Com a mente bagunçada e confusa, me levantei rapidamente e olhei os corpos dos homens no chão, os corpos totalmente sem vida. A poça de sangue se expande lentamente a cada segundo que passa.
– Puta merda… – coloquei as mãos na cabeça e me virei para a parede – Você matou… duas pessoas…
Mia se levanta e puxa meu ombro, me obrigando a ficar de frente para ela. Seus olhos lilases expressam seriedade e instinto de sobrevivência.
– Aqui não existem leis, e não tínhamos o que fazer. – ela deu uma pausa dramática para cruzar os braços – Além disso, você não ajudou nem um pouco, por sua causa quase morremos.
– Eu não sou o tipo de pessoa que apela pra violência…
Mia abriu a boca para responder, porém ela se interrompe e apenas sai de perto, indo até os cadáveres.
– O que vai fazer? – perguntei, desconfiado.
– Pegar minha mochila – Ela respondeu secamente.
Abaixei os braços e saí da sala cinzenta, indo até o canto da parede do lado de fora pegar minha garrafa de água de amêndoas de volta. Dei alguns goles na garrafa, o líquido suavemente doce desce pela minha garganta com leveza.
Senti um pouco das forças se recuperarem, mas minha cabeça ainda dói…
Mia passa direto por trás de mim, sem falar uma palavra sequer, a mochila militar balançando a cada passo dado. Talvez ela esteja irritada por eu ter sido um completo inútil, como sempre fui durante minha vida toda…
– Mia – a chamei num tom amigável e de culpa – Tá irritada comigo?
Mia para em frente à escadaria e não se vira em minha direção imediatamente, sua expressão é de irritação, dá pra ver isso em seus olhos afiados.
– Não, claro que não… – disse ela, num tom irônico – a gente só quase morreu por sua incompetência!
Mia esfregou as têmporas com os dedos e colocou a mão na cintura, logo em seguida soltando um suspiro frustrado. Ela cruza os braços e olha para mim novamente, dessa vez com menos irritação.
– Desculpe… esse lugar não é fácil de viver, mas é preciso que façamos escolhas difíceis, não pode ficar com medo pra sempre.
– Sim, entendo – assenti, me aproximando dela com passos de gato – É que… eu não machuco as pessoas, não intencionalmente, claro.
– Olha, esquece isso, tem um lugar que precisamos passar.
Ela pegou a garrafa da minha mão e deu uns goles, depois a guardou na lateral da mochila. Mia toma a frente mais uma vez, então a sigo sem ponderar.
“Será que tomei a escolha certa? Merda…”
Passamos pelo forte do comerciante mais uma vez, vendo o mesmo cenário comercial anteriormente. Dou um longo passo para igualar a distância com Mia.
– Devo admitir… aqueles golpes de karatê foram foda demais! – falo com entusiasmo.
– Não era karatê, era taekwondo. – disse secamente, olhando para frente.
– Ah… bom, tanto faz, fiquei impressionado.
Mia não responde e apenas mantém sua expressão rígida. Chegamos em um estabelecimento chamado “Lanchonete do Tom”. O lugar é simples, tem algumas mesas e cadeiras de madeira, um balcão com alguns bancos para se sentar e guardanapos em potes de plástico transparente.
O cheiro aqui é uma mistura de tempero e óleo usado, o vapor saindo da cozinha invadindo o pequeno salão. Mia, sem perder tempo, encosta no balcão, descansando o braço esquerdo em cima dele.
– Senhor Tom, vou querer uma porção de macarrão ao molho branco – gritou ela com firmeza.
Da cozinha, surge um senhor de meia idade, cabelos brancos e lisos, olhos pretos como a própria sombra, a pele um pouco enrugada pela idade considerada e um corpo magro. Ele está vestindo um avental preto e um par de luvas pretas nas mãos.
– Olá, Senhorita Mia. – sua voz grave ecoa pelo salão – O molho branco tá quase pronto, só espere mais um pouco.
