vestido. "Para qualquer lugar menos aqui."

A expressão de Brandon endureceu. "Jean, sente-se."

Ela virou as costas para ele, já se afastando. "Eu não recebo ordens, Brandon."

Ele fez menção de se levantar, mas o som agudo dos saltos dela contra o piso de mármore abafou qualquer tentativa patética que ele tinha de salvar seu orgulho. Ela não olhou para trás... nem uma vez.

Enquanto caminhava passando pelas outras mesas, sentiu o peso de um olhar por demais familiar sobre ela. Sabia exatamente quem estava observando.

Logan Kingsley.

Jean não o reconheceu. Não precisava.

Ela havia dito tudo o que precisava dizer... com suas ações.

No dia seguinte

O ar opressivo na sala de jantar estava carregado de tensão.

Jean podia senti-lo no momento em que entrou. O silêncio pesado, o tilintar dos talheres contra a porcelana fina, os olhares afiados perfurando sua pele, tudo era muito familiar. No entanto, esta manhã parecia diferente. Parecia pior.

Sua mãe, Darla Adams, sentada à cabeceira da mesa, perfeitamente composta, exceto pelo aperto firme em sua xícara de chá. Jean já tinha visto esse olhar antes, a calma sinistra antes de uma tempestade violenta.

"Sua menina ingrata," Darla cuspiu, sua voz cortando o silêncio como um chicote. "Você tem noção do que fez?"

Jean não respondeu. Simplesmente puxou sua cadeira, sentando-se como se o mundo não estivesse prestes a desabar ao seu redor.

Seu pai, Derek Adams, dobrou o jornal com lentidão deliberada e o colocou de lado. Ele nem sequer olhou para ela ao falar. "Brandon Carter me ligou esta manhã."

O estômago de Jean se contorceu.

"Sabe o que ele disse?" sua mãe continuou, sua voz se elevando. "Ele disse que você o rejeitou... o humilhou."

Jean soltou um suspiro lento, mantendo sua expressão ilegível. "Eu não o humilhei. Simplesmente disse a ele que não estava interessada."

Um som agudo ecoou na sala... sua mãe batendo a xícara no pires. "E o que exatamente faz você pensar que tem o luxo de recusar?"

Seu irmão mais velho, Alex, que estava silenciosamente rolando a tela do celular, finalmente falou. "Honestamente, Jean, você pensa antes de agir?" Seu tom estava carregado de irritação. "Brandon Carter é um dos empresários mais influentes da cidade. Aliar-se a ele teria sido benéfico."

Jean cerrou os punhos sob a mesa. "Benéfico para quem?"

"Para a família, obviamente," Alex zombou, como se a pergunta dela fosse absurda.

Derek suspirou, esfregando as têmporas. "Você tem vinte e sete anos, Jean. Por quanto tempo pretende manter esse comportamento infantil?"

Jean engoliu a resposta afiada que queimava em sua língua. Ela sabia como essa conversa iria seguir. Não importava o que dissesse, nunca seria o suficiente.

Os olhos de sua mãe perfuravam-na, cheios de fria decepção. "Fizemos tudo por você, e é assim que você nos retribui?"

Jean sustentou seu olhar, recusando-se a desviar. "Tudo por mim? Ou tudo pela imagem da família Adams?"

O rosto de Darla se contorceu em fúria. "Não comece com suas bobagens!"

O silêncio se estendeu entre eles, pesado e sufocante.

Jean havia arruinado outro encontro. E aos olhos deles, ela os havia arruinado.

Novamente.

Jean sentiu seu peito apertar enquanto o peso das palavras deles recaía sobre ela. Era sempre o mesmo, a decepção de sua mãe, a indiferença de seu pai e o tom condescendente de Alex. Mas hoje, algo dentro dela se quebrou.

Antes que sua mãe pudesse lançar outro insulto, a cadeira de Jean raspou contra o chão quando ela se levantou abruptamente. "Chega."

Os lábios de Darla se abriram em choque, mas Jean não lhe deu chance de falar.

"Vocês continuam me tratando como se eu não fosse nada além de um peão para o ganho desta família." Sua voz estava calma, mas suas mãos tremiam ao lado do corpo. "Vocês falam sobre lealdade e dever, mas querem ouvir sobre traição?"

