05: O Templo Destruído

Algumas horas antes...

Jian acordou cedo, como sempre. A manhã na Vila dos Pedregulhos começava silenciosa, com o som da água nas tigelas e o farfalhar do vento entre as casas de pedra. Ele lavava pratos atrás da estalagem quando ouviu um grito conhecido.

"Ei, garoto! Venha aqui!" — chamou Mei Chun, com o avental coberto de farinha.

Jian se aproximou, secando as mãos na calça.

"O chefe da vila está procurando alguém pra limpar o templo antigo por dentro. E adivinha? Você é a pessoa perfeita pra isso" — disse ela, sem cerimônia.

"Limpar o templo? Mas... pra quê?" — perguntou Jian, confuso.

"Ele não disse. E também não importa. Só vá e faça direito" — respondeu Mei Chun, já se virando.

"Sim, senhora..." — murmurou Jian.

Sem reclamar, ele reuniu um balde com água e sabão, um pano velho e uma escova de cerdas duras. Caminhou até o templo onde estivera dias atrás, quando buscava silêncio. Agora, voltava com um propósito.

Ao empurrar as portas do templo, tomou um leve susto. O interior estava quase irreconhecível. Musgo cobria as paredes, raízes rompiam o chão de pedra, e uma névoa leve parecia dançar entre os vitrais rachados. No fundo, havia um altar gasto pelo tempo — e acima dele, algo escrito em runas antigas, quase apagadas.

Ele não conseguia ler.

Decidido, Jian começou a limpeza. Passou a manhã inteira arrancando plantas, esfregando pedras, tentando devolver alguma dignidade ao lugar. Quando o cansaço pesou, parou sob a luz fraca de uma claraboia quebrada, sentou-se e comeu um pedaço de pão duro com um pouco de água.

Foi então que escutou passos.

O chefe da vila apareceu à entrada, com as mãos para trás e um semblante grave.

"Então é você que está limpando o templo" — disse ele, observando o interior.

Jian apenas assentiu com a cabeça.

"Imagino que esteja se perguntando por quê."

Silêncio.

"Este templo era dedicado a uma deusa antiga... — continuou o chefe, olhando para o altar. — Uma deusa de bênçãos e proteção. Seu nome... hoje quase ninguém ousa pronunciar. Era venerada aqui, antes da guerra."

Ele suspirou.

"Um dia, homens do Reino Celadon vieram com promessas de ajuda. Mentiram. Tomaram tudo. Profanaram o templo. Decapitaram a estátua da deusa. Só restou esse altar" — disse, apontando. "Nunca explicaram por quê."

Jian escutava com atenção.

"Desde então, evitamos este lugar. Mas... ultimamente, tenho sentido que algo está voltando. Por isso decidi limpar. Talvez seja só superstição. Ou talvez... seja respeito."

O chefe virou-se.

"Continue. Voltarei ao fim do dia para ver como ficou."

Jian o observou partir. Depois, terminou o pão, respirou fundo e voltou ao trabalho.

Quando o sol já começava a se esconder, Jian esfregava os últimos cantos do altar. O templo, embora ainda marcado pelo tempo, agora parecia outro lugar.

Foi quando escutou passos outra vez. Suaves. Conhecidos.

"Então é aqui que você estava" — disse Lin, aparecendo com um sorriso cansado.

"Só limpando..." — respondeu Jian, ainda ofegante.

"Você fez um ótimo trabalho" — disse ela, surpresa.

Ela desembrulhou um pano e revelou dois bolinhos de arroz.

"Trouxe pra você. Aposto que está morrendo de fome."

"Obrigado... mas você não precisava."

"Cala a boca e pega" — disse ela, estendendo os bolinhos.

Jian sorriu, aceitando.

Comendo devagar, ele olhou ao redor. O templo parecia respirar de novo.

"Lin... eu estava pensando. Acho que está na hora de ir embora. Seguir meu caminho."

Ela ficou em silêncio, pensativa.

"Há um reino a dois dias de viagem daqui. Conheço um comerciante que pode te levar até lá. É confiável."

Jian a olhou, surpreso.

"Você realmente me ajudaria?"

"É claro que sim. Encontre-me amanhã bem cedo, em frente à estalagem."

Naquele momento, o chefe da vila retornou.

"Vejo que estão aqui" — disse, entrando. — "O templo... ficou ótimo. Bom trabalho."

"Obrigado, senhor"— disse Jian, erguendo-se.

"Pode ir. Seu trabalho aqui terminou."

E assim, Jian e Lin voltaram juntos para a vila, enquanto as estrelas começavam a surgir no céu.

Na penumbra do templo, o altar silencioso parecia pulsar.

Como se esperasse.