Aparentemente ele é o dono do restaurante, e ele também parece ser uma boa pessoa, principalmente num lugar estranho como esse…
Tom desvia sua atenção para minha pessoa, dando um sorriso gentil.
– O que temos aqui? Um novo andarilho?
“‘Andarilho’?” – pensei e fiz uma expressão de surpresa.
Mia percebeu minha pequena confusão e deu um riso irônico.
– As pessoas que caem aqui são chamadas de andarilhos, se acostume com essa palavra por aí.
– Ah… – assenti com a cabeça.
– Arranjou uma equipe, Mia? – perguntou Tom, encostando os braços no balcão.
– No momento somos só eu e ele… – Disse ela, com uma ponta de frustração na voz.
Tom deu uma risada seca enquanto limpava alguns copos com um pano branco.
– Então tenho uma ótima notícia para os senhores – ele apontou para trás de nós – Aquela garota está à procura de uma equipe.
Eu e Mia nos viramos para trás. Em uma mesa lá no canto da parede, uma garota de cabelos ruivos e um vestido camponês verde está comendo um prato de sobremesa. Sua expressão é desconhecida, visto que seu chapéu de palha camponês está tampando uma parte de seu rosto enquanto come.
Mia olha para mim e coloca a mão em meu ombro com firmeza.
– Fique aqui e converse um pouco com Tom, pode pedir algo para comer também. – Mia se afasta e parte na direção da garota, sem esperar uma resposta.
Antes que eu diga ou faça algo, Tom chama minha atenção.
– Ei, rapaz, imagino que você esteja perdido. Posso te explicar um pouco das coisas que sei – ele deu um sorriso acolhedor.
– Eu ficaria grato por isso, Senhor Tom.
– Bom… para começar, existem vários níveis nesse mundo, você provavelmente deve ter visto.
Cruzei os braços e inclinei a cabeça levemente pro lado. Tom deu uma risada, pegando outro copo e o limpando.
– Desculpe, comecei direto demais. Pense assim: um lugar com várias passagens que te leva para outros lugares com diferentes áreas.
– Agora sim eu entendi. – Estalei os dedos e dei um sorriso confiante.
– Cada nível tem sua classificação, dá uma olhada ali – Tom apontou com o polegar na parede ao lado.
Virei o rosto na direção que ele apontou, há um papel colado na parede. Me aproximei para ver melhor e vi um tipo de aviso, então li mentalmente o que está escrito.
“Nível 1 - Zona Habitável
Dificuldade de sobrevivência: 1
Seguro
Protegido
Contagem mínima de entidades”
– O que é essa águia? – apontei no símbolo de uma águia de asas abertas no papel.
– É o símbolo do MEG, o maior e mais respeitado grupo daqui. Eles são responsáveis por explorar os níveis, buscar recursos e ajudar os andarilhos. Eles também são responsáveis por classificar cada área, para evitar que andarilhos se ferrem nas viagens.
Tom deu uma pausa e foi até a cozinha, fazendo alguns barulhos de panelas e de comida sendo frita, o som leve de chiado saindo da cozinha.
– Vai querer algo para comer? – disse ele, de dentro da cozinha – preparei um peito de frango grelhado ao azeite com batatas cozidas e fritas na manteiga.
– Caramba… – me surpreendo pela opção de prato sofisticado – claro, tô aceitando.
Me virei para trás para ver o que Mia está fazendo, e então a vejo sentada ao lado da garota, falando algo que não consigo captar. Pelo o que percebo, está dando certo, a garota está assentindo tudo o que Mia diz.
Ouço um som de prato sendo colocado no balcão, então me virei e vi Tom empurrando cuidadosamente o prato que eu vou comer. O frango grelhado no ponto perfeito, um pequeno ramo de alecrim ao lado e batatas douradas cortadas em cubos meladas com manteiga. Fico maravilhado com a visão que estou tendo.