O ar mudou.

O coração de Jean batia forte enquanto ela deixava seu olhar percorrer os rostos de sua suposta família. Seu pai enrijeceu, apertando a xícara de café. Alex parou de rolar a tela do celular, seus olhos se estreitando. E sua mãe, a sempre composta Darla Adams... ficou anormalmente imóvel.

Ah, eles sabiam para onde isso estava indo.

Jean deu um passo à frente, sua voz perigosamente baixa. "Vocês realmente querem que eu lembre da única coisa que vocês passaram a vida inteira escondendo?"

As unhas de Darla cravaram na toalha de mesa, sua respiração agora irregular. "Jean." Era um aviso. Uma súplica.

Jean soltou uma risada sem humor. "Ah, então agora você quer que eu fique quieta?" Ela inclinou a cabeça, um sorriso frio brincando em seus lábios. "Eu me pergunto o que aconteceria se eu parasse de proteger seu precioso segredo. Se eu deixasse o mundo ver a verdade por trás da imagem perfeita da família Adams."

O maxilar de seu pai se contraiu. Alex olhou entre eles, com suspeita brilhando em seus olhos.

Jean nunca havia falado sobre isso antes. Nunca ousou. Mas agora, depois de anos sendo sufocada, depois de ser culpada, julgada e controlada, ela estava farta.

O medo nos olhos de sua mãe foi a mais doce satisfação que Jean já sentiu.

"Tente me controlar novamente," Jean murmurou, voz afiada como vidro. "E eu vou arruinar vocês."

A sala estava em silêncio. Ninguém ousou se mover.

Pela primeira vez na vida, Jean viu algo que nunca pensou que testemunharia... sua mãe parecia impotente.

Ela girou nos calcanhares, afastando-se do peso sufocante da presença deles. "O café da manhã acabou," ela murmurou, saindo da sala sem um único olhar para trás.

Ela havia vencido esta rodada. Mas sabia que isso era apenas o começo.

Dirigindo para seu escritório, Jean de repente se sentiu desconfortável. Seu estômago roncou de fome e foi então que ela percebeu que não tinha conseguido comer nem um bocado hoje. Felizmente, ela encontrou uma cafeteria aconchegante e sem perder tempo saiu do carro.

Os saltos de Jean estalaram contra a calçada enquanto ela saía do carro, seu estômago se contorcendo... não de nervosismo, mas de fome. Ela não havia tocado em um único bocado no café da manhã. Não que pudesse, com as acusações estridentes de sua mãe ainda ecoando em seus ouvidos.

Ingrata. Irresponsável. Vergonha.

As palavras se repetiam em sua cabeça, mas ela as afastou. Tinha problemas maiores, como a forma como seu estômago roncou novamente, exigindo atenção.

Avistando este café aconchegante na esquina, ela se sentiu sortuda, mas apenas para gemer internamente com a longa fila que se estendia até o balcão. Claro, ela pensou. Só podia ser minha sorte.

Sem outra opção, ela entrou na fila, cruzando os braços enquanto esperava. Ela já podia sentir o gosto do café, esperando que a cafeína fosse suficiente para lhe dar energia durante o dia.

E então...

Uma presença.

Aquela presença irritante e por demais familiar.

Antes mesmo de se virar, ela já sabia.

"Que coincidência te ver aqui, princesa."

Jean fechou os olhos brevemente, inspirando profundamente antes de encarar a fonte de sua miséria.

Logan Kingsley.

Sorrindo com desdém. Provocando. Parecendo muito mais divertido do que ela gostaria.

Ela exalou pelo nariz, recusando-se a deixá-lo entrar debaixo de sua pele. "Não me chame assim."

Seu sorriso apenas se aprofundou. "Você parece mal-humorada esta manhã. O que aconteceu? Encontro ruim?"

Jean cerrou o maxilar. Não vou matá-lo em público. Não vou matá-lo em público.

"Você não deveria estar aterrorizando outra pessoa?" ela murmurou, virando-se para frente novamente, desejando que a fila andasse mais rápido.

Logan se inclinou ligeiramente, voz baixa e gotejando diversão. "Mas ver você sofrer é muito mais divertido."

Jean rangeu os dentes. Café primeiro. Assassinato depois.