– Pode comer, é por conta da casa. – disse Tom, sorrindo para mim e carregando o prato de Mia até a mesa.
– Obrigado, Senhor Tom! – falei com animação.
Logo me sentei no banco e peguei os talheres. Perfurei o frango com o garfo, o talher espetando pela crosta, logo depois penetrando a carne macia sem muito esforço, o azeite ainda presente na superfície do frango reluz. Cortei um pedaço com a faca, que cortou precisamente.
Retirei o pedaço de frango e o levei até a boca com o garfo. Simplesmente… incrível. O sabor suave e temperado do frango ilumina minha alma.
– Caralho, que comida deliciosa! – pensei por alto, os olhos admirados.
Experimentei a batata, ponto de cozimento perfeito. Consistente por fora, macio por dentro. O sabor amanteigado se manifesta em minha boca.
– Parece que você gostou mesmo da comida, garçonzinho. – disse Mia atrás de mim, enrolando os fios de macarrão no garfo.
Me virei, ainda sentindo o gosto das batatas e do azeite dançando em minha boca.
– Essa foi a melhor comida que comi desde o Ano Novo. – olhei para minha própria roupa – e eu ainda vou procurar novas roupas pra mim…
A garota ruiva ri suavemente, colocando a mão na frente dos lábios. Com uma ideia em mente, pego meu prato e vou até a mesa que elas estão sentadas. Quando me sentei em frente à garota, ela me encarou por uns segundos, logo depois desviando seus olhos cianos para Mia.
– Ele é seu namorado, Mia? – disse ela, a voz doce e inocente saindo de sua pessoa.
Mia quase se engasga com o macarrão, terminando de mastigar e engolir o alimento.
– Não… ele é apenas um colega da equipe. – Disse ela num tom meio constrangido.
Dei uma pequena risada pela situação colocada pela garota, achando muita graça da reação de Mia. Coloquei um pedaço de frango na boca e olhei para a ruiva com um semblante amigável no rosto.
– Me chamo Ethan Clark. E a senhorita é?
– Kiara Murphy, sou da Irlanda. É um prazer em te conhecer – disse ela com um lindo sorriso – e você? De onde é?
– Calgary, uma cidade no Canadá. – retribuo o sorriso.
Analisei seu rosto rapidamente, percebendo suas feições joviais.
– Você é bem nova, né? – perguntei, com curiosidade.
– Eu fiz 17 anos semana passada, e você, Ethan? – sua expressão leve e alegre enche meu coração.
Com um sorriso confiante, apoio a bochecha na palma da mão.
– Chuta.
Kiara analisa meu rosto durante um tempo…
– 25?
– Na trave. 24.
Mia, que estava comendo silenciosamente até agora, interfere na conversa com um sorriso curioso lançado à mim.
– 24? Eu achava que tinha uns 22 fácil.
– Eu sei que sou lindo, pode chamar, eu deixo. – fechei os olhos e ergui o queixo com confiança.
Mia me encara com as sobrancelhas franzidas, provavelmente querendo me dar um tiro pela minha audácia.
– Eu nunca disse isso…
– Eu sei, heh – dei uma risada irônica, depois fiquei mais sério – Mia, você era do exército mesmo ou é só fantasia?
Mia faz continência com um sorriso sarcástico.
– Subtenente Mia se apresentando, senhor! – ela disse em voz alta e firme.
Kiara apenas ri com a mão na boca enquanto ouve a conversa entre eu e Mia, se divertindo com as pérolas. Nos acalmamos e nossos rostos suavizam.
– Bom… – retomou Mia – Pedi ao Tom uma rota segura para o lugar mais seguro que ele achasse. Está na minha mochila.
Ela abriu a mochila e tirou dela um papel com algumas escritas. A caligrafia delicada e suave remete a uma mulher que escreveu, possivelmente a própria Mia.
– Devemos seguir pelo nível 2 andando pelo nível 1 e achar uma porta para entrar no nível 4, mas tem uma chance de ir para o nível 3 – Ela disse isso apontando para cada palavra que citava.
– Com licença – interrompi brevemente – por que pular o nível 3? Não faria mais sentido seguir a contagem? E como assim “andando pelo nível 1”? E quanto àquela coisa que tentou me caçar?
– Não necessariamente, Ethan. – Seus olhos afiados passam por mim e depois voltam ao papel – existem infinidades de níveis, mais do que podemos citar ou explorar.
Mia deu uma pausa antes de responder a outra pergunta.
– Quanto ao caminho, andar em grupos afasta entidades desse nível, foi o que um grupo me disse quando vim aqui.
Quando Mia ia prosseguir com a fala, Kiara fala meigamente.
– Como vamos sair daqui? – Disse Kiara, com preocupação no rosto.
– Daremos um jeito. – assenti com a cabeça e dei um sorriso tranquilo.
– E quanto aos bichos
Mia limpa a garganta e continua com o roteiro planejado, como uma general.
– Tom recomendou que é melhor entrar na equipe do MEG ou do BNTG, mas… sinceramente, eu não confio nas pessoas daqui.
Kiara e eu nos olhamos antes de balançar a cabeça em confirmação.
– No nível 4, há muitos recursos importantes e essenciais. – ela prosseguiu – Devemos tomar cuidado, pois não tem regras aqui e tem muitos andarilhos no nível 4.
– E depois do nível 4? – Kiara perguntou com a voz rouca.
– Tom disse que o nível 5 é uma boa, mas vamos precisar da ajuda do MEG para saber a entrada do nível que queremos, porque os níveis 3, 4 e 5 estão ligados entre escadas e elevadores…
Cruzei os braços e olhei fixamente para o papel com os desenhos que Mia esboçou, colocando a mão na boca, pensativo.
– Como o Tom soube de tudo isso? – olhei com desconfiança para Mia.
– De acordo com ele, alguns andarilhos voltam para o nível 1 e contam para ele os caminhos – Mia encostou as costas na cadeira, suspirando – não temos muito o que fazer a não ser confiar em Tom.
– E depois do nível 5? – Kiara questiona com olhos curiosos.
– Tom pediu para que pedisse ajuda ao MEG após isso… – Mia distancia o olhar de nós.
O silêncio domina a mesa, o único som sendo de Tom na cozinha preparando pratos. Tomo a iniciativa para um novo assunto.
– E quanto ao revólver? Você tá com ele né, Mia?
Mia rolou seus olhos lilases para mim, me observando com harmonia.
– Sim, é mais seguro ele ficar comigo, já que domino melhor do que certas pessoas… – seu olhar se tornou de harmônico para seriedade em instantes.
– Já pedi desculpas… – dei um sorriso de vergonha ao desviar o olhar.
Kiara está tão perdida quanto cego em tiroteio, tentando decifrar o que estamos falando com seu entendimento raso da situação, mudando seu olhar de Mia para mim.
– Que foi, Kiara? – perguntei com o olhar nervoso.
– Vocês são bipolares, só isso.
– Impossível não ser – Mia entra no meio da conversa – num lugar desses não podemos baixar a guarda.
Me levantei, o calor da sobrevivência erguendo minha confiança.
– O que estamos esperando? Vamos em frente!
Mia e Kiara se entreolharam, logo em seguida se levantando também, um pouco mais confiantes. Tom surgiu no balcão, nos observando de longe.
– Essa é por conta da casa, pessoal. – disse ele com um sorriso gentil no rosto.
O agradecemos retribuindo o sorriso. Saímos do local e seguimos Mia até uma porta branca em outro canto.
– Aqui é um caminho para sair da base do BNTG, Tom recomendou seguir por ele.
Eu e a dupla feminina partimos pelo nível 1, meio apreensivos ainda. Durante a jornada, caixas apareceram, e dentro delas só tinham mechas de cabelos, moedas velhas, camundongos mortos e algumas pilhas, que Mia pegou para recarregar a lantera.
Enquanto Mia trocava as pilhas velhas da lanterna, peguei o celular do bolso. Sem sinal.
– Você tinha um celular esse tempo todo!? – o grito surpreso de Mia ecoou pelo grande espaço.
Eu e Kiara nos assustamos, olhando para ela assustados.
– Tenho, mas precisava mesmo gritar?
– Se você tivesse falado antes, podíamos ter trocado seu celular por munição e arma na base do BNTG… – ela resmungou, chocada com esse fato.
– Eu ia adivinhar? – coloquei a mão na cintura e a encarei com deboche.
Ela apenas desiste de chorar pelo leite derramado e faz sinal para continuar andando.
[...]
Depois de quase uma hora andando pelo armazém subterrâneo, o silêncio entre nós pairando, alguns canos colados nas paredes começam a ficar cada vez mais frequentes, o nível amplo e aberto de antes vai se tornando mais estreito ao avançar.
Finalmente, nos vemos em um túnel de manutenção, vários canos passando pelas paredes e algumas ventilações no chão. Kiara puxa a camisa grossa de Mia gentilmente, chamando sua atenção.
– Esse é o nível 2?
– Aparentemente sim… – Mia olhou ao redor ao falar.
– Aqui fede mofo – reclamei abanando a mão perto do nariz – e também esse cheiro de metal é horrível…
Mia tirou a camisa de manga longa, revelando uma camisa branca mais refrescante. Ela amarrou o uniforme na cintura, verificando se está firme para não cair.
– Aqui também é mais quente que os outros níveis… – disse ela, limpando o suor da testa e ligando a lanterna.
O som dos nossos passos ecoa pelo túnel estreito e pouco iluminado por lâmpadas incandescentes, que piscam constantemente.
Kiara se vira do nada para trás, fazendo com que eu me vire também e… não tem nada, apenas o túnel escuro no qual acabamos de passar.
– Por que se virou do nada, Kiara? Quer me assustar?
Mia se virou para trás ao ouvir minha frase, ficando confusa ao ver Kiara espantada e encolhida.
– Eu ouvi alguém falando comigo atrás de nós… – Kiara disse em um tom de espanto.
– Kiara – Mia se aproximou dela e colocou a mão em suas costas – deve ter sido só impressão, tudo bem?
Enquanto olhava para elas duas, atrás de Mia, um vulto passou a luz fraca da lâmpada. Fiz uma expressão de estranheza e apontei para onde vi o vulto.
– Mia, eu vi algo ali na frente.
Mia lançou a luz da lanterna no canto escuro. Nada. Somente o piso de concreto marrom escuro e as paredes cheias de canos.
– Acho que esse lugar meche com as nossas mentes… – comentou Kiara.
– Vamos logo atrás dessas portas e sair daqui. – Falei com um pouco de medo na voz.
Meu coração acelera só de imaginar que vou passar por aquilo de novo… pelo menos não estou sozinho nessa.
Continuamos o caminho, dando passos mais apressados enquanto Mia clareia as partes do túnel onde é pouco iluminado. Algumas ventilações no chão soltam uma espécie de líquido preto espesso, em que passamos por cima.
Um sussurro é ouvido atrás de nós, nos fazendo virar rapidamente e avistar uma garotinha de cabelo preto e longo, com roupas brancas rasgadas. Seu rosto é inexistente, somente um borrão em sua face.
Ela corre na nossa direção, e, então todos corremos para frente.
– Merda! – gritei enquanto corria.
Eu e minha equipe corremos pelos túneis com medo e apreensão, a criança com o rosto borrado continua nos perseguindo, ofegando como um animal selvagem.
– O que eu fiz pra merecer isso!? – resmunguei comigo mesmo.
– Para de gritar e corre! – Kiara e Mia gritaram de volta em uníssono.